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'Lógica Tinder' define as relações na atualidade, dizem especialistas

Do UOL, em São Paulo

17/04/2020 13h49

A psicanalista Maria Homem acredita que as relações sociais estão muito superficiais atualmente. Essa foi uma de suas contribuições para o UOL Debate de hoje.

Maria definiu esse fenômeno como uma frenética "lógica de Tinder". "A gente se joga e faz milhares de conexões. A gente faz relação real, positivada, com pessoas que a gente conhece, real e virtualmente, mas antirrelação, negativa, de ataque ao outro. A gente se relaciona o tempo inteiro com um monte de gente que serve só como receptáculo projetivo de tudo o que você não é e não gosta" (a partir de 22min07seg no vídeo).

Ela lembrou que "Freud usa o conceito do desamparo. É o desamparo estrutural, diz de uma não completude do humano" disse. "Lida com a nossa vulnerabilidade. E é muito difícil da gente se tranquilizar quanto a isso, mas por outro lado, é facílimo" (a partir de 20min35seg no vídeo).

O pastor Henrique Vieira, por sua vez defendeu o ponto positivo da solidão. "Uma determinada solidão me parece saudável", afirmou o teólogo (a partir de 18min47seg no vídeo).

Henrique Vieira ainda destacou que mesmo no meio da quarentena, as pessoas precisam aprender a lidar com os sentimentos. "De alguma forma, nossa comunhão muitas vezes é sufocante. É cheia de tantas imediações, de pessoas que buscam o desamparo para a própria vida. Tem um determinado isolamento que me parece nos tornar maduros para o relacionamento humano. Ninguém vai salvar a solidão do outro", garantiu (a partir de 18min30seg no vídeo).

Por isso, é importante olhar para si. "Quando a gente consegue acolher com integridade a nossa própria lágrima, a gente consegue aproveitar a vida com mais abertura. Ninguém salva ninguém. É melhor reconhecer a fragilidade para partir para a conectividade com mais maturidade" (a partir de 19min55seg no vídeo).

Além do vazio, para Maria Homem, o ódio é outro definidor. "Você gasta libido, energia, atividade mental e psíquica para fazer as suas relações e também para manter relação com tudo o que você odeia. Acho isso um desperdício energético", afirmou a psicanalista (a partir de 23min33seg no vídeo).

A jornalista Ju Wallauer, condutora do podcast Mamilos, concorda que o ódio tem funcionado como uma força motriz da sociedade.

"Porque a gente passa muito mais tempo hoje engajado no que a gente odeia. Isso define quem a gente é", disse (a partir de 26min07seg no vídeo).

Homem completa sobre a importância da negação nesse processo: "o eu é formado a partir do outro, sem dúvida. Por que a gente faz o que eu chamei de antirrelação? É uma célula narcísica, está tudo misturadinho", diz. "Depois eu tenho que fazer um processo de separação que é sempre pela negação. A negação é estrutural" (a partir de 33min no vídeo).

O UOL Debate reuniu Amyr Klink, navegador e escritor, já viveu longos períodos de isolamento em alto-mar; Juliana Wallauer, publicitária e apresentadora do podcast Mamilos; Henrique Vieira, pastor evangélico, teólogo, ator e ativista negro; e Maria Homem, psicanalista e autora de livros, reflete sobre a solidão contemporânea.