A maratona de Gabi Marketeira, 'ADM' de famosos do próximo BBB
Enquanto as apostas para descobrir quem estará no BBB 22 ainda esquentavam na internet, Gabriela Leão passeava num shopping center em São Paulo com um futuro participante, vindo de outro Estado. Era a primeira vez que se viam, mas o nível de intimidade entre eles não iria demorar para evoluir. Em alguns dias, Gabriela já teria as senhas e perfis das redes sociais do novo cliente.
A missão naquela tarde de dezembro era comprar roupas para o reality show mais famoso do país, incluindo o "look" para a final, caso aconteça. Discutiram também a escolha do emoji para simbolizar a torcida. Ele queria uma imagem já usada em outra edição. Gabi desaconselhou: repetir poderia gerar briga desnecessária entre torcidas. Sugeriu outro. A pessoa adorou: havia acabado de fazer uma tatuagem justamente com aquele desenho.
Durante três dias, Gabi esteve grudada com um dos nomes do Camarote, o grupo de famosos e influenciadores que estarão no confinamento vigiado da TV Globo. Coordenou a sessão de fotos e vídeos que vão alimentar as redes sociais durante o programa — com destaque, claro, para a tatuagem. Entre uma atividade e outra, puxou conversas mais profundas sobre a vida pregressa à mega exposição.
"Uma coisa que eu sempre pergunto é: 'o que é que pode te ferrar aqui fora?'", conta Gabi. "É como advogado: fala a verdade pra mim, porque se mais pra frente expuserem aquilo, preciso estar preparada."
A conversa continuou por WhatsApp, até o momento de confinamento, há poucos dias. Na ligação, o cliente se despediu. "Estou chegando aqui, vou entregar o celular. É isso. Beijos."
Por causa de um termo de confidencialidade, ninguém — da família de Gabi à reportagem do TAB — sabe a identidade que ela vai assumir virtualmente quando o elenco da nova edição for anunciado (está previsto para sexta-feira, 14). A sigla "ADM", que antes servia para identificar cursos de administração, em época de reality show ganha outro significado. ADM é quem vai engajar, posicionar-se e criar parcerias em nome do participante enquanto o jogo rolar.
Os perfis já estão abertos nos dois celulares que ela passou a usar para tentar separar a vida profissional do pessoal. Sem sucesso. Os dois o acompanham até ao lado do chuveiro. "Não sei mais qual é qual. Eles nunca estão no silencioso."
Dom de fã
Gabriela Leão é recifense, tem 25 anos e traços que a fazem aparentar ser ainda mais jovem, mesmo com a tatuagem no antebraço e o piercing no septo.
Ela recebe a reportagem na sala de uma agência de publicidade na Vila Mariana, com paredes e móveis em tons sóbrios. Diante do notebook e dos celulares, parece ser realmente uma administradora — séria, mas jovial: com camisa social despojada, chiclete na boca e mechas de tom verde água no cabelo.
A cinco dias da estreia, ela confere a identidade visual das redes e emenda reuniões virtuais para definir equipe e alinhar as primeiras publicações. Terá dois clientes nesta edição. O segundo, uma mulher, chegou até ela há poucas semanas.
Por ser um trabalho virtual, diz até conseguir trabalhar na praia, mas jamais tira folga durante o confinamento dos clientes. "Já aconteceu de eu estar na balada e ficar postando stories, criando legenda, porque lá na casa [do BBB] está tendo festa também."
Gabi mora em São Paulo desde setembro último, quando foi contratada para gerenciar o setor de reality show da agência Vox. A área é nova e está em franca ascensão desde pelo menos o início da pandemia, quando o engajamento do BBB havia extrapolado todas as bolhas. Culpa do confinamento da vida real.
"A posição da pessoa dentro do reality influencia toda vida dela depois", diz o dono, Carlos Eduardo. "É preciso um esforço e um envolvimento muito grande de toda equipe neste momento." Gabi é vista na área como uma referência e ostenta portfólio com participantes nos mais diversos realities do país ("BBB", "No Limite", "A Fazenda", "Power Couple" e "Ilha Record"), e entre eles, três vencedores.
Desde que deixou Pernambuco, ela divide o apartamento com outro ADM (de outra agência) que de vez em quando cuida de alguém da torcida rival. "Ele torce e trabalha com uma, eu torço e trabalho com outra, mas a gente se respeita, posta só a verdade, sem jogo sujo", garante.
Graduada em design, com especialização em marketing, Gabriela Leão entrou na área sem sequer imaginar que poderia ser paga por isso. Foi em 2017, movida por pura paixão de fã. Sua favorita era Emily, vencedora do BBB 17. Na época, no entanto, as contas dos participantes geralmente ficavam nas mãos de familiares e amigos, sem muita pretensão, a não ser engajar mutirões em dias de votação. Ela ofereceu "seus serviços". "Até hoje não sei como, mas confiaram em mim e me deram as senhas."
Hoje, ela avalia que o Twitter ainda continua forte, mas que o jogo ganha outras nuances também no WhatsApp, Telegram e, principalmente, no Instagram. "Tudo começa no Twitter, mas os perfis de fofoca são muito ativos, as pessoas criam opiniões a partir do que leem", comenta.
No BBB 19, foi atrás da família de Carol Peixinho antes mesmo de o programa começar, por pura simpatia. A baiana chegou em terceiro lugar. Em seguida, deixou os realities de lado para se dedicar a frilas. Cuidava do marketing de restaurantes quando recebeu o convite para cuidar das contas de Lucas Viana, que estava na edição de 2019 de "A Fazenda". "A profissão de ADM de reality show não existia na época. Foi onde virou a chavinha: 'Poxa, consigo ganhar dinheiro com isso'", relembra.
Lucas saiu da edição como vencedor, e Gabi, com o primeiro salário e muitas indicações na área. Seu nome chegou aos ouvidos da influenciadora Rafa Kalimann, em 2019, quando se preparava para entrar no reality. Foi a primeira vez que a administradora teve contato direto com o cliente antes do confinamento.
Após ser finalista do BBB, Rafa indicou o trabalho de Gabi para dois amigos sertanejos, Mariano ("A Fazenda") e Rodolffo (BBB 21). Foi aí que sacou que precisava conhecer mais a fundo a pessoa que iria administrar virtualmente.
Ela relembra o gerenciamento de crise no caso de Rodolffo. O cantor fez comentários sobre a roupa de Fiuk e o cabelo de João Luiz, o que gerou forte reação dentro e fora da casa. A crise foi gerenciada num grupo grande, com assessores, empresários e família, incluindo o pai e o outro membro da dupla sertaneja, Israel.
Na conversa prévia, porém, apenas a posição política de Rodolffo foi tema. No vídeo, ele declarava voto no presidente Jair Bolsonaro. "Ele mesmo já disse: 'Tem um vídeo meu que pode ser que a galera use aí'. Era um tema que a gente já sabia que viria, e veio primeiro", conta Gabi.
Na edição de "A Fazenda" em 2020, chegou a recusar trabalhar com um famoso por não gostar das ações do rapaz no passado. "Não precisei nem fazer pesquisa antes", comenta.
Assim como o trabalho com os restaurantes, ela vê o famoso ou influenciador como uma marca a ser desenvolvida. Diz ver com bons olhos aqueles que procuram um coach (treinador) para lidar com temas importantes na sociedade, como feminismo e racismo.
"Eu falo coisas óbvias: cuidado com o que você fala. Falas que podem ser problemáticas e podem ofender. Às vezes, quando não se está no meio, aquilo ofende e a pessoa nem sabe, mas não tem um padrão de falas. A pessoa é que tem de ter senso", orienta. Rafa Kalimann, chamada de "sensata" no BBB 20, não fez nada de especial para o programa, garante sua administradora à época: "Ela já tinha coach há sete anos".
Hate e Rivotril
Do lado de cá das telas, Gabi tenta focar no seu próprio desenvolvimento pessoal — sem coach. O mais difícil, ela admite, é controlar a ansiedade. "Juro para você, precisei tomar Rivotril em dia de paredão. Eu não aguentava, é um dia que não passa a hora, vai dar o resultado e você quase infarta", revela.
Por ora, diz ter aprendido a se desvencilhar do impacto da "chuva de hate" (comentários maldosos, críticas) sofrida pelos clientes, mas que sempre respinga nela. Quando cuidava de Lucas Viana, recebeu uma mensagem com uma ameaça. Citava até o metrô que ela pegava para ir à faculdade. Disse ter ficado psicologicamente abalada. Desde então, quando o caldo engrossa, passa períodos longe da conta pessoal no Twitter, onde é chamada de Gabi Marketeira, mas sem fazer alarde entre os clientes ilustres. Costuma revelar o nome só ao fim do programa. Diz manter contato com vários, como Rafa e Mariano. "Hoje eu não tenho prazer em comentar [o programa], só o prazer profissional", diz.
Ainda assim, seu nome corre à boca pequena do passarinho azul. Jornalistas e fofoqueiros analisam com lupa seus seguidores no Instagram em busca de potenciais participantes. Ela justifica: diz que seguiu dez pessoas cotadas para o programa, como faz qualquer tuiteiro, "pra fofocar e ver se a pessoa vai estar ou não". Já o cliente com quem ela foi comprar os looks, Gabi garante: ainda não apareceu em nenhuma lista de cotados. "Vai ser uma surpresa."
Na expectativa de mais uma maratona, ela reflete o poder de uma boa administração para o prêmio final do cliente (e, consequentemente, mais tempo de salário no bolso). "Já vi muita gente se prejudicar por conta de ADM que postou merda e bum, estava nas contas de fofoca", observa, séria. No entanto, o trabalho não faz milagres. Quando os clientes pedem alguma dica de ouro, antes do confinamento, Gabi é sincera. "Vai depender da pessoa gostar de você, se não gostar, não tem o que fazer."
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