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Aleluia no templo e 'Lula lá' nas ruas: a apuração evangélica no Brás

No Brás, nas proximidades das sedes de igrejas evangélicas, cartazes pedem consciência no voto  - Rodrigo Bertolotto/UOL
No Brás, nas proximidades das sedes de igrejas evangélicas, cartazes pedem consciência no voto Imagem: Rodrigo Bertolotto/UOL

Do TAB, em São Paulo

31/10/2022 04h01

"Eu sei que vocês estão com o coração acelerado. O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã. Deus está sondando seus corações e quer você feliz", consolava o bispo Samuel Ferreira seu público presente na sede da Assembleia de Deus, localizada no Brás, na zona leste de São Paulo, na noite de domingo (30).

Nessa hora, Lula já estava eleito, e os fiéis se dividiam entre o celular com as notícias e as pregações dos pastores. Domingo à noite é hora de culto. Neste encontro, porém, foi bem diferente.

"Estou triste porque nosso candidato perdeu", lamentou a dona de casa Lourdes Lima, saindo da igreja. Assim como Silas Malafaia, também da Assembleia de Deus, Ferreira foi um dos líderes evangélicos que mais aderiu à campanha de Jair Bolsonaro. Dois dias depois do 1º turno, o atual mandatário foi a essa mesma igreja e discursou no púlpito.

Por uma curiosa coincidência, enquanto no templo se cantavam "aleluia", por volta das 20h, passavam pelas ruas próximas carros e motos buzinando, e pessoas gritando o nome do candidato eleito, com salvas de rojões ao fundo.

Conhecido como centro nacional do atacado de roupas, o bairro do Brás virou também uma espécie de Vaticano evangélico, com sedes de mais de uma dezena de denominações por lá, como a Mundial, a Deus é Amor, a Congregação Cristã no Brasil, entre outras.

Muitas se instalaram por lá aproveitando galpões industriais abandonados, ainda na década de 1950. A partir da década de 1980, o movimento se acentuou. Depois, com o acúmulo de devotos, dízimos e programas de TV, construíram suas maiores igrejas.

Na frente da sede da AD Brás fica o Templo de Salomão, sede da Igreja Universal do Reino de Deus. Lá não se pode entrar com celular, e os devotos só souberam do resultado das urnas na saída da celebração.

"Minha família ficou em casa acompanhando a apuração, mas eu preferi vir ao culto. Pra mim, tanto faz um como o outro. Até assisti aos debates, mas achei uma nojeira porque era só um acusando o outro", opinou o motorista Dagoberto Feliciano, que preferiu não divulgar seu voto. "Minha família está cheia de petistas e bolsonaristas. Já tem briga suficiente."

Também estava indiferente às eleições a fiel Maria José da Silva, 77. "Pela idade, não precisei votar. Então queria só paz", disse na porta do templo da Universal. Depois de contar quando se aproximou da Universal, há 20 anos, convertida após um quadro de depressão pela morte de um filho, ele se mostrou curiosa com a disputa da noite: "E quem ganhou?".

Na reunião da Universal, o pastor citou que o jornal "Folha Universal" foi apreendido pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) na semana passada, e pediu para os adeptos orarem pelo Brasil e para que a publicação "não seja mais censurada".

Os evangélicos se revelaram a base mais sólida do bolsonarismo, com 60% desse público votando pela continuidade do atual governo. Segundo pesquisa Datafolha, 16% dos evangélicos afirmaram que os pastores orientaram voto em Bolsonaro.