'Vida é uma só': argentinos lotam voos para o Qatar com sonho do tri

"Vamos para o Qatar!", gritou de felicidade uma argentina para a outra, do lado de fora do aeroporto internacional de Ezeiza.
Ainda não amanhecia e o terminal C do aeroporto na zona metropolitana de Buenos Aires estava lotado de passageiros com a mesma identificação no peito, um crachá distribuído pela companhia aérea estatal da Argentina que exibia ilustrações dos jogadores da seleção argentina, a data do voo e a descrição: "Voo para a Final da Copa do Mundo Ezeiza-Doha".
O que definiu as coisas foi a vitória da Argentina sobre a Croácia no dia 13. "Na terça, depois da partida, tomamos a decisão de que a vida é uma só", disse ao TAB Melissa Russo, 33.
"É um fato histórico. Estamos indo para a final da Copa do Mundo, a última partida de Messi na seleção", exclamou a psicóloga Alejandra Russo, 39, que explicou que após o sofrimento do jogo contra a Holanda, nas quartas de final, seus amigos já consideravam a viagem.
O grupo, que agora enfrenta cerca de 20 horas de voo, conta com ingresso para o jogo contra a França e fica em Doha até quarta-feira (21), após, segundo elas, "festejar e levantar a Copa". A expectativa é compartilhada por centenas de passageiros. O voo que saiu na manhã desta sexta-feira (16) de Ezeiza para Doha foi publicado um dia antes do jogo contra a Croácia. Meia hora após a partida, já estava lotado. "90% foi comprado de última hora", afirma a assessoria de imprensa das Aerolineas Argentinas, companhia aérea estatal do país.
Este foi o penúltimo voo direto de Buenos Aires para o país que sedia a Copa que chegará a tempo da final. O avião partiu de Ezeiza minutos antes das 9h, com suas 265 poltronas ocupadas. O último voo direto para Doha, programado para esta noite, com escala de abastecimento em Roma, também sairá com 100% de ocupação. Somente em rotas diretas, a estatal transportou para o Qatar 3.500 passageiros, em 12 voos especiais para a Copa.
Preço salgado
Entre os passageiros abordados por TAB, houve os que não quiseram dar entrevista, os que pediram para não serem identificados e os que demonstraram desconfiança quando perguntados sobre o investimento para a viagem. Somente de passagem, os voos diretos foram vendidos a partir de 1,8 milhão de pesos argentinos (cerca de US$ 5.700, na cotação do chamado de "dólar turista" do país).
"No dia anterior já estávamos pensando em comprar. Quando ganhamos a semi, foi uma decisão imediata fazer essa loucura de ir até lá", conta a estudante de engenharia e gerente de projetos Giuliana Ruffa, 24. "Mas é uma loucura boa, uma loucura passional argentina, por essa esperança que nos dá estar em uma final da Copa", diz sua amiga de infância Manuela Freire, 23, recém-formada em turismo. Apesar da passagem em mãos, elas e seu grupo de amigos e familiares ainda não tinham ingresso para a disputa contra a França. "Mas somos argentinos, vamos conseguir. E temos muita esperança de ganhar", garantiram.
Muitos deixaram para demonstrar essa alegria somente quando a viagem estivesse totalmente garantida. Entre os diversos passageiros paramentados para o futebol que aguardavam o check-in, pairava a preocupação. Isso porque, ao comprar o voo de última hora, chegaram ao aeroporto sem terem conseguido completar o trâmite do visto para entrar no Qatar. Apesar disso, segundo a empresa, todos puderam embarcar com um salvo-conduto do governo catari.
Dentre os argentinos que irão passar 24, 48 ou 72 horas no Qatar, teve gente que gastou a "economia de muitos anos" e até quem pediu dinheiro emprestado, como Leandro Franco, 21, dono de um açougue da cidade argentina de La Plata.
Após a arrecadação, a passagem acabou comprada ontem. "Tenho um conhecido que está lá no Qatar e me disse que dá para conseguir entrada para o jogo — que está cara, mas que é possível conseguir", disse, sentado no chão do saguão do aeroporto, à espera da aprovação do seu visto, para poder fazer check-in.
"Não tenho ideia de quanto já gastei. Quando chegar a conta, vai ser complicado", diz Franco, contando que jogou tudo no cartão de crédito e que em Doha vai comer "o que der", fazendo jus à frase "live the present" (viva o presente, em inglês) que tem tatuada no braço.
Também aguardando o visto do filho Nicolás, 23, para o embarque, o pediatra Guillermo Goldfarb, 54, disse estar emocionado com a viagem dada de presente para ambos por sua esposa, María. "Já tínhamos reservado após o jogo contra a Holanda, e quando ganhamos a semifinal, confirmamos a compra, nesses 30 minutos em que o voo lotou", explicou.
Com muitos sofrendo a ansiedade de não ter o visto à mão para embarcar, só de vez em quando algum torcedor de animava a puxar o canto da torcida que é o hit desta edição da Copa para os argentinos. Também havia sorrisos na fila. "Foi super complicado conseguir passagem, mas estamos com um bom feeling", disse a estudante Catalina Gómez, 18.
Ela e seu irmão Santino, 15, fizeram check-in com os pais, carregando um grande dinossauro inflável, com um gorrinho azul e branco. O brinquedo é parte de uma superstição da família para ver os jogos, algo muito comum entre os argentinos, que acreditam que quando se ganha, as partidas seguintes devem ser vistas sempre do mesmo jeito. "Começou com a minha mãe nesta Copa e já virou uma tradição. Não nos disseram nada no check-in, então acho que vamos conseguir embarcar com ele", disse, aos risos, sobre o dinossauro torcedor.
Para muitos, a possibilidade de que seja a última Copa do Messi torna a viagem ainda mais especial. "Temos muita confiança e expectativa e esperança que a seleção nos dê uma alegria e que Messi tenha a alegria que merece", expressa Goldfarb, que tem a volta para a Argentina prevista para segunda-feira (19) de manhã.
Embora saiba que deve passar mais tempo voando que no Qatar, ele sabe que acompanhar a seleção argentina nesta final in loco "já será experiência inesquecível", que ambos carregarão "para sempre".
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