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Cidade de Messi assiste à Copa: 'na escola ele era um amuleto para ganhar'

David Treves, presidente do Clube Abanderado Grandoli, onde Messi jogava quando criança - Luciana Taddeo/UOL
David Treves, presidente do Clube Abanderado Grandoli, onde Messi jogava quando criança
Imagem: Luciana Taddeo/UOL

Luciana Taddeo

Colaboração para o TAB, de Rosário (Argentina)

09/12/2022 11h43

Andréa Sosa, 55, não costuma ver futebol, mas durante os jogos da seleção argentina pega no crochê para se acalmar. Só com as mãos em ação ela consegue lidar com o nervosismo de ver em campo Lionel Messi, que conheceu quando ainda era um menino baixinho e branquelo, calado e comportado.

"Quando o vejo triste, ou vejo que insultam ele, dói", diz ela, que deu aulas para o craque por dois anos consecutivos na Escola Número 66 General Las Heras, em Rosário, terceira maior cidade da Argentina e terra natal de Messi.

"Dá para ver que ele carrega um peso, essa pressão muito grande de exigência, de obrigação de ganhar, de que tem que fazer tudo. Mas eu sempre digo que o futebol é coletivo, que ele não pode fazer tudo sozinho", diz, em defesa do jogador.

Com orgulho, ela mostra fotos do ex-aluno famoso ao lado dos colegas, nos anos de 1996 e 1997. "Você nunca acha que isso vai acontecer, que um aluno que você tem aí sentado na sala de aula vai chegar a esse nível de sucesso. É bom vê-lo mais maduro, aproveitando, feliz. Dá para ver no rosto dele que ele está aproveitando essa última etapa como jogador", diz.

O que Sosa vê na televisão sempre faz com que volte à mente a imagem que tem do pequeno "Lio", como era chamado na escola, driblando os demais alunos no pátio. Difícil era fazer com que ele largasse a bola para voltar à sala de aula depois do recreio. "Na tentativa, uma professora dizia para eles que só tinha um Diego Maradona, e olha o que acabou acontecendo", lembra, dando risada.

Se a memória de Sosa não a trai, ele se sentava mais para o meio da sala e era "low profile" — ninguém imaginava que, 25 anos depois, ele estaria sob os holofotes do mundo inteiro. Mas no futebol ele já se destacava. "Os companheiros de outras séries o conheciam pelo futebol, e o chamavam para jogar pela escola. Ele era como um amuleto para ganhar", conta.

O craque é frequentemente lembrado na escola, onde um mural seu foi pintado por um artista brasileiro no pátio. Os jogos são vistos em grupo e câmaras de TV da imprensa local acompanham a festa.

A professora Andréa Sosa, 55, com fotos em que Messi aparece - Luciana Taddeo/UOL - Luciana Taddeo/UOL
A professora Andréa Sosa, 55, com fotos em que Messi aparece
Imagem: Luciana Taddeo/UOL

Rua decorada

Os vizinhos de onde Messi morava quando pequeno, numa zona de classe média-baixa de Rosário, lembram dele dando um baile nos meninos mais velhos da rua, hoje toda decorada de azul e branco. Murais e pinturas fazem referência ao craque que fazia dribles com pés descalços quando a rua Estado de Israel se chamava Lavalleja e ainda era de terra.

A jornalista Fernanda Quiroga, 35, nasceu na casa em frente à dele. "Leo sempre estava chutando algo, alguma tampinha de qualquer coisa", diz, contando que seu irmão jogava bola com ele e que naquela época já havia o comentário de que Messi arrasava.

A rua onde Lionel Messi morou na infância, em Rosário - Luciana Taddeo/UOL - Luciana Taddeo/UOL
A rua onde Lionel Messi morou na infância, em Rosário
Imagem: Luciana Taddeo/UOL

No dia em que o jogador se mudou para a Espanha, onde iria jogar no Barcelona, todos os moradores da rua saíram para se despedir. "Fomos testemunhas desse crescimento profissional dele, mesmo quando pequeno", lembra, dizendo que o que ele gera entre os vizinhos é "respeito, admiração e muito carinho".

"Apesar do carinho que temos pela seleção, queremos que a seleção ganhe para ele, para que ele possa descansar. Sofremos e nos alegramos mais por ele, pontualmente, do que pelo grupo", ressalta.

Na próxima Copa do Mundo Messi terá 39 anos — ele mesmo já disse que esta seria sua última disputa do torneio. Por isso, para Quiroga, esta é sua vez de erguer a taça.

No Clube Abanderado Grandoli, a cerca de 2 km de onde Messi cresceu, onde ele começou a jogar aos 4 anos, muitos meninos treinam com orgulho e expectativa por estarem no berço do grande talento. "Amo muitíssimo o Messi, quero muito conhecê-lo já!'', exclama Alejo Rojas, um rosarino magrelo e muito ágil com a bola, de 8 anos, enquanto dribla um amigo no gramado.

Alejo Rojas sonha fazer gols pela seleção argentina como Messi - Luciana Taddeo/UOL - Luciana Taddeo/UOL
Alejo Rojas sonha fazer gols pela seleção argentina como Messi
Imagem: Luciana Taddeo/UOL

Sua mãe, Alejandra San Martin, 37, está diariamente no clube, ajudando na preparação do campo para os treinos e nas demais atividades "O Alejo me diz que vai jogar na seleção argentina e vai comprar uma casinha para mim", relata.

David Treves, presidente do clube do qual Messi saiu para jogar no Newell's Old Boys quando tinha 7 anos, diz ser um "privilegiado" por ter visto o craque jogar quando pequeno. "Ele foi uma criança especial, tocada por uma varinha, o que nós o vemos fazer ele fazia quando era uma pulguinha assim [sinaliza que Messi era pequeno]. Driblar um time inteiro e fazer um gol, com essa riqueza técnica. Aqui no bairro começaram a falar que o novo Maradona tinha aparecido. E não erraram", conta.

Ele lembra que foi o boca a boca que fez com que nos treinos de Messi a arquibancada lotasse. "Se fosse como hoje, com as redes sociais, teria sido uma loucura", diz, sobre o menino introvertido, que estava o dia inteiro jogando bola, mesmo fora de campo.

Em sua rua, juntam-se para torcer como se estivessem no estádio. Na escola, o nome dele é mencionado frequentemente. "Quando ele veio visitar, a euforia foi tanta que tiveram que levar os alunos para as salas de aula e ele foi tirar foto de uma em uma", conta a professora Cecilia De Leonardi, 47.

Fachada de prédio em Rosário, cidade natal de Lionel Messi - Luciana Taddeo/UOL - Luciana Taddeo/UOL
Fachada de prédio em Rosário
Imagem: Luciana Taddeo/UOL

Mas há opiniões divergentes sobre se esta será a última Copa do craque. "Se for, vou continuar torcendo por ele no Paris Saint-Germain", diz Alejo Rojas, que ao posar para a foto aponta os dedos para o céu, como faz seu ídolo ao comemorar seus fantásticos gols.