Não é só 'Evidências': embaixador coreano conta que escolhe músicas a dedo
A goleada sofrida pela Coreia do Sul, em jogo contra o Brasil na Copa do Mundo do Qatar, não impediu o embaixador do país asiático, Lim Ki-mo, de celebrar. Na segunda-feira (5), ele roubou a atenção ao cantarolar para amigos brasileiros sucessos como "Evidências", da dupla sertaneja Chitãozinho e Xororó, e "Cheia de Manias", do Raça Negra.
Ki-mo decidiu abrir as portas de sua casa, em Brasília, para convidados, que acompanharam a partida entre as duas seleções, válida pelas oitavas de final. Depois, em meio à festa brasileira, Ki-mo soltou a voz com os hits nacionais. Essa, no entanto, não foi a primeira vez que o embaixador fez sucesso com músicas brasileiras.
Em abril, ele já havia conquistado fama repentina depois de entoar clássicos sertanejos em um jantar realizado na Embaixada da Coreia do Sul. Naquela época, em entrevista ao TAB, contou como escolhe seu repertório de músicas brasileiras.
A playlist de Ki-mo — que além de "Evidências" inclui "Pense em mim" e "Garçom", de Reginaldo Rossi — é escolhida obedecendo a dois critérios: o seu gosto musical e a facilidade de decorar as letras. Ki-mo ainda está aprendendo o português.
O embaixador garantiu que não pretende "fazer média" com os brasileiros ao entoar os clássicos que todo mundo conhece: se as músicas que ele canta estão entre as mais famosas do país é porque "os sentimentos humanos são muito similares".
Ele exemplificou: vejamos como lidam os brasileiros e os sul-coreanos com a "dor de cotovelo". "Ambos recorremos ao primeiro bar e choramos desconsolados: só que vocês bebem cachaça, e nós bebemos soju [bebida destilada à base de arroz]; vocês comem churrasco, enquanto nós comemos bulgogi [o "churrasco" coreano]; e vocês cantam sertanejo, e nós, o nosso trot. O resto é o mesmo!", afirmou.
O trot a que ele se referiu é como o avô do K-pop: é a música brejeira e romântica coreana mesclada ao pop internacional, cuja sonoridade lembra um pouco os sucessos pós-Jovem Guarda de outro dos ídolos do embaixador, Roberto Carlos. O trot tem um rei — ou, como dizem os sul-coreanos, um imperador: o lendário Na Hoon-A.
Ele diz que os sul-coreanos, em geral, gostam muito de cantar — "exceto a minha esposa!", acrescentou, à época. Basta entoar "Quando eu digo que deixei de te amar, é porque eu te amo" para que a tímida embaixatriz Chun Jin-ah corra em debandada, temendo o convite para um dueto.
Karaokê no fim de semana
Ki-mo nasceu em Busan, metrópole portuária da Coreia do Sul, em 1965. A carreira diplomática surgiu como um desejo natural. Ele mudou-se para Seul, a capital do país, onde concluiu mestrado e doutorado em relações internacionais e administração pública. No tempo livre entre as leituras e as provas, modulava a voz no coral da universidade e frequentava karaokês aos fins de semana.
Em 1991, um ano antes de se casar com Jin-ah, Ki-mo foi admitido no corpo diplomático. Ele serviu ao seu país nos EUA, China, Guatemala, Suíça, México, Jamaica e Argentina, até ser designado, em junho de 2021, para chefiar a embaixada no Brasil.
A pandemia entrava então em um de seus períodos mais críticos, o que limitava grande parte da atividade diplomática. Ki-mo resolveu dedicar-se a mergulhar na cultura local. Assim, conheceu o sertanejo e o pagode — e foi amor à primeira vista.
Cultura como diplomacia
Para Ki-mo, uma das funções da diplomacia é reunir as pessoas e encontrar formas de fazerem com que elas confraternizem. Ele avalia que o chamado "soft power" — o uso da cultura como ferramenta diplomática — pode ser útil para reduzir, ao menos afetivamente, os quase 18 mil quilômetros que separam o Brasil da Coreia do Sul.
A confluência de culturas já ocorre com o o sucesso do K-pop e do cinema coreano no Brasil, e da bossa nova, do samba e dos futebolistas brasileiros na península do extremo oriente.
"Graças à internet, podemos acompanhar, por meio do esporte e das produções culturais, os sentimentos de outros povos. Acredito fortemente que esse intercâmbio sentimental pode promover uma atmosfera pacífica entre as nações", disse o embaixador à época.
Nesta segunda-feira, Ki-mo conheceu a paixão do Brasil pela Copa do Mundo. Assistiu ao jogo acompanhado de amigos brasileiros que batucavam e dançavam. Vestido de vermelho em meio ao grupo verde-amarelo, ele balançou, tímido, a sua bandeirinha da Coreia do Sul, após a goleada por 4 a 1.
E, à beira da piscina, escolheu suas músicas preferidas para soltar o vozeirão.
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