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Fãs de k-pop se dividem entre dança do BTS e do Pombo na eliminação coreana

Fã da cultura coreana, Isadora Olmag (à direita) torceu em bar da comunidade no Bom Retiro, em São Paulo, durante o jogo Brasil e Coreia do Sul  - Rodrigo Bertolotto/UOL
Fã da cultura coreana, Isadora Olmag (à direita) torceu em bar da comunidade no Bom Retiro, em São Paulo, durante o jogo Brasil e Coreia do Sul Imagem: Rodrigo Bertolotto/UOL

Do TAB, em São Paulo (SP)

06/12/2022 08h02

No telão, Richarlison e Tite imitam o movimento de um pombo na comemoração do segundo gol contra a Coreia do Sul. Em outra tela na parede, os garotos do BTS fazem sua coreografia cheia de pulos e rodopios.

A torcida k-popper ficou muito dividida diante do confronto esportivo. Se, por um lado, dava gritinhos cada vez que a câmera fechava na imagem dos astros Son e Cho; por outro, pulava freneticamente a cada gol na vitória nacional por 4 a 1 pelas oitavas de final da Copa de 2022.

"Torci para os dois, porque sou uma brasileira que gosta da cultura coreana. Mas o nosso time é muito mais forte", disse Fernanda Micheleto, responsável pela batucada no Centro Cultural Coreano no Brasil. Não tinha pandeiro nem cuíca na percussão. Era um "buk", tambor de couro e madeira tradicional da Coreia, que soava alto a cada lance de perigo.

Apesar das bandeiras e bexigas com a bandeira coreana, a instituição ligada ao consulado reuniu uma maioria de jovens brasileiras que frequentam os cursos do local.

Por lá, havia distribuição de suco enlatado de abacaxi e "beé", tipo de pera coreana, e uma exposição sobre "hanbok", a roupa tradicional do país. A torcida de descendentes de coreanos era minoria.

Como outras garotas ali, Micheleto gritava a cada aparição do atacante Cho Gue-sung, tido como galã. "Ele é o mais gatinho do time", comentou a jovem, que teve o primeiro contato com a cultura coreana por meio do grupo feminino Kara. "Beijo pra você, meu lindo", berrou uma garota mais exaltada.

O outro astro é Son Heung-min, que joga no Tottenham, da Inglaterra, e tem um carisma publicitário só comparável às boybands da península.

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Fã de k-pop, Fernanda Micheleto (à direita) foi responsável pela batucada coreana durante jogo do Brasil na Copa
Imagem: Rodrigo Bertolotto/UOL

Rivalidade no Bom Retiro

Outro local que concentrou torcida para as duas seleções foi o bairro do Bom Retiro, reduto da comunidade oriental no centro de São Paulo, famoso polo de fabricação e venda de roupa.

No shopping K-Square, os brasileiros ficaram no térreo, enquanto os coreanos com suas camisetas vermelhas se aglomeraram no terraço. Lá, nas mesas na frente do telão, estavam as autoridades da comunidade, com representantes do consulado, associação de moradores e de lojistas. Já o público feminino se dividia entre as adeptas do k-beauty, com muita maquiagem e cabelos tingidos de castanho-claro, e as coreanas adaptadas ao look brazuca, com pele bronzeada, bermuda jeans desfiadas e cílios postiços.

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Marcelo Lee e o filho, Martim, torceram e se decepcionaram com a seleção sul-coreana diante do Brasil na Copa
Imagem: Rodrigo Bertolotto/UOL

Com o placar de 4 a 0 no final do primeiro tempo, alguns coreanos já foram voltando para casa embaixo da chuva fina que caía na cidade. Quando passaram pelo pessoal de verde e amarelo, tiveram que ouvir. "Eu não vou embora", cantavam os brasileiros com a melodia de "Seven Nation Army", da banda White Stripes, um clássico dos estádios.

"Foi um papelão. Esperava mais da Coreia", definiu Marcelo Lee, lojista no bairro, segurando no colo seu filho Martim, de 3 anos.

Karaokê e bola

O Wa Bar é local de paquera dos jovens de origem coreana e das ocidentais fãs do soft power que o país asiático exerce com sua produção musical e cinematográfica.

Samuel Lee tem até que redobrar a atenção para não entrar menor de idade por lá — muitas k-poppers são adolescentes.

"Aqui só vinha coreano. Mas, com a crise, o bairro deixou de ser próspero, e muita gente voltou para a Coreia. A comunidade, que era muito fechada, começou a se abrir. Hoje, meu bar tem frequência de 80% de ocidentais interessados em nossa cultura", conta Lee, que abriu o bar em 2016. Além dos pratos típicos, querem experimentar os drinques com soju, um destilado feito a partir de arroz, trigo ou batata fermentada.

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No Centro Cultural Coreano no Brasil, uma tela exibe a partida de Brasil versus Coreia do Sul, e a outra mostra clipe do BTS
Imagem: Rodrigo Bertolotto/UOL

No bar, Isadora Olmag comemorou o único gol coreano e provocou as amigas torcedoras do Brasil. "Trabalho com coreanos e aprendi a admirar a cultura deles. Eles mereciam placar melhor."

Os karaokês do bairro também abriram espaço para os torcedores nessas oitavas de final. Na casa Itaewon, a maior sala de cantoria, com capacidade para 50 pessoas, ficou reservada para a transmissão do jogo. Já na Oksan, o público acompanhou o jogo na área de restaurante. E depois das 18h foi cantar diante das telas, seja para celebrar a vitória ou afogar as mágoas com o insucesso esportivo.