Olimpo? Reinauguração da famosa casa de shows carioca tem nostalgia e caos
O calor era forte na noite de sexta (3) na Vila da Penha, bairro da zona norte do Rio. Pouco depois das 22h, uma fila se formava em frente ao Rio Music Stage, ou o antigo Olimpo, para os íntimos. Estava marcada para essa noite a reinauguração da casa de shows que fez história na zona norte nos anos 2000 e o clima era de muita expectativa.
A atração convidada para marcar a retomada era o cantor Belo, antigo habitué do local, que batia ponto semanalmente no Olimpo com seu pagode. Cerca de uma década atrás, a casa andava mal das pernas e, há sete anos, fechou de vez.
Nas redes sociais, a animação era grande com a notícia da reabertura: no Instagram, o antigo Olimpo soma mais de 1,1 milhão de seguidores. No entorno da casa, uma vendedora de bala comentava: "O povo tá animado, mas vamos ver como é que vai ficar, tô achando o ingresso meio carinho?", reclamava sobre os R$ 70 cobrados para o último lote do show.
'É agora'
Por volta das 23h, momentos antes das portas abrirem, um produtor comandava pelo rádio a equipe de organização: "Vamos abrir, pessoal, é agora!" Quando as portas enfim se abriram, uma mulher se queixava do atraso. "Quero meu ingresso de volta. Falaram que ia abrir às 22h, já vai dar 23h." Mesmo assim, acabou entrando.
Entre os nostálgicos que vieram conhecer a versão 2023 da casa de shows, as irmãs Vânia, 56, e Ana Claudia Cabral, 52, recordavam: "Vi muita coisa boa aqui, Jorge Aragão, Zeca Pagodinho, Roberto Carlos, Roupa Nova, Skank, Alcione, teve muito show bom! Vinha no pagode de segunda-feira, o Belo vinha aqui toda quarta", diz a enfermeira Vânia.
Com o fechamento da casa, as duas passaram a frequentar shows em outras regiões do Rio, como a Barra e a zona sul. "Mas fica mais caro, né, porque além de pagar o ingresso, você paga o estacionamento, que custa entre R$ 50 e R$ 60. Aqui é mais perto pra vir e a gente pagou R$ 60 no show, mas o primeiro lote tava RS 30", conta a representante de vendas Ana Claudia.
Outra das mais animadas era a contadora Flávia Antunes, 48. "Aqui era a minha casa, ih, filha, eu vinha de quinta a sábado, toda semana", lembra. "Sexta era clube das mulheres, tudo liberado pra gente, ficava doidona, meia-noite os homens entravam, peguei gogo boy, nossa, muito bom."
Sem ar-condicionado
A expectativa começou a virar realidade quando deu problema com a cerveja. A rede de maquininhas de pagamento caiu durante um bom tempo e ficou difícil comprar cerveja ou qualquer outra coisa pra beber. O calor aumentava à medida que o público entrava e não houve ar-condicionado que desse conta. Resultado: gritos de "liga o ar, ca*****" e vaias por causa da temperatura lá dentro, que, com um pouco de essência de eucalipto, teria virado uma sauna. Por sorte a casa, que estava cheia, não chegou a lotar.
Pessoas passaram mal e precisaram ser atendidas por causa do calor. Homens circulavam sem camisa. Em um banheiro feminino não havia pia e não era possível sequer lavar o rosto para aliviar a temperatura.
Quando o pagodeiro Luidd abriu a noite, animou um público suado e que se abanava. Após seu show, um DJ assumiu o comando da casa com muito funk, para preparar a entrada de Belo. Durante o set, ele registrou, com a mesma falta de sutileza: "Tá calor pra c******!!! Liga o ar aí".
'Todos passaram por aqui'
Pouco antes de entrar no palco, a atração principal da noite falou ao TAB sobre a sensação de retornar à casa. "Voltar ao antigo Olimpo é extremamente gratificante, durante muitos e muitos anos eu pisei muito nesse palco aqui", exaltou Belo.
"Os grandes shows, grandes eventos, todos passaram por aqui. Quase todos os artistas do meu movimento do samba e do pagode, do funk, também. Essa casa fez muita falta aqui na zona norte, ela tem um glamour, tem uma energia muito maravilhosa", concluiu o cantor.
Os convidados de Belo estavam em uma sala de vidro isolada, com bufê liberado, bebidas e o tão sonhado ar-condicionado que faltou ao resto do público.
Fora da sala privada, a desorganização nos bares foi tamanha que a reportagem presenciou a seguinte cena: depois de muita espera, uma pessoa conseguiu comprar uma cerveja das duas marcas disponíveis na pista. Pagou R$ 8 pela unidade. Na hora de pegar, tinha em mãos uma ficha escrita à mão, já que o sistema tinha caído. No bar, quando perguntaram "é lata ou é balde?" a resposta foi um sonoro: "É balde!" E o esperto levou um total de seis cervejas, de uma marca mais cara, em um valor que teria custado R$ 96.
O céu do Olimpo
Em determinado momento, uma parte do revestimento do teto, que aparentava ser de plástico, se soltou e caiu — numa cena inusitada que logo fez os presentes notarem que várias outras partes estavam soltas e o risco de mais quedas era real. Em uma parte do camarote havia sacos de lixo na passagem e o chão estava totalmente molhado.
"Um absurdo pagar R$ 160 e isso tá assim", disse o empresário Rafael Tete, 38, outro que já curtira muito os tempos áureos do Olimpo. "Tô com a minha esposa há 20 anos, e a gente vinha muito pra cá. Jorge Aragão às segundas, festa Planet, festa Fantasy. Relembrar é viver", disse ele.
Em dois dos bares, além do calor, as trabalhadoras enfrentavam também a falta de luz na área. No teto, a fiação estava exposta. "A gente tá trabalhando igual prova de resistência", disse uma delas.
Ficou para depois a volta do glamour citado pelo cantor Belo.
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