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Por que Thiago Brennand, acusado de agredir filho, tinha guarda do garoto

Thiago Brennand e o filho, adolescente de 17 anos - Acervo pessoal
Thiago Brennand e o filho, adolescente de 17 anos Imagem: Acervo pessoal

Do TAB, em São Paulo

07/03/2023 04h00

Réu em seis processos por crimes como lesão corporal e estupro, Thiago Brennand é alvo de novas acusações: desta vez, de agressão contra o próprio filho, um adolescente de 17 anos. O relato de violência foi feito por um ex-funcionário dele ao "Fantástico" da TV Globo, no último domingo (5), e corrobora informações reveladas pelo TAB em 2022 sobre um inquérito, instaurado em 2020, pelas polícias de São Paulo e Pernambuco.

Bruno* é filho único de Thiago com uma ex-namorada, Ana*, corretora de imóveis e dona de uma loja de roupas no Recife. O casal conviveu durante quatro anos, entre idas e vindas. Após a separação, Thiago e a ex mantinham guarda compartilhada do menino, mas antes mesmo de completar 2 anos de idade, Bruno passava muito mais tempo com o pai, sem a anuência da mãe.

Em fevereiro de 2012, quando Bruno tinha seis anos, Ana moveu uma ação na 3ª Vara da Família de Pernambuco, alegando que Brennand, "uma das pessoas mais ricas e influentes" do estado, se valia de sua posição social para afastá-la do menino. Ela o acusava de alienação parental.

No processo, a mulher contou que chegou a passar cinco meses direto sem ver o filho. Ela também disse que Thiago viajou com o menino sem sua autorização e que o "batizou" sem que ela fosse informada. Na contestação, o herdeiro afirmou que a ex-namorada tinha "interesses financeiros" e por isso movia aquela ação.

Em novembro daquele ano, a juíza Ana Emília Corrêa de Oliveira Melo decidiu acatar os pedidos de Ana e deu a ela a guarda unilateral de Bruno. Thiago Brennand, no entanto, bateu boca com a juíza. Anos depois, em 2017, a Justiça reverteu a decisão em favor de Brennand e deu novamente a guarda unilateral do garoto ao pai, restando a Ana visitas esporádicas e convívio nas férias, feriados e fins de semana.

Na justificativa, o juiz João Maurício Guedes Alcoforado citou trechos do parecer do Centro de Apoio Psicossocial, que afirmou que Thiago:

  • "Demonstrou ser um 'pai completamente investido na função de melhor educar' o filho";
  • Estava comprometido com a formação da criança. O interesse, aliado à favorável situação financeira de Brennand, colocava "o menor na condição de uma criança privilegiada".
Thiago Brennand - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Thiago Brennand
Imagem: Acervo pessoal

Histórico de agressões

Ana e Bruno voltaram a ter contato em 2019, e decidiram denunciar Thiago à Justiça em 2020. Na época, ele morava em São Paulo com o pai e havia fugido para Pernambuco após sofrer agressões.

À Delegacia de Polícia de Crimes contra a Criança e o Adolescente, no Recife, o rapaz relatou sofrer maus-tratos do pai, incluindo castigos com corda e baqueta de bateria ainda antes de completar cinco anos.

"Com uns quatro anos ele já me batia. Ele tinha um cabo de iPhone que ele chamava de 'dozinha'. Toda vez que eu fazia qualquer coisa errada, ele dizia que ia pegar a dozinha e já vinha me batendo, me batia na mão. Aos seis, ele começou a me bater de cinto, sempre que achava que eu tinha feito algo errado, mesmo que fosse besteira", contou o rapaz. "Teve uma época que ele me bateu muito com baqueta de bateria. Ele tinha uma banda. Quando eu menos esperava ele já tava me batendo com baqueta. Uma vez em [Fernando de] Noronha, ele quebrou quatro cabides em mim, um atrás do outro."

Bruno foi submetido a perícia e o laudo do exame indicou escoriações no braço direito, causadas por "instrumento contundente". O inquérito — ao qual a reportagem do TAB teve acesso — continha fotos de marcas de agressão nas costas do adolescente, e um registro que o garoto fez do pai deitado num sofá, ao lado de uma arma. De acordo com Bruno, Thiago fazia aquilo para "torturá-lo e intimidá-lo psicologicamente".

Dois dias depois, contudo, o adolescente voltou à delegacia e retirou tudo que havia dito — disse que as marcas eram "outras coisas" e pediu para "alterar tudo". Sem seu relato, o caso acabou arquivado. Chamado a depor, Thiago argumentou que os hematomas do filho foram "lesões causadas pelo próprio adolescente a fim de convencer a mãe de que era agredido".

O processo até poderia seguir adiante, mesmo com a desistência de Bruno, como comenta um especialista ouvido pela reportagem. As marcas no corpo e as imagens que mostram um histórico de situações atípicas em casa serviriam de base para a investigação, mas essa decisão necessitaria de um pedido de alguém responsável pelo rapaz — no caso, sua mãe. Ana não o fez.

Ao longo de meses de apuração, TAB procurou Ana diversas vezes para entrevistá-la. Ela se negou a conversar com a reportagem. Por telefone, confessou: "Tenho uma criança que está sofrendo muito com toda essa história".

Herdeiro de uma das famílias mais ricas de Pernambuco, Thiago Brennand é considerado foragido da Justiça desde 27 de setembro de 2022. Ele está em Abu Dhabi, onde aguarda o processo de extradição.

*Nomes trocados para preservar a identidade dos envolvidos