Em versão 'pancadão', festa de SP inspirada na série 'Elite' termina mal
Era pra ser uma grande festa como aquelas que acontecem em "Elite", série da Netflix, sensação entre os adolescentes: garotos e garotas bonitas dentro de uma mansão, se esbaldando no open bar, longe do julgamento dos pais e, o mais importante, sem ninguém filmando.
Desde dezembro passado, a festa "Elite Mansão", em São Paulo, vem ganhando fama por prometer diversão e discrição para quem é fã da série ou só quer experimentar uma balada "sem controle e sem regras", como descreve o personagem Patrick na produção espanhola.
Se, na ficção, a orientação é deixar os celulares em modo avião para que os estudantes de um colégio particular não sejam localizados, na "Elite Mansão" a regra é ainda mais rígida: ninguém pode sequer entrar com o aparelho: todos ficam retidos num guarda-volumes na entrada do evento.
"Minha expectativa era de ir numa festa legal, tinha um DJ de que eu gostava", conta Víctor Braz, 20, que esteve na festa no último sábado (8). "Eu vou mais pra dançar, mas a festa promete putaria e bagunça. Se não pode celular, ninguém grava e nada aconteceu, não se tem registro. Esse é o objetivo."
Quase não há imagens do que aconteceu madrugada adentro no casarão da Fazenda Morumbi, grudada a Paraisópolis, na zona sul da cidade. Em compensação, pipocam nas redes sociais imagens da confusão generalizada que tomou o espaço no fim da festa.
Muito além do roteiro rocambolesco da série espanhola, o que se viu naquela noite foi um quebra-quebra generalizado: brigas entre os frequentadores, confusão na hora de pegar o celular de volta e até a presença de policiais que usaram de força física e spray de pimenta para controlar os ânimos.
Após passar a madrugada com amigos dançando, Víctor foi flagrado por alguns celulares, já na rua, sem camiseta e com a cabeça banhada de sangue. Era apenas um dos muitos jovens que aparecem em vídeos e fotos deixando a tal mansão — alguns carregados por amigos e outros tossindo.
'Resenha privada'
A festa "Elite Mansão" acontece sempre em construções imponentes, algo que lembre o estilo de vida abastado dos personagens da série.
Frequentadores da festa ouvidos pelo TAB relatam que não há controle de RG na entrada.
"O intuito era trazer de volta as famosas resenhas privadas de celebridades em mansões, mas com organização e segurança", afirma, em nota, um dos produtores, Gustavo Gom. A proposta, segundo ele, é propor uma "imersão" ao "público alternativo que curtia muito mais que ir em uma balada, ou se encontrar na Liberdade" — bairro de São Paulo que nos últimos tempos tem recebido jovens da geração Z em rolês madrugada adentro.
A "imersão" do último sábado aconteceu no Paraíso Morumbi, espaço para casamentos e aniversários. A entrada custava entre R$ 50 e R$ 80, com open bar, piscina liberada e a presença de DJs e influenciadores digitais convidados pelos organizadores — suas imagens são usadas nos flyers e postagens da festa para chamar público. "A experiência da ausência do celular amplia conexões e obriga a abertura do diálogo, das trocas de flertes e coisas do tipo", diz Gustavo.
Lucas Santana, 18, estava lá e contou que a festa entregou o que prometia — pelo menos até 6h, quando as brigas começaram. "Tudo por besteira, um empurrou o outro. Eles não calcularam muito o espaço dessa vez, foi muita gente mesmo. Estava apertadinho", observa.
Já o influenciador Marcos Manhães decidiu ir embora mais cedo quando viu a briga entre "duas meninas". "Meu amigo insistiu pra ir embora. Entramos na fila mais cedo do que todo mundo pra retirar o celular e mesmo assim já foi o caos."
Com o celular na mão, ele foi um dos poucos que registrou a ação numa série de vídeos que circulam nas redes sociais, gerando indignação — e alguns memes, que ironizaram as cenas, lembrando que aquela festa foi divulgada como "Elite Mansão Pancadão Edition".
A lentidão na hora de conferir o tíquete dos mais de 500 aparelhos fez as filas se multiplicarem, acirrando os ânimos embriagados. "Já era o fim da festa, às 7h. O pessoal começou a se revoltar. Boa parte estava bêbada. Tentaram invadir uma sala onde estavam os celulares, era porta de vidro, quase quebraram", conta Víctor.
O descontrole foi tanto que alguém chamou a polícia. Inicialmente de forma pacífica, os guardas tentaram reiniciar a fila, colocando todo mundo na rua. "Quando deram esse aviso, a maioria não quis sair sem o celular. Até eu fiquei com medo de ficar sem meu celular", lembra Lucas, que observava a muvuca à distância. A reação se deu com copos e mesas de plástico, atirados na direção da polícia. "Eles acabaram tirando o pessoal à força. Não sei se usaram spray ou bombinha de pimenta. Escutei todo mundo tossindo. Puxei meu amigo pra longe, mas senti no olho em alguns segundos."
Víctor afirma ter sido agredido por um policial. Levou quatro pontos na cabeça. "De repente, aparece camburão e batem em todo mundo com cassetete. Um dos rapazes jogou um copo em direção ao policial. Não tem nem como eu reclamar, eu nem vi quem era. Me bateram nas costas, no ombro. Depois de um bom tempo sangrando, veio uma das seguranças da casa e enfaixou minha cabeça, mas eu já estava lavado de sangue."
A festa tem que continuar
Em nota, os organizadores da "Elite Mansão" dizem que não foram responsáveis pelo chamado à polícia e afirmam que a confusão no sábado se deu pela lotação rápida da festa. "As dores desse crescimento nos atingiram na última edição", diz a nota. "A equipe terceirizada de segurança não estava preparada adequadamente, a chuva atrapalhou a situação para a organização e retirada de pertences e o caos, assim como as brigas simultâneas e o vandalismo de alguns clientes, acabaram ascendendo [sic] uma situação ainda mais desconfortável."
Ao TAB, a Polícia Militar informou que recebeu o chamado para lidar com um tumulto no local, inclusive com agressões. "Após a chegada da viatura, a situação foi controlada. Todas as imagens dos policiais que atuaram na ocorrência serão analisadas com o intuito de esclarecer se houve qualquer tipo de não conformidade no atendimento realizado", diz a nota.
Os organizadores da Elite Mansão agora contrataram uma agência para gerenciar as próximas edições — sim, a festa vai continuar. "Não coagimos [sic] com qualquer situação que envolva violência. Pedimos perdão a todos que se sentiram ofendidos."
Já Víctor diz um sonoro "não" quando questionado se voltaria às próximas edições: "Estou chateado".
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