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Designer recria Barbies personalizadas: 'Meu sonho é fazer Janja e Lula'

Vini Uehara em seu ateliê, nos fundos de casa: bonecas customizadas de Pabllo Vittar viralizaram - Paola Churchill/UOL
Vini Uehara em seu ateliê, nos fundos de casa: bonecas customizadas de Pabllo Vittar viralizaram Imagem: Paola Churchill/UOL

Paola Churchill

Colaboração para o TAB, de São Paulo

30/05/2023 04h01

Quando tinha 6 ou 7 anos, Vini Uehara era apaixonado por desenhar princesas. Passava a aula inteira recheando cadernos com elas. O que era um passatempo inofensivo, acabou virando problema quando sua mãe foi chamada pela direção da escola. A mãe pediu que ele não fizesse mais aquilo. "Perguntei: 'O fulano só fica desenhando bola de futebol. Por que não chamaram os pais dele?'. Naquela época, ser afeminado era um tabu. Ser gay então, inimaginável", diz o designer de bonecas, hoje com 33 anos.

O episódio na escola não reprimiu sua paixão. Uehara, que antes fazia suas próprias bonecas com saquinhos cheios de estopa e cabelos com rolo de fita cassete, começou a colecionar secretamente Barbies, que comprava com o dinheiro da mesada. "Alguém [encontrou e] jogou fora um dia", lamenta.

Ele se formou em moda e passou a trabalhar como ilustrador e designer. "Faço um pouco de tudo", brinca.

Mas foi em 2021 que ele de fato transformou sua paixão em negócio. Comprou um modelo do Ken, a versão masculina da Barbie, e decidiu lhe dar uma repaginada. Refez todo o rosto, mudou o cabelo, confeccionou roupas. Até a embalagem ele redesenhou nos mínimos detalhes. O que era uma brincadeira para dar de presente deu início ao "Dolls".

Designer de Barbies - Arquivo pessoal  - Arquivo pessoal
Talento precoce: escola estranhou obsessão do menino por desenhar princesas
Imagem: Arquivo pessoal

Primeiras encomendas

"Para ser honesto, foi um ótimo presente para uma péssima pessoa. Acredita que foi pro meu ex-namorado?", Uehara ri enquanto toma um gole de café. Quando ele postou a primeira boneca customizada em sua página no Instagram, logo começaram a pipocar elogios e pedidos por encomendas.

A primeira delas foi um pedido de seu melhor amigo, Lucas Castilho. Pensou em um look que Castilho gostava, com os óculos escuros que ele mais gostava, a miniatura de um disco da Madonna. Também personalizou a caixa com as frases que ele mais usava. Outras pessoas começaram a pedir sua versão boneca.

"A parte que eu mais gosto é essa, ver a reação das pessoas. Tem gente que chora, que ri. Ou quando um grupo de amigos presenteia alguém com a Doll, porque a pessoa vê como aqueles que a amam a veem. Contam uma história através disso", completa.

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Amigos gostam de presentear alguém com uma Barbie ou um Ken com seus traços e objetos característicos
Imagem: Paola Churchill/UOL

'Faço tudo sozinho'

Desde que abriu a Dolls, Uehara produziu e vendeu mais de 30 bonecas. Seu nome viralizou após o design presentear com uma de suas bonecas a cantora Pabllo Vittar.

A influenciadora e designer Nath Araújo quis a sua, e a imagem da boneca também chamou a atenção no Instagram do Dolls. Com a estreia no Brasil, em julho, do filme "Barbie", dirigido por Greta Gerwig, Uehara estima que as vendas devem crescer ainda mais.

"Só esse mês, tenho dez encomendas, e eu faço tudo sozinho, com minhas duas mãos e meus dez dedinhos", diz ele. "Sabe, me sinto meio que nem aquele personagem do Toy Story que remonta os brinquedos." Uehara fez também um boneco em homenagem ao seu pet, o cachorrinho Nico.

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Capricho: o designer cria também as embalagens e logotipos que acompanham o presente
Imagem: Paola Churchill/UOL

A produção artesanal acontece no ateliê instalado nos fundos de sua casa. Repleto de tintas, acessórios de bonecas e Barbies de todos os tipos. Cada Doll leva em torno de 5 horas para ficar pronta, das modificações no rosto da boneca, ao figurino, objetos característicos da pessoa que acompanham e desenho da caixa.

Cada uma custa entre R$ 400 e R$ 600, de acordo com as dificuldades de elaboração e acessórios.

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Uehara confeccionou um boneco de seu cachorrinho de estimação, Nico
Imagem: Paola Churchill/UOL

Retratos de época

Uehara acredita que a paixão das pessoas pelas bonecas vai além do saudosismo: elas contam uma história. "Acho que trazem uma sensação de nostalgia, mas a pessoa também se vê na boneca, né? E como estamos sempre em mudança, imagina você olhar a caixa e ver como era há 10 anos? Muda muita coisa."

Para ser mais fiel às encomendas, Vini desenvolveu um formulário para saber os detalhes de quem será retratado. "Recebo poucos pedidos de pessoas pedindo bonecas para si próprios. Geralmente, é um grupo de amigos querendo surpreender. Ou uma filha dando de presente pra mãe..

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Matéria prima da fábrica Mattel passa pelo artesanato do designer
Imagem: Paola Churchill/UOL

O designer diz que busca atender os mais diversos biotipos: "A Mattel aumentou a diversidade das bonecas, mas são muito mais caras. Então, eu mesmo dou um jeito para todo mundo se sentir representado e se ver na boneca. Todo mundo merece uma Barbie que seja a sua cara, e trabalho justamente pra isso".

Se aos 6 anos gosto por princesas e bonecas trouxe problemas na vida de Vini Uehara, hoje ele vive do próprio sonho.

"Tenho muitas coisas a realizar ainda. Estou criando uma coleção de bonecas com referência nos filmes dos anos 1980 e na estética exagerada do movimento Camp. Mas, tem dois sonhos que quero muito realizar ainda: conhecer a fábrica da Mattel na Califórnia e fazer uma doll para o presidente Lula e pra Janja. Ia ser legal de dia dos namorados, não?", lança a ideia, com um sorriso.