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Bebida de BH, Xeque Mate conquista mercado e pretende abrir bar em SP

Gabriel Rochael, mineiro que inventou a bebida Xeque Mate, quer levar a casa de drinks do grupo, a Mascate, para SP - Nina Rocha/UOL
Gabriel Rochael, mineiro que inventou a bebida Xeque Mate, quer levar a casa de drinks do grupo, a Mascate, para SP Imagem: Nina Rocha/UOL

Nina Rocha

Colaboração para o TAB, de Belo Horizonte

19/05/2023 04h01

Numa festa em Belo Horizonte, certa vez alguém pediu a Gabriel Rochael, 32, um drink diferente com rum. À época estudante de engenharia na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e trabalhando como barman, ele improvisou: misturou chá mate, limão e xarope de guaraná, combinação que sua mãe sempre tinha na geladeira. Nascia o Xeque Mate.

Com dois amigos, ele levou a receita para a cozinha. Não demorou muito tempo para que o drink autoral conquistasse clientela. Sempre que alguém pedia catuaba ou outros coquetéis, o então estudante via a deixa perfeita para sugerir sua invenção.

"Setembro de 2015 foi a primeira vez que a gente fez. Na semana seguinte, a gente já tava abrindo o CNPJ", lembra.

Na época, a fabricação caseira, feita em uma panela de ferro na cozinha simples, era levada para festas em galões de 5 litros. O rum não era dos melhores, mas a versão engarrafada, embalada em sacos de pão com design caprichado, já mostrava que os jovens apostavam alto na marca.

A fórmula caiu no gosto mineiro. Aos poucos, o negócio foi crescendo: a produção migrou para uma estrutura emprestada por amigos cervejeiros e hoje está instalada em uma fábrica própria no bairro Serrano, capaz de produzir 300 litros por mês. O rum antigo foi substituído por um destilado também de fabricação própria, que vem de Conselheiro Lafaiete (MG), a 96 km de Belo Horizonte. Hoje, a versão enlatada está nos apps de delivery, nas gôndolas de mercados e nas ruas.

Gabriel Rochael, mineiro que inventou a bebida Xeque Mate - Nina Rocha/UOL - Nina Rocha/UOL
'Colocamos ingredientes bem brasileiros, o mate, o guaraná, o limão'
Imagem: Nina Rocha/UOL

Segundo Gabriel, a popularidade do Xeque Mate juntou a sede e a vontade de beber: a boêmia BH vivia um momento de fortalecimento da cena cultural, com diversos eventos ocupando as ruas, onde se espalhou a novidade — diferentemente da cerveja, a invenção belo-horizontina não precisa estar "trincando" de gelada para descer bem e, como é menos diurética, implica menos idas ao banheiro (fator considerável para as festas de rua).

"Quando o boom de cervejas artesanais estava acontecendo, a gente tentou sair do óbvio. Colocamos ingredientes bem brasileiros, o mate, o guaraná, o limão. O pessoal também gosta da propriedade energética que a mistura traz", diz.

'De Minas para a Muralha da China'

De BH, a bebida foi se espalhando pelo país. A analista de mídias Priscila Santos, 33, é fã declarada: "Miss Xeque Mate" no Twitter, costuma levar o mimo mineiro para outros estados quando viaja. Hoje, comemora ela, está mais fácil de encontrar em outras cidades, pois a empresa tem pontos de venda na Bahia, no Espírito Santo e em Santa Catarina.

O maior salto foi na cidade de São Paulo: a estratégia comercial começou há cerca de um ano e rendeu frutos principalmente no último Carnaval de rua, quando a bebida caiu na graça dos foliões.

Nos bastidores da expansão está uma equipe de aproximadamente cem profissionais (o faturamento da empresa não é divulgado). O próximo passo é levar a casa de drinks do grupo, a Mascate, para a capital paulista — eles esperam abrir um bar em Pinheiros ainda neste ano. Em BH já há três unidades, uma delas no hypado Mercado Novo, no centro, onde a bebida é vendida "on tap".

Segundo Gabriel, a ideia é continuar investindo na identidade da marca atrelada a eventos culturais a fim de atrair um público fiel em que os consumidores também são divulgadores do drink, como Priscila, que já ganhou de amigos uma lata personalizada com sua foto.

Bar do Xeque Mate, em BH - Nina Rocha/UOL - Nina Rocha/UOL
Lata personalizada que amigos deram de presente a Priscila Santos, fã de Xeque Mate
Imagem: Nina Rocha/UOL

A mineira fez a festa de seu aniversário de 30 anos com a temática Xeque Mate, com letreiro luminoso e bolo de chocolate amargo com rum. "Quero Xeque Mate até no restaurante do 1.º andar da Torre Eiffel e na Muralha da China", brinca.

Quem também faz a festa com a bebida são os ambulantes. No Carnaval de 2023, eles celebravam a cada reabastecida dos carrinhos de isopor: as latinhas custavam aos foliões entre R$ 12 e R$ 25, garantindo aos vendedores lucros de até 50%.

Ex-programador e atualmente ambulante, Guilherme Henrique Aragão, 28, não bebe, mas também tem seu drink favorito. Ele conta que costuma ver a programação cultural da cidade para descobrir onde o movimento está e vai atrás dele. Sai do São Gabriel, bairro onde mora na região nordeste da cidade, e se envereda pelas zonas leste ou centro-sul para vender bebida na rua — Xeque Mate é seu carro-chefe.

Um pallet, com 280 caixas, é o suficiente para um mês e lhe rende cerca de R$ 4.000. Diz que às vezes, aos domingos, chega a vender 40 caixas. "Tá estourado, né? Vende sozinho. É só gritar que tá R$ 10 que vai."

Bar do Xeque Mate, em BH - Nina Rocha/UOL - Nina Rocha/UOL
No Mercado Novo, no centro de Belo Horizonte, o bar tem Xeque Mate 'on tap'
Imagem: Nina Rocha/UOL