Bebida de BH, Xeque Mate conquista mercado e pretende abrir bar em SP

Numa festa em Belo Horizonte, certa vez alguém pediu a Gabriel Rochael, 32, um drink diferente com rum. À época estudante de engenharia na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e trabalhando como barman, ele improvisou: misturou chá mate, limão e xarope de guaraná, combinação que sua mãe sempre tinha na geladeira. Nascia o Xeque Mate.
Com dois amigos, ele levou a receita para a cozinha. Não demorou muito tempo para que o drink autoral conquistasse clientela. Sempre que alguém pedia catuaba ou outros coquetéis, o então estudante via a deixa perfeita para sugerir sua invenção.
"Setembro de 2015 foi a primeira vez que a gente fez. Na semana seguinte, a gente já tava abrindo o CNPJ", lembra.
Na época, a fabricação caseira, feita em uma panela de ferro na cozinha simples, era levada para festas em galões de 5 litros. O rum não era dos melhores, mas a versão engarrafada, embalada em sacos de pão com design caprichado, já mostrava que os jovens apostavam alto na marca.
A fórmula caiu no gosto mineiro. Aos poucos, o negócio foi crescendo: a produção migrou para uma estrutura emprestada por amigos cervejeiros e hoje está instalada em uma fábrica própria no bairro Serrano, capaz de produzir 300 litros por mês. O rum antigo foi substituído por um destilado também de fabricação própria, que vem de Conselheiro Lafaiete (MG), a 96 km de Belo Horizonte. Hoje, a versão enlatada está nos apps de delivery, nas gôndolas de mercados e nas ruas.
Segundo Gabriel, a popularidade do Xeque Mate juntou a sede e a vontade de beber: a boêmia BH vivia um momento de fortalecimento da cena cultural, com diversos eventos ocupando as ruas, onde se espalhou a novidade — diferentemente da cerveja, a invenção belo-horizontina não precisa estar "trincando" de gelada para descer bem e, como é menos diurética, implica menos idas ao banheiro (fator considerável para as festas de rua).
"Quando o boom de cervejas artesanais estava acontecendo, a gente tentou sair do óbvio. Colocamos ingredientes bem brasileiros, o mate, o guaraná, o limão. O pessoal também gosta da propriedade energética que a mistura traz", diz.
'De Minas para a Muralha da China'
De BH, a bebida foi se espalhando pelo país. A analista de mídias Priscila Santos, 33, é fã declarada: "Miss Xeque Mate" no Twitter, costuma levar o mimo mineiro para outros estados quando viaja. Hoje, comemora ela, está mais fácil de encontrar em outras cidades, pois a empresa tem pontos de venda na Bahia, no Espírito Santo e em Santa Catarina.
O maior salto foi na cidade de São Paulo: a estratégia comercial começou há cerca de um ano e rendeu frutos principalmente no último Carnaval de rua, quando a bebida caiu na graça dos foliões.
Nos bastidores da expansão está uma equipe de aproximadamente cem profissionais (o faturamento da empresa não é divulgado). O próximo passo é levar a casa de drinks do grupo, a Mascate, para a capital paulista — eles esperam abrir um bar em Pinheiros ainda neste ano. Em BH já há três unidades, uma delas no hypado Mercado Novo, no centro, onde a bebida é vendida "on tap".
Segundo Gabriel, a ideia é continuar investindo na identidade da marca atrelada a eventos culturais a fim de atrair um público fiel em que os consumidores também são divulgadores do drink, como Priscila, que já ganhou de amigos uma lata personalizada com sua foto.
A mineira fez a festa de seu aniversário de 30 anos com a temática Xeque Mate, com letreiro luminoso e bolo de chocolate amargo com rum. "Quero Xeque Mate até no restaurante do 1.º andar da Torre Eiffel e na Muralha da China", brinca.
Quem também faz a festa com a bebida são os ambulantes. No Carnaval de 2023, eles celebravam a cada reabastecida dos carrinhos de isopor: as latinhas custavam aos foliões entre R$ 12 e R$ 25, garantindo aos vendedores lucros de até 50%.
Ex-programador e atualmente ambulante, Guilherme Henrique Aragão, 28, não bebe, mas também tem seu drink favorito. Ele conta que costuma ver a programação cultural da cidade para descobrir onde o movimento está e vai atrás dele. Sai do São Gabriel, bairro onde mora na região nordeste da cidade, e se envereda pelas zonas leste ou centro-sul para vender bebida na rua — Xeque Mate é seu carro-chefe.
Um pallet, com 280 caixas, é o suficiente para um mês e lhe rende cerca de R$ 4.000. Diz que às vezes, aos domingos, chega a vender 40 caixas. "Tá estourado, né? Vende sozinho. É só gritar que tá R$ 10 que vai."
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