Gusttavo Lima fez anúncio da Vai de Bet em shows milionários de prefeituras
Gusttavo Lima fez propagandas da Vai de Bet em dois shows bancados com verba pública, em que o cantor ganhou cachês milionários de prefeituras para cantar.
As ações publicitárias aconteceram no palco do São João 2024 de Maceió (AL), em que o sertanejo recebeu R$ 1,2 milhão, e de Santa Rita (PB), que custou R$ 1,1 milhão.
O cantor é apontado como dono de 25% da Vai de Bet no decreto de prisão feito na segunda-feira (23) pela juíza Andréa Calado da Cruz, e revogado na terça-feira (24).
A defesa do cantor, no entanto, diz que ele é apenas garoto-propaganda da empresa.
As ações de merchandising aconteceram no meio dos shows. Gusttavo Lima parou a música e levou uma roleta com a marca da empresa ao palco, com a ajuda de um locutor.
Durante cerca de dez minutos, o cantor chamou fãs para girar a roleta e sortear de R$ 1.000 a R$ 10 mil em nome da Vai de Bet.
Ao longo das apresentações, o sertanejo também deu gritos aleatórios de "Vai de Bet: a melhor do Brasil" e jogou bonés com a marca da empresa de apostas online ao público.
O UOL procurou Gusttavo Lima, a Vai de Bet e as prefeituras de Maceió e Santa Rita. Os questionamentos foram quanto a empresa pagou pela propaganda e qual porcentagem foi para os municípios e para o artista.
Apenas a Prefeitura de Maceió enviou uma resposta, dizendo que seus contratos de patrocínio "estão amparados na legislação municipal", sem informar os valores nem os termos.
Nenhuma das duas prefeituras publicou o contrato de patrocínio com a Vai de Bet em seus sites.
Ação incomum
A Vai de Bet era uma das patrocinadoras das festas de São João nas duas cidades.
Nas apresentações dos outros cantores que participaram dos eventos, os anúncios ficavam em placas ao redor do palco. Não houve ação no meio do show e com a voz do artista, como no caso de Gusttavo.
O patrocínio de empresas privadas em grandes festas públicas de São João é normal. A renda costuma ajudar a cobrir parte dos gastos dos eventos.
No entanto, propagandas feitas pelos próprios artistas no meio dos shows não são usuais.
Este tipo de anúncio é um pouco mais comum em shows privados, como grandes festivais. Neste caso, a renda da propaganda é dividida entre o artista e os produtores do evento.
O contrato de Gusttavo Lima com as duas prefeituras previa o pagamento de cachês apenas para os shows, sem citar publicidade.
Investigação em Pernambuco
A juíza do caso diz que o cantor ajudou o casal José André da Rocha Neto e Aislla Sabrina Truta Henriques Rocha, donos da Vai de Bet, a fugir do Brasil para a Europa após uma ordem de prisão contra eles.
A prisão preventiva de Gusttavo Lima, pedida no dia 23, não ocorreu. Ele havia viajado para Miami na madrugada do mesmo dia. O cantor permaneceu nos EUA até a revogação, no dia 24.
Eduardo Guilliod, desembargador que revogou o pedido, não viu provas de que Gusttavo ajudou o casal a fugir, e disse que a informação da juíza de que o cantor comprou 25% da Vai de Bet não é prova de crime.
Maior cachê do Brasil
Gusttavo Lima tem o maior cachê do Brasil atualmente. Em 2024, o show do sertanejo custa entre R$ 900 mil e R$ 1,2 milhão, tanto em eventos públicos ou privados.
Nestes eventos, o sertanejo costuma fazer vídeos elogiando os prefeitos. O agrado mais comum é falar que o gestor é um "paizão" ou um "prefeitão".
Emerson Panta (PP), prefeito de Santa Rita, e JHC (PL), prefeito de Maceió, foram elogiados por Gusttavo Lima no palco.
O uso de shows públicos em que artistas exaltam gestores tem aumentado em todo o Brasil e pode ser considerado abuso de poder político.
A conduta ilícita é responsabilidade do prefeito, não dos artistas, como o UOL já explicou.
Show público parou - e agora disparou
Em 2022, Gusttavo foi um dos grandes alvos de uma polêmica sobre shows de prefeituras.
Na época, o sertanejo Zé Neto, parceiro de Cristiano, causou furor ao criticar Anitta e a Lei Rouanet durante um show em Sorriso (MT).
"Não dependemos da Lei Rouanet. Nosso cachê quem paga é o povo", Zé Neto disse.
Aquele show da dupla tinha sido bancado pela prefeitura e custou R$ 400 mil.
A polêmica levou à descoberta de cachês mais polpudos de outros sertanejos.
Naquele ano, Gusttavo Lima tinha feito ao menos sete shows de prefeituras, com cachês que somaram R$ 5,5 milhões.
A controvérsia levou ao cancelamento de cinco apresentações do cantor a pedido do MP, pelos quais ele ganharia R$ 4,7 milhões.
Em maio de 2022, Gusttavo Lima disse em um vídeo de desabafo: "Nunca me beneficiei 'sobre' dinheiro público (...) Não compactuo com dinheiro público, sou um cara que tenho meus impostos em dia".
Em 2023, fez apenas três shows de prefeituras. O valor total foi de R$ 2,5 milhões.
Mas em 2024 o número disparou. Foram 20 shows que custaram R$ 21,9 milhões até agora.
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