Empresa acusada de elo com PCC contratou contador ligado a Milton Leite
A empresa de ônibus Transwolff contratou o escritório de um contador ligado ao vereador Milton Leite (União Brasil) quando se preparava para disputar uma licitação pública da Prefeitura de São Paulo.
A Transwolff é uma das empresas acusadas pelo MP-SP (Ministério Público de São Paulo) de lavar dinheiro para o PCC (Primeiro Comando da Capital), maior facção criminosa do país.
O contador é Carlos Eduardo Prado, que é amigo de Leite, presidente da Câmara Municipal de São Paulo.
O contrato entre a Transwolff e o escritório de contabilidade de Prado foi assinado em 1º de abril de 2015. O UOL teve acesso ao documento com exclusividade.
Em 10 de agosto daquele ano, a empresa contratou o escritório do advogado Luciano Vitor Engholm Cardoso, também ligado a Leite, para prepará-la para disputar essa licitação, conforme revelou o UOL.
Leite é um dos alvos da investigação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) do MP-SP.
Procurada, a promotoria afirma que avaliará as informações.
Promotores afirmam no inquérito haver indícios de uma "relação de apoio" entre Leite e a Transwolff, informou o UOL.
Segundo o Gaeco, Leite teve "papel juridicamente relevante" nos crimes da Transwolff, revelou a Folha de S.Paulo.
De acordo com o edital de 2015, a Transwolff precisava de um capital mínimo de R$ 25 milhões para poder concorrer à licitação.
A denúncia do MP afirma que o capital da empresa foi aumentado com "aporte de recursos de origem ilícita, notadamente da organização criminosa PCC".
O UOL perguntou a Prado se Leite intermediou o contato com a Transwolff.
Ele respondeu que o escritório exerce atividades "há 40 anos, atuando para diversos segmentos, com cerca de 100 colaboradores, prestando serviços na área contábil, tais como consultoria fiscal, planejamento estratégico, RH e societária, para clientes nos diversos ramos de atividades".
Procurado, Leite afirmou que está sendo perseguido politicamente pelo UOL."Nunca fui e não sou dono da Transwolff", acrescentou, em nota.
Quem é o contador
Prado é sócio-diretor da CNC Contábil. No LinkedIn, ele se apresenta como "professor universitário em contabilidade geral, custos e de instituições financeiras" e "perito judicial e assistente técnico contábil".
O UOL apurou que o contador se relaciona em diversas frentes com Milton Leite e com Luiz Carlos Efigênio Pacheco, o Pandora, dirigente da Transwolff que hoje é réu na Justiça.
As relações entre Prado e Leite:
- No fim de 2023, quando Felipe Leite, caçula de Milton Leite, se tornou sócio da construtora Neumax, foi Prado quem assinou a autenticação dos documentos na Junta Comercial. Prado e Leite dizem que o contador nunca prestou serviço para a construtora;
- Em 2022, Milton Leite postou no Instagram fotos com Prado em um evento no CDC (Clube da Comunidade) Maria Felizarda da Silva, de Jurubatuba, na zona sul. O vereador diz que havia destinado emendas para o local. Prado é presidente do clube;
- Em 2020, segundo registro da prefeitura, o email oficial de Prado da CNC Contábil foi indicado como destinatário de mais de R$ 130 mil de emendas parlamentares de Leite para projetos esportivos no CDC;
- No dia 25 de julho deste ano, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) publicou uma lei que, entre outros pontos, cedeu uma área municipal para o CDC de Prado. Leite é aliado político de Nunes;
- Prado também é amigo de Leite, conta uma fonte que foi próxima de ambos. O contador frequenta o camarote e já desfilou na escola de samba Estrela do Terceiro Milênio, cujo presidente de honra é o político.
As relações entre Prado e Pandora:
- Prado foi quem fundou a empresa que injetou dinheiro na Transwolff. Abriu a CPS003 Participações, em 2014, e passou o controle para Pandora e Pinto em 2015. Foi quando a CPS003 virou a holding MJS Participações. Segundo o MP, a MJS nunca teve atividade econômica, mas recebeu mais de R$ 50 milhões -- capital que foi incorporado à Transwolff para habilitá-la a participar do edital aberto pela SPTrans;
- Prado também é contador da Transwolff desde então. Pandora contratou o escritório dele para serviços contábeis, em 2015, e consultoria administrativa, em 2019.
- Assim como ocorreu com o contrato assinado entre a Transwolff e o advogado Engholm Cardoso, aditivos do acordo entre a empresa e o escritório de Prado têm um erro de grafia: Pandora assinou em nome da Transwolf (grafada incorretamente no documento com um F só).
Nos autos
Prado não é réu da Operação Fim da Linha.
Outro contador é acusado de participar dos crimes atribuídos à Transwolff: Joelson Santos da Silva, do escritório de contabilidade Demark, que atendeu a Transwolff até março de 2015 — a CNC Contábil assumiu depois dessa data.
Nos autos, a defesa de Silva afirmou, em 2 de julho, que ele já não era contador da Transwolff na época do edital da SPTrans e que não teve participação em supostos crimes envolvendo licitações.
Procurado pela reportagem, Silva informou que está judicialmente impedido de dar entrevista sobre o caso.
Deixe seu comentário