Com fartura de emendas, terra de Motta tem muito asfalto e pouco esgoto
No município de Patos, no sertão da Paraíba, apenas 13% dos 103 mil habitantes são atendidos por sistema de esgoto. Não há aterro sanitário e, quando chove após longos períodos de seca, o lixo entope as galerias pluviais e invade as ruas.
Apesar disso, em outras áreas, o município esbanja recursos do governo federal. O motivo é a influência do deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB), filho do prefeito Nabor Wanderley e, hoje, o favorito para suceder Arthur Lira (PP-AL) como presidente da Câmara.
Na cidade, há convênios de pavimentação com o governo federal em andamento que somam R$ 19 milhões e começaram a ser executados pouco antes do período eleitoral.
No palanque, a propaganda de Nabor Wanderley o classificava como "o prefeito das 200 ruas" que pavimentou.
Patos também é o município que mais recebeu verbas extras de saúde da Paraíba de 2019 a 2024, por indicação de Hugo Motta e do senador Efraim Filho (União-PB), seu aliado. Apenas com emendas individuais de Hugo, o município recebeu R$ 5,9 milhões nessa área.
Com essa verba, o município hoje tem duas unidades de pronto-atendimento 24 horas e duplicou, em dois anos, o número de atendimentos bancados pelo SUS.
Embora exista um hospital de grande porte na cidade, o transporte de pacientes também cresceu muito, de 50 mil quilômetros rodados em 2019 para 3,1 milhões de quilômetros em 2023. É como se cada cidadão de Patos percorresse 30 quilômetros de ambulância todo ano.
Segundo a prefeitura, esses deslocamentos antes não eram informados ao Ministério da Saúde. O município diz levar pacientes de ônibus e de carro para serem tratados em especialidades médicas que só existem em Campina Grande e João Pessoa.
Investigações sobre a prefeitura
Em meados de setembro, uma obra de pavimentação bancada por indicação de Hugo Motta com R$ 4,7 milhões em emendas de relator ("orçamento secreto") para a prefeitura foi alvo de operação da PF (Polícia Federal) com o MPF e CGU (Controladoria-Geral da União).
O MPF apura se houve superfaturamento, conluio entre os licitantes e "jogo de planilha" (quando os preços são manipulados para beneficiar o vencedor de uma licitação) no convênio.
O prefeito, que não é investigado nesse caso, diz que a prefeitura está colaborando com as investigações. "Confio muito no trabalho da gente, na nossa equipe. A gente mandou todas as informações em menos de 48 horas, para o MPF, para a CGU. Tudo vai ser esclarecido."
Obras paradas
Embora execute rapidamente as obras de pavimentação, o município tem dificuldade com obras de larga escala e acumula obras paradas para construir edificações de grande porte.
É o caso do Teatro Municipal, da Vila Olímpica e do CIE (Centro de Iniciação ao Esporte), todos iniciados com verba federal enviada com o auxílio de Hugo Motta e, hoje, incompletos.
No saneamento, a obra de drenagem do Canal do Frango, que custou R$ 27,4 milhões em recursos do governo federal, liberados com auxílio de Hugo Motta no Ministério das Cidades, virou um esgoto a céu aberto devido a problemas de infraestrutura.
Inaugurado em 2013 após oito anos de obras, o canal não conseguiu prevenir inundações e está cheio de lixo. A prefeitura diz que é preciso fazer uma nova obra para consertar as falhas da anterior, o que, segundo Nabor Wanderley, deve ocorrer até o fim do ano.
Nabor fez, recentemente, um acordo de não persecução penal com o Ministério Público para implementar um sistema de coleta de lixo no município. Os dejetos antes eram enviados para um lixão irregular. Agora, são levados por uma empresa contratada pela prefeitura até um aterro em outra cidade.
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