O que foi o tenentismo: as origens, as lutas, as consequências
A politização das forças policiais no Brasil, que ganhou contornos nítidos nos últimos tempos, evoca por vezes um movimento nacional importante, ocorrido nas primeiras décadas do século 20. Hora ou outra, volta-se a falar do tenentismo, uma das principais mobilizações nacionais vindas de uma categoria profissional. O movimento tenentista voltou-se contra a República Velha, que se iniciou em 15 de novembro de 1889 e terminou com a Revolução de 1930, liderada por Getúlio Vargas, e culminou com a ascensão de Getúlio Vargas, inaugurando o chamado Estado Novo.
Entenda o que foi esse movimento.
Tudo sobre o tenentismo
O que foi o tenentismo?
O tenentismo foi um movimento político surgido entre militares de média e baixa patentes que protestavam contra a chamada República Velha, regime político que se estende da Proclamação da República, em 1889, até a Revolução de 1930, liderada por Getúlio Vargas. Nos últimos anos desse período, prevaleceu um arranjo político conhecido como café com leite, em que paulistas e mineiros se revezavam no poder.
O tenentismo pedia um governo democrático e o fim do voto aberto. Reivindicavam ainda melhorias políticas e sociais no país.
O que causou o tenentismo?
O tenentismo faz parte de um conjunto de movimentos e manifestações que ocorreram no Brasil durante a década de 1920, decorrentes da crise da República Velha, marcada por um sistema eleitoral corrupto, com uma economia protecionista centrada na produção de café para exportação, que valorizava as oligarquias. O resultado disso foi uma condição econômica muito precária para brasileiros de várias regiões do país, que cada vez mais dependiam de favores e assistência dos "coronéis" locais, que dominavam as áreas e controlavam o voto popular — chamado na época de "voto de cabresto".
Embora o tenentismo tenha se destacado como um movimento armado, houve manifestações substanciais na época contra o sistema político decadente do país, como a Reação Republicana (uma coligação política que visava eliminar o monopólio MG-SP nas eleições presidenciais), a Coluna Prestes, de 1924 (já ligada ao tenentismo), a fundação do Partido Comunista do Brasil e até ações de cunho cultural, como a Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo (que gerou vaias e comoções).
Como começou o tenentismo?
Para alguns historiadores, o movimento acabou amalgamando diversas revoltas populares da época e representavam, de certa forma, a vanguarda da classe média que estava à margem de um sistema que priorizava só as oligarquias. Para outros especialistas, foi um movimento que contou com o descontentamento dos militares nessas patentes mais baixas, somado à desvalorização das Forças Armadas e a vantagem de serem numerosos.
Qual foi o resultado do movimento tenentista?
Os levantes armados protagonizados pelos tenentistas pavimentaram o caminho direto para a Revolução de 1930, que depôs o presidente Washington Luís, impediu que Júlio Prestes tomasse posse e pôs fim à República Velha.
Na eleição fraudulenta que deu vitória a Prestes (o candidato apoiado pelo paulista Washington Luís), Getúlio Vargas saiu candidato pela Aliança Liberal, fruto da união política entre os partidos políticos dos estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba. O partido contava com o apoio político-militar de diversos tenentes que participaram do movimento tenentista na década anterior.
Vargas, que perdera a eleição, ajudou a articular rebeliões e ações militares para impedir a posse de Prestes, principalmente depois de seu vice, João Pessoa, ser assassinado no Recife, por motivos alheios à eleição propriamente dita. Em 1º de novembro de 1930, a junta militar passou o poder e a chefia do Governo Provisório a Getúlio, consolidando a revolução.
Quais os principais levantes protagonizados pelo movimento tenentista?
Os principais levantes foram: a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, em 1922, a Revolta Paulista de 1924, a Comuna de Manaus, também em 1924, e a Coluna Prestes de 1924 a 1927, que se revoltou contra o governo de Artur Bernardes em Minas Gerais e reivindicava o voto secreto, a alfabetização para toda a população e o fim da miséria no país.
Como acabou o movimento tenentista?
Não houve um evento definitivo que pôs fim ao movimento tenentista. Alguns levantes derrotados pela Força Pública foram essenciais para que acontecesse a Revolução de 1930, enterrando o República Velha.
Na década de 1930, com o país já sob o poder de Getúlio Vargas, grande parte dos tenentes que participaram do movimento foi anistiada.
Quais eram os principais objetivos do movimento tenentista?
O movimento tenentista era diverso e nem sempre foi homogêneo politicamente. Não havia uma ideologia definida no movimento, mas as principais reivindicações giravam em torno da modernização do Estado brasileiro e o fim da política oligárquica, que priorizava os estados cuja principal fonte de renda eram a economia do café. No entanto, em outros levantes, como a Coluna Prestes, os líderes do movimento (Luis Carlos Prestes e Miguel Costa) exigiam o acesso ao ensino escolar para toda a população, além de outras melhorias sociais para extinguir a miséria.
Quem participou do tenentismo?
Militares jovens de baixa e média patentes do Exército Brasileiro. A grande maioria dos membros eram tenentes, daí o nome do movimento (que foi analisado com mais afinco na década de 1930).
Não há um só líder do movimento tenentista. Porém, os principais nomes do movimento são Luís Carlos Prestes (que em 1934 lideraria a Revolta Comunista), Miguel Costa, Siqueira Campos, João Cabanas, Juarez Távora, Djalma Dutra, dentre outros.
O que foi o 'primeiro' e o 'segundo' 5 de julho?
Foram os dias da Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, na cidade do Rio de Janeiro. Ela se iniciou no dia 5 de julho e acabou no dia seguinte. Foi a primeira revolta do movimento tenentista em 1922.
Qual foi o objetivo da Revolta dos 18 do Forte de Copacabana?
A Revolta dos 18 do Forte de Copacabana foi a primeira grande revolta tenentista. Seu evento catalisador foi a eleição presidencial de 1922, que elegeu Artur Bernardes para o cargo. Em 1921, a imprensa publicou as "cartas falsas" escritas por Bernandes, contendo acusações contra o Exército Brasileiro, e ofensas ao marechal Hermes da Fonseca. O material agravou a instabilidade entre alas do Exército e o Estado.
Essa série de tensões culminou no presidente em exercício, Epitácio Pessoa, ordenar o fechamento do Clube Militar (do qual Fonseca era presidente) em 2 de julho, gerando uma série de revoltas por quartéis e bases militares. Uma delas foi o Forte de Copacabana no Rio de Janeiro.
A resposta do Exército contra as alas que se rebelaram foi intensa. Quem resistiu até o fim foram os tenentes do Forte de Copacabana que, ao virem que não poderiam vencer, marcharam pela Avenida Atlântica, de encontro às tropas legalistas que os esperavam.
Apesar de derrotados, a mítica em torno do evento foi inspiradora para outros levantes que aconteceram na mesma década, como a Revolta Paulista de 1924.
Quem foi o líder da Revolta dos 18 do Forte de Copacabana?
A revolta teve a participação do capitão Euclides Hermes da Fonseca (filho do marechal Hermes da Fonseca), dos tenentes Siqueira Campos, Eduardo Gomes, Newton Prado e Mário Carpenter. No total, 301 militares se rebelaram.
O que foi a segunda revolta tenentista?
A Revolta Paulista de 1924, ou a Revolução Esquecida, iniciou-se na madrugada de 5 de julho e terminou em 28 de julho de 1924. As reivindicações vinham de um descontentamento grande com a situação da "política do café com leite", e exigia a deposição do presidente Artur Bernardes, o voto secreto, a justiça gratuita e o ensino público obrigatório. Ela foi liderada pelo general reformado Isidoro Dias Lopes e contou com a participação de vários tenentes.
Durante esse período, diversos bairros foram bombardeadas por aviões do Governo Federal. Mais uma vez, sem condições de enfrentar o poder de fogo das tropas legalistas, a revolta veio ao fim após 23 dias.
Dois anos após a Revolta do Forte de Copacabana, a Revolta Paulista ganhou desta vez mais atenção e cobertura nacional da imprensa, consolidando o movimento tenentista como um dos símbolos contra a República Velha.
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