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Participantes do Path contam como é empreender com cannabis no Brasil

Jardineira cuida de plantação de maconha em Nueva Helvecia, a 120 km de Montevideu, Uruguai - Pablo Brune/AFP
Jardineira cuida de plantação de maconha em Nueva Helvecia, a 120 km de Montevideu, Uruguai Imagem: Pablo Brune/AFP

Luiza Pollo

Da Agência Eder Content, colaboração para o TAB, em São Paulo

31/05/2019 04h01

No início de junho, o Supremo Tribunal Federal deve decidir se o porte de drogas para uso pessoal será descriminalizado. E, ao que tudo indica, a maconha tem uma chance. A droga, que de acordo com relatório da ONU é mais consumida no mundo, é ilegal aqui no Brasil, mas sustenta indiretamente diversos empreendimentos legais no país, seja no ramo da medicina ou da recreação.

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Veja a programação completa

O empreendedorismo cannabico será tema de painel no Festival Path, que ocorre neste fim de semana (1 e 2 de junho) em diversos pontos da região da Avenida Paulista, em São Paulo, e neste ano é apresentado pelo TAB.

Na mesa, estarão Marcelo Grecco, cofundador da empresa The Green Hub e CEO do Centro de Excelência Canabinóide; Camila Teixeira, CEO da INDEØV, primeira empresa especializada em acesso à cannabis medicinal no Brasil, e Jonas Rossatto, empresário que atualmente administra nove negócios diferentes no ramo da cannabis.

Nos Estados Unidos, essa indústria já emprega mais de 250 mil pessoas apenas na manipulação das plantas e movimentou US$ 10,4 bilhões em 2018, segundo a New Frontier Data, empresa de pesquisa e análise de dados do mercado da cannabis. Lá, a planta já tem até segmento de luxo, com isqueiros vendidos a US$ 450 e bolsinhas para guardar a maconha a US$ 955.


Uso recreativo

Rossatto trabalha na área há mais de dez anos, desde que identificou uma oportunidade de mercado em 2006. "Eu nem fumava maconha assiduamente, mas trabalhava com informática, era meio hacker", conta. Foi quando surgiu a ideia de criar um site dedicado a informações sobre a planta, desde o cultivo e a extração até o fumo em si. Não durou mais que alguns meses, mas, a partir dali, ele teve um "estalo" para o negócio, como disse.

O empresário, que mora no Uruguai há dois anos, lançou em 2007 o app Reservar Cannabis para ajudar as farmácias uruguaias no controle da venda. Ele vem com frequência ao Brasil, já que tem diversos produtos focados no público daqui.

A WeedTour, por exemplo, oferece turismo cannabico para brasileiros, e o Canabista é um clube de assinatura que entrega produtos como sedas, filtros, camisetas e até um gibi temático. Outro exemplo é o BudMaps, que ajuda a encontrar advogados, médicos e ONGs que trabalham com cannabis medicinal, além de locais para compras e consumo recreativo.

"O mercado já existe há anos, e no entanto é muito difícil as empresas saírem à luz", afirma. "Muita gente acha que só pelo fato de você ter uma tabacaria, vai ter gente fumando maconha na frente." Ele conta que teve problemas, por exemplo, com uma empresa que geria os pagamentos de um de seus sites. Apesar de não vender nada ilegal, a marca não quis se associar ao tema.

Rossatto vê espaço para empreender na área de tecnologia e pesquisa, principalmente para desenvolver produtos na área da alimentação. Mesmo que isso ainda não seja realidade no Brasil, o empreendedor vê como tendência em países onde a cannabis é regulamentada, e quem já tiver os estudos avançados poderá sair na frente se a legislação mudar no Brasil, avalia.

É uma erva natural

Também na esperança de que a flexibilização aconteça em breve está a INDEØV, primeira empresa especializada em acesso à cannabis medicinal no Brasil. "É muito importante colocar esse tema no âmbito da credibilidade, para que a gente possa desenvolver no país", opina Camila Teixeira, CEO da empresa.

Por enquanto, a INDEØV ajuda pacientes que buscam tratamento com cannabis a encontrarem médicos que prescrevam receitas com as substâncias derivadas, conseguir aprovação da Anvisa e, em seguida, realizar os trâmites de importação e entrega, além de oferecer apoio ao paciente e aos familiares. A empresa também atua para informar médicos por meio de consultoria e discussão de casos específicos.

Camila vê diversas iniciativas na área, mas ainda considera o campo "precário" pela falta de regulamentação. "Não é um mercado fácil no Brasil. Mas quem começar agora vai colher os frutos mais rápido à medida em que conseguirmos juntos chegar em frentes favoráveis à regulamentação", defende.

Um estudo da New Frontier Data em parceria com a The Green Hub aponta que o país tem potencial de movimentar R$ 4,7 bilhões anualmente com a flexibilização na legislação do uso da cannabis para fins medicinais, numa perspectiva de três anos após a flexibilização para o mercado já estabelecido.

"São diversas oportunidades para quem quer atuar, diversas dores que precisam ser suprimidas. Já é possível pensar na parte de pesquisa e de tecnologia", afirma Camila. "Se não olhar para isso agora, depois fica mais difícil. Daqui a pouco vai ter um monte de players e será mais complicado colher os frutos desse nicho."