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Para empresários, saúde pode fazer "canabusiness BR" movimentar R$ 4,7 bi

Marcha da Maconha no vão livre do MASP, em São Paulo - 01/06/2019 - Marcelo Justo/UOL
Marcha da Maconha no vão livre do MASP, em São Paulo - 01/06/2019 Imagem: Marcelo Justo/UOL

Letícia Naísa

do TAB, em São Paulo

01/06/2019 23h44Atualizada em 02/06/2019 22h42

Às 16h20 deste sábado (1), enquanto a Avenida Paulista se tornava palco de mais uma edição da Marcha da Maconha, em uma das salas do tradicional Clube Homs acontecia uma palestra sobre empreendedorismo canábico. No domingo (2), outro debate sobre maconha medicinal.

As mesas foram parte do Festival Path, maior evento de inovação e criatividade do país, que acontece neste fim de semana na região da Avenida Paulista. Neste ano, o Path é apresentado pelo TAB.

No primeiro debate, três empresários apresentaram seus projetos relacionados ao mercado da maconha, tanto recreativo quanto educativo e medicinal. Para todos, o caminho para o desenvolvimento do empreendedorismo e para a legalização começa por meio do uso medicinal da planta.

Palestra sobre empreendedorismo canábico no Brasil durante o Festival Path 2019 - Letícia Naísa/UOL - Letícia Naísa/UOL
Palestra sobre empreendedorismo canábico no Brasil durante o Festival Path 2019
Imagem: Letícia Naísa/UOL

"A parte medicinal emociona as pessoas e faz que elas sintam empatia pelo que é a cannabis", afirma Jonas Rossato, empresário que administra nove tipos de negócios no ramo. "Você precisa gerar essa simpatia e quebrar um preconceito que já é milenar", completa.

Segundo Marcelo Grecco, cofundador da empresa The Green Hub e CEO do Centro de Excelência Canabinóide, a procura por tratamento com maconha medicinal aumentou 2000% desde 2015. Naquele ano, uma a família Fischer conseguiu autorização da Justiça brasileira para importar legalmente medicamento com canabidiol, um dos extratos da maconha.

"Depois que eu vi o benefício que trouxe para a minha família, tudo mudou", conta Norberto Fischer, pai da Anny, que sofria de uma doença rara e encontrou tratamento eficaz em medicamento com canabidiol. Hoje, Fischer é um dos principais ativistas da causa pelo uso medicinal da planta.

"Envolver médicos nessa questão é importante, porque a gente não vai conseguir [a legalização] sem eles", afirmou Grecco. Ao mesmo tempo que houve aumento da procura pelo canabidiol, o número de médicos capacitados para prescrever, no entanto, subiu apenas 180% no mesmo período.

Uma das empresas que também se engaja na causa é a INDEØV, que ajuda pacientes que buscam tratamento com cannabis a encontrar médicos que possam prescrever e ajudar no trâmite necessário para importar o medicamento. "É um tema sensível e a luta é grande, falta informação e os médicos representam um gargalo ainda", afirma Camila Teixeira, CEO da INDEØV.

Na tentativa de reunir dados relevantes para pesquisa, a plataforma Dr. Cannabis, que conecta pacientes a médicos que prescrevem remédio com cannabis, acompanha os primeiros dias do tratamento e pede para os pacientes relatarem aos médicos o que funciona e para quê. "A gente ainda não sabe porquê, falta pesquisa científica, mas a gente já tem evidência clínica", afirma Viviane Sedola, fundadora da empresa, que participou de uma mesa sobre tratamentos com cannabis neste domingo (2), no Path.

"Tem vários entraves, mas não é impossível fazer pesquisa com cannabis, é a bola da vez", afirma a médica Paula Dall Stella, residente do Hospital das Clínicas de São Paulo. Para ela, a educação é o cerne do debate sobre a legalização.

Em números

Para Grecco, é possível que o debate possa avançar aos poucos. "Envolver médicos é importante, porque a gente não vai conseguir sem eles e o Brasil tem potencial para ser o maior mercado medicinal do mundo", afirma.

Um dos estudos da sua empresa em parceria com a New Frontier Data, empresa de pesquisa e análise de dados do mercado da cannabis, aponta que o país tem potencial para movimentar R$ 4,7 bilhões por ano com a flexibilização na legislação apenas para o uso medicinal da cannabis. "Toda vez que você dificulta alguma coisa, você está deixando de ganhar e criando um mercado negro", diz Grecco.

A regulamentação do uso medicinal pode abrir portas para um debate sobre uso recreativo da maconha num futuro um pouco mais distante, o que aumentaria ainda mais a cifra. A descriminalização do porte para uso pessoal da erva estaria em pauta no STF no início deste mês, mas foi adiada.