Topo

Path: Hitmaker do brega-funk diz que o futuro da música está na periferia

Produtor Dany Bala, a cantora de dancehall Lei di Dai e MC Rebecca falam na mesa "Qual é a cara da música popular brasileira?" no Festival Path - Marcelo Justo/UOL
Produtor Dany Bala, a cantora de dancehall Lei di Dai e MC Rebecca falam na mesa "Qual é a cara da música popular brasileira?" no Festival Path Imagem: Marcelo Justo/UOL

Tiago Dias

do TAB, em São Paulo

01/06/2019 16h59

Há muito mais na música popular brasileira do que julga o cânone centenário da MPB. É só dar uma volta nas ruas da periferia das capitais brasileiras. Esse som é rico em influências, feito para dançar e sem freios nas letras. Produtor de brega-funk, Dany Bala pode passar despercebido no circuito musical tradicional, mas é o cara que tem criado a nova trilha sonora das ruas em Pernambuco. E tudo indica que não é uma onda passageira.

"Na visão das classes mais baixas, o funk vai continuar na cena durante muito tempo. Já para o lado do Nordeste, o brega-funk não vai morrer tão cedo. Ele passou por mudanças e misturas, mas não morre, nunca vai deixar de ser brega", diz. Ele não sabe muito bem para onde essas misturas vão levar a nova MPB, mas tem uma certeza: "O futuro da música está na periferia", acredita. "Temos muita gente que não tem instrução, não tem formação, mas está fazendo acontecer. O negócio é fazer."

Foi com representantes dessa cena emergente que o Festival Path tentou responder à pergunta "Qual é a cara da música popular brasileira?", no primeiro dia do maior evento de inovação e criatividade do país, que acontece neste fim de semana na região da avenida Paulista, em São Paulo. Neste ano, o evento é apresentado pelo TAB.

O produtor Dany Bala está nessa onda há 17 anos, abastecendo não apenas a quebrada, mas o asfalto, as festas e principalmente as praias pernambucanas com batidas simples, mas envolventes, que juntam o funk do Sudeste e o batidão romântico vindo de João Pessoa. Hoje, suas produções ganharam regravações de astros da música nordestina, como Wesley Safadão e Aviões do Forró. Mas o começo foi no fundo de um quintal. "Com tela de tubo mesmo, sem grana, na raça. Sem nenhum tipo de estudo na área."

Com o olhar apurado para o que vai bombar na próxima estação, Dany aposta no trap, subgênero do rap, com batidas cruas e andamento mais lento.

"Está tudo tão eclético hoje. Antigamente a gente tinha os estilos divididos - samba é samba, reggae é reggae -, mas hoje você já ouve um sertanejo com elementos do pop", observa Dany. "É bem incerto prever o futuro da música, mas a gente está vendo muito o trap. Hoje em dia não seria estranho você ver o Zeca Pagodinho gravando um trap."

A cantora paulista Lei Di Dai concorda que as tribos se misturaram. "Até o final dos anos 1990, quem era roqueiro era roqueiro mesmo, quem era MPB era bicho grilo. Hoje o cara vai ver o hip-hop do Projota e depois cola no sertanejo. O futuro é continuar a música sem medo, sem fronteiras", diz a cantora. "Eu já estou no futuro, fazendo o meu."

Lei Di Dai já é antiga conhecida das festas do dancehall que invadiram o centro de São Paulo. E, de maneira totalmente independente, emplacou shows na Europa, músicas em rádios em Londres e participação em uma coletânea do gênero lançada em Berlim.

"Se não fosse a internet, meu som não chegaria onde chegou. Uma boa divulgação por lá é fundamental, mas sem apelar, não adianta você ser famosão um ano e depois você sumir", observa. "As pessoas hoje não querem ouvir só sua música, mas querem ver seu lifestyle, como você vive, mas também não adianta entrar lá e só ter 'carão'."

"A gente quer liberdade de expressão, dar voz para outras mulheres cantarem o que querem", disse MC Rebecca no Festival Path - Marcelo Justo/UOL - Marcelo Justo/UOL
"A gente quer liberdade de expressão, dar voz para outras mulheres cantarem o que querem", disse MC Rebecca no Festival Path
Imagem: Marcelo Justo/UOL

O desafio, na visão de Dany Bala, é lidar com o ritmo frenético de lançamentos. "Antes você você tinha que ter a sorte de entrar em uma gravadora, mas ali a música durava muito tempo. Hoje em dia a gente faz uma música mais descartável, você grava um sucesso, três meses depois você precisa correr para uma outra." Ele comenta que nas festas de Recife, ele não consegue mais tocar os hits de 2017.

MC Rebecca vem das favelas do Rio de Janeiro, e é representante máxima da febre do funk 150 bpm. Bombou de vez no ano passado com "Cai de Boca", um legítimo funk proibidão, mas com uma mensagem forte de liberdade sexual para as mulheres. É a voz de uma que exige no refrão: "Cai de boca no meu b*". Para ela, a bandeira desses novos sons é combater o preconceito em torno desses ritmos e garantir a voz de quem está à margem. "Esse é o futuro, liberdade de expressão para o que as pessoas falam na periferia, e trazer outras culturas e ritmos."