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Estilista cria 'diário sexual' no OnlyFans e impulsiona sua marca de roupas

O estilista Jônatas Santos do Nascimento - Lucas Kakuda
O estilista Jônatas Santos do Nascimento Imagem: Lucas Kakuda

Hygino Vasconcellos

Colaboração para TAB, de Chapecó (SC)

14/02/2021 04h00

Na escrivaninha do quarto, os croquis de roupas surgem, aos montes, ladeando as duas máquinas de costura. Uma delas tem mais de oito anos e chegou pelos correios como presente do namorado. A compra não era surpresa, mas o aparelho mal saiu da caixa e já foi para a labuta. De cara, dois vestidos brotaram da máquina, operada pelo estilista Jônatas Santos do Nascimento, 29.

"O primeiro rasgou na lateral. Ficou muito justo", conta Jônatas ao TAB. Já o outro vestido é usado até hoje pela irmã gêmea dele, para quem as peças foram feitas. Na época, ele ainda tateava o mundo da moda, e a máquina acabou dando o empurrão que faltava para entrar na faculdade.

Após um ano, a graduação em moda teve que ser interrompida, e a máquina de costura, deixada de lado. Foi só em 2019 que Jônatas desengavetou os papéis de desenhos, voltou a fazer cursos na área e, em maio do ano passado, decidiu postar no Twitter algumas peças, vestidas por ele. "Publiquei à noite e fui dormir. Quando acordei, o post já tinha 60 mil curtidas e eu havia ganhado mais 15 mil seguidores."

A partir dali, começaram a pipocar pedidos por roupas. Mas havia um porém: faltava dinheiro. Na época, o estilista estava recebendo o auxílio emergencial do governo devido à pandemia e as contas de casa estavam sendo pagas pelo namorado dele. Não havia meios para comprar tecidos, fios e outros apetrechos de costura.

"Pensei: eu preciso ganhar grana. Como eu vou fazer as roupas sem dinheiro?". Foi então que o estilista criou um perfil no OnlyFans -- página no qual anônimos e famosos postam conteúdos mais picantes. Jônatas não conhecia muito bem a plataforma, mas fixou um valor de U$S 8 (R$ 43,74) para o acesso ao "diário sexual", como ele chama o conteúdo postado. "Querer criar a conta, eu não queria, fiz só para levantar grana."

O estilista Jônatas Santos do Nascimento - Lucas Kakuda - Lucas Kakuda
O estilista Jônatas Santos do Nascimento
Imagem: Lucas Kakuda

Nu com a mão no bolso

Em 12 de maio, publicou o primeiro vídeo no OnlyFans. A gravação é curta, tem cinco segundos, e mostra o estilista sem roupas, exibindo o pênis ereto. E a vergonha? "Nenhuma", garante. Atrapalhado com a nova plataforma, Jônatas deixou o perfil de lado e só voltou a atualizá-lo em 15 de setembro, após conversar com um expert na plataforma. A descrição da postagem já entrega o que vai acontecer: "Ficar pelado quando chega em casa é a melhor coisa". No vídeo, de 31 segundos, o estilista tira as peças aos poucos e, ao final, fica completamente nu.

No vídeo seguinte, o voyeur tem acesso a uma das oito relações sexuais postadas no perfil -- todas gravadas de forma amadora. A gravação, publicada em outubro, mostra Jônatas deitado e um rapaz por cima, de costas. O estilista toma o cuidado de não expor o rosto do parceiro, já que a plataforma só permite identificação de quem é inscrito no OnlyFans. Todas as pessoas que aparecem nos vídeos, segundo Jônatas, tinham conhecimento prévio de que as relações sexuais estavam sendo gravadas.

Em meio ao conteúdo amador, também há fotos e três vídeos visivelmente produzidos. Um deles mostra Jônatas tomando banho, outro malhando e o último, publicado em 10 de janeiro, revela trechos de uma relação sexual. As cenas foram produzidas pelo namorado do estilista, que é diretor de fotografia -- há mais de três anos, o casal tem um relacionamento aberto. Diferente de outros participantes, ele não faz lives pois "demanda mais tempo".

A partir de novembro as postagens na plataforma se intensificaram, chegando a duas por dia. O "trabalho" de dois meses já rendeu um bom dinheiro. Em dezembro, o estilista ganhou pouco mais de R$ 9 mil, o que corresponde a três vezes o salário de seu último emprego. "A grana do OnlyFans me permitiu criar coisas, posso melhorar o acabamento das peças, comprar materiais de melhor qualidade", conta.

A liberdade de horários também trouxe alívio: por seis anos, Jônatas trabalhou em hospitais da capital paulista, sempre no pronto-socorro. Chegou a fazer jornada dupla por dois meses em unidades diferentes. "Eu saía de lá esgotado e não fazia nada criativo, era quase um robô". Em 2018, deixou o emprego e passou a alimentar a vontade de voltar ao trabalho com moda, possibilitado agora com o dinheiro da plataforma.

O apartamento no bairro de Santa Cecília, em São Paulo, acabou servindo como home office para as duas profissões. No local, o estilista é categórico em separar as duas fontes de renda -- apesar de escaparem fotos provocantes ou trechos de relações sexuais no Twitter. Mesmo assim, há quem confunda o Jônatas estilista com aquele do perfil no OnlyFans. "Um dia desses, um menino veio aqui experimentar uma roupa e, já na porta, perguntou se podia transar. Mandei embora."

Apesar da exposição pessoal na plataforma, ele nega receio de perder clientes de sua marca, a Street My Chique. Na visão dele, os públicos-alvo são diferentes -- mas há quem se interesse pelas duas versões de Jônatas.

Camisa confeccionada pelo estilista Jônatas Santos do Nascimento - Lucas Kakuda - Lucas Kakuda
Camisa confeccionada pelo estilista Jônatas Santos do Nascimento
Imagem: Lucas Kakuda

Estilista das roupas universais

A ideia de criar roupas surgiu da insatisfação com o que via na moda masculina. Ao percorrer as lojas com as irmãs, ficava impressionado com a variedade e colorido das seções femininas. Assim nasceu a vontade de desenhar roupas universais, que poderiam ser usadas tanto por homens quanto por mulheres. "Uma roupa não define a sexualidade de ninguém", diz ao TAB.

Croqui do estilista Jônatas Santos do Nascimento - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Croqui do estilista Jônatas Santos do Nascimento
Imagem: Arquivo pessoal

Jônatas só fugiu desse roteiro há dois anos, quando fez o vestido de casamento da irmã mais nova. Ela não queria a tradicional roupa branca e, por isso, o estilista costurou uma peça em um tom claro de cinza. Na época, outras pessoas ficaram interessadas no trabalho dele e pediram os tradicionais vestidos brancos de casamento, mas ele não quis investir nesse ramo. "Não é a mensagem que eu quero passar. Para mim, a roupa universal é uma maneira de se libertar."

Algumas peças de Jônatas surgem de ideias desenhadas no croqui. São mais de mil desenhos, dos quais 20 saíram do papel. Na hora de fixar preços, costuma cobrar três vezes o valor gasto com material. As camisas variam entre R$ 150 a R$ 280, enquanto os macacões custam entre R$ 450 e R$ 630.