Família antecipou herança para se livrar de Thiago Brennand
No final de agosto, quando o rosto e o nome de Thiago Antonio Brennand Fernandes Vieira, 42, vieram a público nos principais noticiários do país, a agressividade do empresário pernambucano não era notícia nova no Recife. Nem mesmo entre sua família. "Está todo mundo em estado de choque. Como uma pessoa que tem meu sangue pode ser desse jeito?", disse à reportagem o gastrônomo Jason Vieira, 49, seu primo.
Conhecido nas rodas da alta sociedade recifense como Thiago Vieira, o homem musculoso que se exibe nas redes sociais em competições de hipismo, no tatame de jiu-jítsu ou fumando charutos foi filmado em 3 de agosto agredindo a modelo Alliny Helena Gomes, 37, numa academia de luxo em São Paulo. No último domingo (4), Vieira foi denunciado pelo Ministério Público de São Paulo por lesão corporal e corrupção de menores.
Thiago é um dos cinco filhos do cofundador de uma rede médica do Recife. O grupo criou dois dos maiores hospitais da cidade: o Hospital Santa Joana e o Memorial São José. Desde o início da repercussão do episódio de violência, a família saiu das colunas sociais direto para o noticiário policial.
"Thiago sempre aprontou. Era um mimado, desde novinho. Qualquer problema, os pais mandavam ele para alguma viagem", lembra uma vizinha da família que não quis se identificar.
Em 1º de setembro, a nutricionista Marília Fernandes Vieira, irmã de Thiago, publicou em seus stories de Instagram uma mensagem, na qual agradecia "as inúmeras mensagens de carinho e apoio" que recebeu após a reportagem do "Fantástico" (TV Globo) sobre a agressão de Thiago na academia.
Na mensagem, Marília dizia: "nem eu nem meus três irmãos temos qualquer relação nem contato com o referido há mais de 20 anos e, portanto, nenhuma atitude alheia nos representa ou interessa". A família não comenta mais o assunto.
Batizado Thiago Antonio Fernandes Vieira, o empresário chegou a retificar o sobrenome no registro civil, incluindo "Brennand Tavares da Silva", que eram por parte de sua mãe, Joana. Segundo o blogueiro Ricardo Antunes, essa mudança teria sido feita em 2020. A reportagem do TAB confirmou a data da alteração com um primo de Thiago Vieira.
A partir daí, o empresário passou a ostentar o parentesco com uma das famílias mais ricas de Pernambuco, que atua nos ramos de porcelana, aço, cerâmica, vidro e mercado imobiliário.
O tio-avô de Thiago é Ricardo Brennand, o empresário, colecionador de arte e de armas, dono de um castelo-museu no Recife. Ricardo, morto em 2020 em decorrência da covid-19, foi homenageado mais de uma vez nas redes sociais de Thiago. A mudança também evoca o célebre artista plástico Francisco Brennand, primo de Ricardo, dono de um complexo monumental de artes em cerâmica.
A postura, contudo, desagradou integrantes da família Brennand, segundo pessoas próximas.
Caixão para o primo
Há muito Thiago Vieira coleciona problemas familiares. Entre eles está um episódio perturbador com o primo gastrônomo. "Eu me dou bem com todo mundo, e ele sempre teve recalque com relação a isso. Nunca teve amigo, exceto aqueles com interesse no dinheiro dele", afirma Jason Vieira. "Ele começou a me agredir de forma mais virulenta perto dos 17, 18 anos."
Em tratamento de câncer, foi surpreendido dois anos atrás ao receber de Thiago, na porta de casa, um caixão. Em seguida, o empresário enviou uma coroa de flores para o imóvel.
"Enquanto eu estava internado para o tratamento, ele ficava ligando, mandando mensagem para mim e para minha mãe, dizendo que que ela era uma velha lisa sem dinheiro, que o filho tava morrendo de câncer", lembra. Maria das Graças Vieira, tia de Thiago, tem 73 anos. "De madrugada, ele mandava pra gente vídeo de sexo, transando com mulheres."
Segundo Jason, nenhum dos 38 primos da família Fernandes Vieira fala com Thiago. Pais e os irmãos também não têm mais contato com ele. O desgaste da relação levou a família a antecipar a parte do filho na herança, há 15 anos, e a pedir uma medida protetiva que proíbe qualquer contato.
Apesar de estar afastado da família, Thiago envia com frequência mensagens xingando os parentes.
"Câncer! Porra, mermão, cê me abandonou, bichão? Aí! Eu peguei o telefone da puta velha, mas... Cês são iguaizinhos. Ela fingiu que não viu a mensagem, já me bloqueou", disse Thiago a Jason, em áudio obtido pela reportagem.
"Vou fazer um breviário dessa 'paraibada' aí parasita" (sic), diz, em outro áudio. Na mensagem, cita os pais por seus nomes próprios e se refere a um outro parente de maneira homofóbica. "Ninguém sabe se é viado, se não é. Um sujeito esquisito, não casou, não teve filho."
Agressão ao filho
Em 2020, Thiago Vieira também foi alvo de um inquérito por agressão contra o próprio filho, de quem ele tem a guarda desde criança. Na época com 14 anos, o rapaz relatou em depoimento à Delegacia de Polícia de Crimes contra Criança e Adolescente, em Pernambuco, uma série de maus tratos por parte do pai.
O menino foi levado à polícia pela mãe, que mora no Recife. Ele fugiu de São Paulo após ser agredido por Thiago. Segundo o adolescente, desde os quatro anos ele apanhava do pai, "mesmo que fosse por besteira". Os episódios, detalhou, incluíam agressão com objetos com fio de carregador do celular, corda, galho de árvore, baqueta de bateria e cabides de roupa. Em uma viagem a Fernando de Noronha, disse ele, o pai quebrou "quatro cabides em mim, um atrás do outro, me batendo".
Um laudo traumatológico confirmou que o menino tinha escoriações no braço direito na região inguinal direita, causadas por instrumento contundente.
Dois dias depois do depoimento, em 17 de abril, o adolescente voltou à delegacia e desmentiu-se: disse que as marcas no corpo eram "outras coisas" e pediu para "alterar tudo" no depoimento. "Foi mais um ato de rebeldia", explicou-se.
Thiago Vieira negou as agressões em depoimento. Disse que a relação com o filho sempre foi boa e usou como exemplo um pedido do menino, quando completou 11 anos, para que contratasse uma garota de programa, "pois ele queria perder a virgindade".
O inquérito foi arquivado.
Na recente denúncia do Ministério Público, o promotor Bruno César Cruz de Assis destaca a presença do filho de Thiago durante o episódio de agressão contra Alliny Helena Gomes e afirma que o empresário induziu o rapaz a ofender Alliny, chamando-a de "puta" e "vagabunda".
Um caso atrás do outro
Morando em São Paulo desde 2020, Thiago Vieira também acumula episódios de agressão em clubes de hipismo.
Nesta semana, o TAB teve acesso a um novo caso, que aconteceu em 2020. "Eu estava aquecendo o cavalo para o concurso. Ele fez uma pergunta que realmente não entendi. Eu, então, disse que não tinha entendido o que ele falou, mas pedi que se afastasse da minha égua para evitar coice. Aí, ele começou a me xingar de tudo que era nome", conta a empresária Camila Barreto, 40, que registrou boletim de ocorrência contra Thiago.
"No final da prova, ele estava me esperando para me ofender com palavras horríveis. Quando me viu, levantou e disse 'vou te matar'. Acelerei o passo e fui para perto dos meus amigos. Imediatamente, falei com o presidente do clube, e, quando cheguei em casa, fiz boletim de ocorrência. Ele foi proibido de entrar na hípica", lembra a empresária. "Nunca mais o encontrei."
No mês seguinte, os advogados do campeão de hipismo Doda Miranda entraram na Justiça para pedir uma medida protetiva que impedisse Thiago de se aproximar dele e de sua família. A razão: o empresário era acusado de difamar, ameaçar e injuriar Miranda, em reiteradas mensagens.
A defesa de Thiago Vieira classificou as mensagens como "meras bravatas, incapazes de gerar temor de mal injusto ou de receio quanto à própria integridade física, a despeito do que se possa querer alegar em momento posterior." Após um acordo entre as duas partes, o processo também foi arquivado.
Viagem ao exterior
Thiago Antonio Brennand Fernandes Vieira deixou o Brasil na madrugada do último domingo. A informação foi obtida pelo TAB com fontes da Polícia Federal. O empresário passou pela imigração à 0h10, horas antes de ser denunciado pelo Ministério Público.
A reportagem teve acesso aos bilhetes de viagem de Vieira na terça-feira (6). Ele foi para Dubai, com volta prevista para 18 de outubro. O empresário viajou de primeira classe — a passagem custa em torno de R$ 81 mil.
TAB procurou a defesa de Vieira para confirmar as informações desta reportagem. Entre os questionamentos estavam a razão da viagem para o exterior, as desavenças do empresário com a família e sua mudança de nome. Até a publicação do texto, não houve resposta.
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