O fim está próximo? Quando deve terminar a pandemia que parou o mundo

Trinta meses. Este foi o intervalo entre o dia em que a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou o início da pandemia de covid-19, em 11 de março de 2020, e o dia em que o diretor-geral da instituição, Tedros Adhanom, afirmou que já se poderia vislumbrar o fim desse estado de emergência que afetou o funcionamento da vida humana no planeta.
Como é necessário fazer em casos assim, Adhanom se baseou nos números para emitir tal declaração. Em entrevista à imprensa internacional em 14 de setembro de 2022, ele ressaltou que a quantidade de mortes semanais no mundo em decorrência de covid-19 era, pela primeira vez, menor do que em março de 2020. "Ainda não chegamos lá, mas o fim está à vista", disse.
"Um atleta maratonista não para de correr quando ele vê a linha de chegada. Ele corre mais forte, com toda a energia que ainda tem. Nós também devemos fazer isso: podemos ver a linha de chegada, estamos em uma posição vencedora. Mas seria o pior momento para parar de correr."
O declínio acentuado dos casos ao redor do mundo é consequência direta de dois fatores: a vacinação em massa realizada em boa parte dos países e a natural evolução do vírus Sars-Cov-2, que a cada variante tende a se tornar menos agressivo.
Não há um número mágico (de casos ou de óbitos) para que se determine o início ou o fim de uma pandemia. "Pegando pela própria definição de pandemia, o fim dela é quando o agente infeccioso em questão não apresentar mais o alcance e o impacto que hoje ele tem em vários países e populações", define a biomédica Mellanie Fontes-Dutra, professora da Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos) e coordenadora da Rede Análise Covid-19.
Antes ou depois que a OMS declare o fim da pandemia, os países têm autonomia para determinar quando a emergência de saúde pública pode ser considerada extinta nos seus territórios.
A OMS ainda não fez a declaração, mas os Estados Unidos, por exemplo, saíram na frente e consideram que o pior já passou. "Ainda estamos trabalhando muito, mas a pandemia acabou", declarou o presidente Joe Biden, em 18 de setembro. No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro revogou decretos de enfrentamento à pandemia em 23 de maio.
"É esperado que o vírus siga circulando, justamente pelas possibilidades de outros animais suscetíveis a ele. Portanto, podemos ver uma subida de casos em algumas regiões, principalmente aqueles de baixa cobertura vacina contra o agente infeccioso", diz Fontes-Dutra.
Desequilíbrio
A falta de equidade na distribuição e no acesso às vacinas ao redor do mundo ainda é um problema. De um lado, há países com ampla cobertura vacinal, como Emirados Árabes Unidos (com 99% da população imunizada), Chile (92,4% de vacinados), Cuba (88,2%) e Brasil (81%). Na outra ponta desse ranking, contudo, o retrato de um mapa completamente desigual: o Haiti tem apenas 1,9% da população vacinada, o Congo, 3,2%, e Burundi, 0,2%.
Fundadora do Instituto Questão de Ciência, a microbiologista Natalia Pasternak lembra que decretar o fim da pandemia envolve critérios técnicos e políticos — e isso significa desarticular os esforços mundiais de contenção e prevenção ao vírus.
"Decretar o fim do estado de emergência envolve finalizar diversas questões políticas e sociais, do comprometimento dos países. Desde as notificações dos casos até os investimentos em medidas preventivas, em vacinas, em consórcios para ajudar países mais pobres", enumera a especialista. "Tudo isso precisa ser levado em consideração. Não é uma decisão fácil, não é somente o quanto o vírus circula."
Se os números apontam que estamos próximos desse final feliz, contudo, as dificuldades são inúmeras. "Tecnicamente, é muito difícil definir o que é o fim de uma pandemia, pois os critérios são tanto técnicos quanto políticos. E as consequências sociais são muito sérias", explica Pasternak.
"Quem declara mundialmente o fim da pandemia é a OMS, assim como foi a OMS quem declarou o início da pandemia. Para fazer isso, ela avalia se a pandemia ainda merece a denominação de pandemia. A cada três meses é feita uma reavaliação do estágio pandêmico."
Na análise de Pasternak, a pandemia certamente está num estágio próximo ao fim, ainda que seja difícil de cravar o ponto final. "Isto porque estamos num estágio em que o mais preocupante já não é resolver a questão da doença grave, da hospitalização, da morte. E conseguimos resolver efetivamente o problema principalmente com a vacinação em massa, em grande parte do mundo", diz.
Pós-pandemia
Depois do sonhado fim da pandemia, a guarda não pode ser completamente baixada. Sim, aquela história de que a humanidade jamais será a mesma segue valendo. Por um lado, é preciso avaliar e tratar dos sobreviventes com sequelas, físicas ou psicológicas.
Além disso, lembra Pasternak, é importante que as vacinas sejam aplicadas, sobretudo com a provável viabilização de uma vacina nasal, que conseguiria conter a transmissão.
O aprendizado, a duras penas, nesses quase três anos também precisa ser utilizado, tanto para o combate a outras doenças quanto para a prevenção de futuras pandemias.
"Reforço que endemias também podem ser perigosas, como malária e tuberculose que afetam muito populações atualmente", salienta Fontes-Dutra. "Se a covid se tornar uma endemia, são nossos comportamentos de agora que determinarão seu futuro."
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