Argentinos se apertam para ver jogo no saguão do aeroporto de Ezeiza
![Momento do segundo gol da Argentina no jogo contra a Austrália, no aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires - Luciana Taddeo/UOL](https://conteudo.imguol.com.br/c/tab/14/2022/12/03/momento-do-segundo-gol-da-argentina-no-aeroporto-de-ezeiza-em-buenos-aires-1670099945661_v2_1170x540.jpg)
Atrás do guichê de check-in do aeroporto mais importante da Argentina, o atendente de uma companhia aérea olhava para a tela, com a mão na cabeça, apreensivo. Seu país acabava de tomar um gol da Austrália. O jogo, que até então estava 2 x 0 e parecia ganho, de repente ficou tenso.
Por sorte não havia passageiros esperando na fila. Ao contrário: funcionários de companhias aéreas e passageiros se sentaram no chão do saguão, no espaço delimitado pelos separadores de filas, assistindo ao jogo da seleção pelas oitavas de final da Copa do Mundo no Qatar.
Desde o início do jogo, o aeroporto Ministro Pistarini, também conhecido como aeroporto de Ezeiza, na grande Buenos Aires, estava tomado por passageiros que, entre embarques e aterrissagens, queriam acompanhar o desempenho da seleção liderada por Lionel Messi.
Houve até quem se acomodasse sobre as esteiras onde as malas são pesadas. Ninguém reclamou. Praticamente todos os olhos estavam fixos no enorme telão, instalado no alto do saguão especialmente para a transmissão dos jogos.
Em uma passarela do segundo andar, onde mesas foram dispostas para que as pessoas pudessem assistir à partida, onde havia até um carrinho distribuindo pipoca gratuita, três amigas esperavam, a caráter, o início do jogo. A produção — elas estavam com as bochechas pintadas com listras azul e branca e vestiam a camisa da seleção — foi feita na escala em Buenos Aires.
Universitárias da cidade de Córdoba, elas não imaginavam, quando agendaram a viagem para Nova York, que a data coincidiria com um jogo da Argentina. O que puderam fazer foi adiantar o horário do primeiro trecho para assistir ao jogo no aeroporto.
"Estamos indignadas por não poder assistir em casa com um fernet [bebida alcoólica muito consumida no país] na mão, mas é melhor que estar dentro do avião. Aí sim eu morreria", revela uma delas, Catalina Ferrer, 21.
No saguão, quase não havia espaço para passageiros passarem com a bagagem. Era preciso sair andando para encontrar uma "rota de fuga". Uma tripulação inteira teve de abrir caminho, entre malas e pessoas, para chegar ao balcão do check-in. Até mesmo quem não ia viajar engrossou a plateia, como três argentinos que foram levar o pai ao aeroporto.
"Óbvio que não queríamos vir na hora do jogo, mas é meu pai", explicou o comerciante Christian Wong, 22, que se despediu com uma bandeira argentina nas costas. "Até estamos pensando em vir aqui nos próximos jogos", disse no intervalo a namorada dele, Florencia Janowski, 22, que é cabeleireira. "Quando fizeram gol, sentir que todos estão torcendo pela mesma coisa foi forte, é como estar na arquibancada da partida", complementou.
Abraços aéreos
O grito de gol ecoou em uníssono pela extensão do saguão quando Messi abriu o placar no final do primeiro tempo. A vibração foi ainda maior na segunda meta. Muitos passageiros e acompanhantes se levantaram, se abraçaram, sacudindo os braços e aplaudindo, após Julián Álvarez ampliar para a Argentina.
Muitas palmas eram ouvidas nas diversas jogadas aprovadas pelo público, que permaneceu sentado e até deitado no saguão, enquanto tomava mate e cerveja, dividindo pacotes de bolacha e batatinhas fritas. Mesmo quem tinha de fazer o check-in e tinha de ficar na fila mantinha os olhos fixos na tela, ainda que do lado oposto ao do fluxo dos passageiros.
O clima só mudou quando a Austrália surpreendeu os argentinos aos 31 minutos do segundo tempo. Após o gol de Goodwin, a tensão ficou evidente. No guichê da Administração Federal de Ingressos Públicos, a Receita Federal local, uma das atendentes ria de nervoso, gritava insistentes "dale", que significa "vamos", na gíria local.
"Como estenderam, hein?", questionou, sobre o tempo adicional do fim do segundo tempo. Outra trabalhadora de companhia aérea, com coque no cabelo e um lenço no pescoço, soltou involuntariamente um grito agudo de surpresa: "Sete minutos?".
Sim. Sete sofridos minutos em que os torcedores roíam unhas, tapavam a boca com as mãos ou as colocavam na cabeça. As pernas se moviam inquietas, e muitos "uhhhhs" aliviados e preocupados foram ouvidos. O silêncio apreensivo era intercalado com exclamações.
Passageiros e trabalhadores locais cantavam "sou argentino, é um sentimento, não posso parar". Alguns chegaram paramentados com a camiseta albiceleste e acessórios como colar havaiano e cartola de pano com as cores da bandeira argentina.
Com o apito final, vieram abraços coletivos, muitas palmas, gritos e pulos de emoção. A Argentina passou para as quartas de final. Em poucos minutos, quem antes estava sentado foi embora ou puxando malas de rodinhas, carrinhos de bagagem e mochilas. O fluxo voltou a ser o de sempre, mas com uma boa dose de alívio no ar — a diferença era a indumentária: centenas de passageiros coloriam Ezeiza com suas camisas listradas de azul e branco.
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