Sucesso de jovens depende de 'levantar a bunda e realizar', segundo autor

Enquanto torcedores da seleção brasileira perambulavam desolados pela avenida Paulista na sexta-feira (9), Guto Melo, 39, fazia uma sessão de autógrafos do livro "Levanta essa bunda e... vai!", lançamento que prometia reunir famosos na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo. Entrevistados para o livro como exemplos de "jovens de atitude", convidados como Fiuk, 32, Thammy Miranda, 40, e Gianne Albertoni, 41, marcaram presença vip tanto quanto o hexa do Brasil — uma expectativa que não se concretizou.

Guto não se abalou. "É um dia radiante para mim", diz, sempre sorrindo e com uma atitude positiva. Conhecido como o criador do PJB (Prêmio Jovem Brasileiro), ele não se define como mentor ou influenciador, embora busque premiar "novos talentos" (como os entrevistados de seu livro) e se tornar referência entre jovens que sonham com o sucesso.

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Ele conta que tinha 17 anos quando acordou em uma madrugada pensando nesse prêmio, que piscava "como um letreiro de um café em Nova York" na sua mente — hoje, descreve o evento hiperbolicamente como a maior premiação jovem do mundo (é um prêmio feito com votação na internet e entrega de troféu em uma cerimônia). E que tinha 7 anos quando viu na imprensa que Abilio Diniz fora sequestrado, e ficou impressionado. "Todo mundo dizendo 'o empresário Abilio Diniz'. O que é um empresário? Daí decidi: 'Quero ser empresário'."

Guto vestia um look expressionista abstrato: um blazer com pingos de tintas variadas, que formavam um emaranhado de linhas, e um tênis com borrifadas de cores. O tênis tem história: "[É de] uma artista que conheci na internet e estiliza peças. As pessoas me procuram muito. É a influência dos influentes", ri. O visual do autor de 39 anos manda uma mensagem "jovem" (ou ao menos pretende). "Tem a ver com liberdade e hoje o jovem poder ser quem quiser."

'Jovemnáticos'

Jovens, sucesso e sonhos são palavras surradas no seu vocabulário. A fórmula de Guto basicamente é: só é possível realizar sonhos andando, com as nádegas em movimento e a cabeça aberta, lutando por aquilo que acredita com coragem. "Todo mundo que tirar a bunda da cadeira vai sair melhor do outro lado da porta", afirma.

O discurso músculo-meritocrático até que pega: com 17 mil seguidores no Instagram, o autor diz que os jovens o procuram muito — e que não cobra para dar conselhos. "Sempre tive como espelho pessoas mais velhas. Agora me sinto um." No perfil do PJB, com 364 mil seguidores, há fotos de premiados como o ator Arthur Aguiar, 33, vencedor do BBB 22 e três vezes laureado com o PJB, e o elenco de "Poliana Moça", do SBT, que levou um troféu de melhor novela. É assim que a roda gira: premiar jovens (e não tão jovens, já na casa dos 30 e além) é uma oportunidade de atrair jovens "fandoms" — um jogo de influência.

Na livraria, o público era mais ou menos jovem. Entre eles estavam os "embaixadores do PJB", que trabalham na premiação (que é uma empresa, o que confere ao idealizador o status de empresário). O social media Andre Nutella, 19, é um deles ("é Nutella porque eu era um fã Nutella por ser novo").

A estudante Mariana Santiago, 24, é outra embaixadora: foi conquistada pelo evento na edição de 2018, quando o cantor Vitor Kley recebeu um prêmio e o cartunista Mauricio de Sousa foi homenageado. Ela representa os "jovemnáticos", fãs que acompanham assiduamente a premiação para se aproximar dos ídolos premiados.

Da Farofa da Gkay à Paulista

"Jovemnáticos e jovemnáticas, estão preparados para esse capítulo?", o autor pergunta no livro, ao introduzir a história de Ivi Mesquita, 42, presença ilustre no lançamento.

Ao lado do marido argentino, ela ainda estava chocada com a partida que classificou a Argentina para as semifinais da Copa, mas fez questão de prestigiar o lançamento. "Vou receber o livro agora. Ainda não li", contou a empresária, bailarina formada pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), embaixadora da L'Occitane e musa da Vai-Vai.

Depois ela leu — e, na verdade, não gostou muito. Em determinado trecho, o autor diz que "ela levantou a bunda e foi e realizou".

O modelo Lucas Viana, 31, saiu direto da Farofa da Gkay (a festa da influenciadora Gessica Kayane, em Fortaleza) e foi para a Paulista. "Nada mais justo que prestigiar um livro que conta parte da minha história", disse. Vencedor de uma das edições do reality show "A Fazenda", Lucas tem, segundo o livro, um hábito que seria sua chave para o sucesso: a disciplina. Ele não tinha lido ainda, mas não atendeu à reportagem para contar se gostou da leitura.

'É só você se dedicar'

A modelo Gianne Albertoni era uma das famosas esperadas no evento. No livro, é citada como case de sucesso nas passarelas ("o sonho de toda garota, né, meninas?", indaga o autor, que emenda um "se inspire na história da nossa top"). No capítulo dedicado a ela, uma das lições começa com "na vida real é assim: não vai ser fácil" e termina com "é só você se dedicar", ideias que envelhecem mal partindo de jovens que teriam tido conquistas, na cabeça deles, apenas persistindo.

Na vida real, não é bem assim. E não é preciso ir longe para ver que o discurso motivacional não passa da página 2: é como se "vencer na vida" fosse apenas uma questão de "levantar a bunda".

O título do livro de Guto, talvez por acaso, talvez não, lembra diretamente a fórmula que Kim Kardashian deu para mulheres de negócios num vídeo que viralizou neste ano: "Get your fucking ass up and work" ("levante a p* da bunda e trabalhe"), dizia a celebridade norte-americana, uma socialite que basicamente ficou famosa e rica por ser de família famosa e rica. Alvo de diversas críticas na internet, ela lamentou o episódio e voltou atrás.

"Proibido para quem quer ficar sentado esperando o sucesso chegar", informa a capa do livro de Guto. Lembra uns versos de Raul Seixas sobre os sonhos de uma sociedade medíocre ("eu é que não me sento / no trono de um apartamento / com a boca escancarada cheia de dentes / esperando a morte chegar"). Mas Raul sabia que isso é ouro de tolo (na letra, ele diz: "eu devia estar sorrindo / e orgulhoso / por ter finalmente vencido na vida / mas eu acho isso uma grande piada / e um tanto quanto perigosa").