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'Até a vitória': bolsonaristas passam Natal em frente a quartel em Goiânia

Théo Mariano

Colaboração para o TAB, de Goiânia

25/12/2022 10h02

A véspera de Natal para cerca de cem manifestantes foi verde e amarela em Goiânia. Na porta do quartel do Exército, nas imediações da Praça do Expedicionário, no setor Jardim Guanabara, os bolsonaristas que até hoje não aceitaram o resultado das eleições realizaram sua própria celebração natalina, com bebidas, doces, frutas frescas, panetone, galinhada e coros contra o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o STF (Supremo Tribunal Federal). Eles também fizeram orações, entre elas "pelo bem da Polícia Militar".

A oração foi feita em companhia do coronel da PM-GO, Edson Raiado, que foi candidato a deputado federal nas últimas eleições, mas não conseguiu se eleger. Naquele momento fora de serviço, Raiado fez selfies com presentes e chancelou o ato que, segundo ele, é "democrático e necessário para o bem do país".

Antes de deixar o local, o coronel repetiu o bordão do bolsonarismo ("Brasil acima de tudo, Deus acima de todos") e foi conhecer um pouco mais das tendas que abrigavam os serviços oferecidos aos presentes.

A noite estava com clima ameno, o céu não exibia muitas estrelas, mas também não estava carregado de nuvens. Para quem vive em Goiânia, estava fresco. O chão molhado pelo barro fazia com que os pés, se descuidados, deslizassem. No sereno, os golpistas empunhavam bandeiras do Brasil e cornetas. Um dos participantes da ceia foi um senhor de 74 anos, aposentado, que se identificou apenas como Olímpio. Ele deixou a família em casa para permanecer acampado junto aos bolsonaristas. "Estamos aqui lutando por um país livre", disse.

Segundo os manifestantes, o banquete foi feito com doações. E não são todos os dias que se vê uma mesa tão farta, ressalvaram eles — normalmente, o cardápio é composto de lanches mais simples e cerca de duas mil refeições, em média, por dia, no local.

Manifestação golpista em frente a quartel em Goiânia na véspera de Natal - Théo Mariano/UOL - Théo Mariano/UOL
Imagem: Théo Mariano/UOL

Estado de alerta

Diferentemente do primeiro dia da manifestação golpista na Praça do Expedicionário, iniciada em 31 de outubro, desta vez os manifestantes estavam mais hostis e alertas, embalados por um senso de justiceiros, com uma estrutura maior — em dado momento, cercaram a reportagem e passaram a gravar e questionar "o motivo" de a imprensa estar ali.

Segundo os manifestantes, já houve problemas anteriormente: um deles contou que um rapaz que foi ao local com uma faca, outro que passou jogou spray de pimenta nos manifestantes e por aí em diante. Os jovens então passaram a abordar qualquer "suspeito". "Conhecemos bem quem são os infiltrados, a pessoa tem suas características próprias", disse um dos manifestantes, sem explicar ao certo quais seriam essas características.

Manifestação golpista em frente a quartel em Goiânia na véspera de Natal - Théo Mariano/UOL - Théo Mariano/UOL
Imagem: Théo Mariano/UOL

Os idosos, por sua vez, ficam entoando palavras de ordem, num caos entre bandeiras balançando, faixas estiradas, cornetas e buzinas apitando. A Polícia Militar destacou uma viatura para fazer vigília na praça durante as madrugadas.

"Nós vamos ficar aqui até conseguirmos nossa vitória", disse Clayton Rodrigues, 50, uma das lideranças da manifestação. A vitória, segundo ele, será a revisão do resultado das eleições, a destituição dos ministros do STF e a ascensão de militares. Para Rodrigues, entretanto, há oficiais "que só defendem a instituição" e outros a quem caberia a gestão do país. "Isso, para mim, mostra a falta que faz termos militares como [Carlos Alberto Brilhante] Ustra", afirmou.

Na véspera de Natal, mesmo diante da chuva que se aproximava e acabou por banhar a noite de Goiânia, a manifestação continuou. Segundo um dos organizadores, os bolsonaristas estão dispostos a continuar firmes no local até depois do Réveillon. "Já considero uma vitória nossa ver que mobilizamos pessoas de tal forma. Nunca se cantou tanto o hino da infantaria, o hino nacional e outros. Isso, para mim, faz valer todo esse movimento."

Manifestação golpista em frente a quartel em Goiânia na véspera de Natal - Théo Mariano/UOL - Théo Mariano/UOL
Imagem: Théo Mariano/UOL