No meio do caminho tinha um salão de beleza: a 1ª unidade no metrô de SP
Nos últimos meses, todas as vezes em que passou pela estação Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, a secretária Gisleine dos Santos, 49, ficou intrigada com um quadrado diferente na paisagem: viu pessoas sendo maquiadas, fazendo tranças ou cuidando das unhas, mas, com vergonha, acabou passando reto algumas vezes, até que um dia pediu informação.
Ficou sabendo que era um salão de beleza no trajeto de sua casa, na Penha, zona leste, até a Vila Olímpia, zona sul. Após o primeiro atendimento, ela voltou outras vezes para fazer as unhas. "Fiz um sucesso no Carnaval", cita. Assim como Gisleine, centenas de passageiros ficaram curiosos com o novo espaço, considerado o primeiro salão de beleza dentro de um metrô no país.
A estação de Pinheiros é uma das mais importantes da cidade. Por ali passam mais de cem mil pessoas por dia, com acesso à Linha 4-Amarela do metrô e à Linha 9-Esmeralda de trem, além do terminal urbano de ônibus. Segundo a pesquisa Viver em São Paulo, feita pela Rede Nossa São Paulo, os moradores gastam 1h42 por dia no transporte coletivo. "Identificamos que existe uma necessidade de serviços de beleza e cuidado pessoal para esse público", comenta Felipe Fonseca, 36, que abriu com a sócia Vivian Safra, 35, o Estação Beleza, em novembro passado.
"É de graça?", perguntam muitos curiosos que param ali. Também questionam se os serviços fazem parte de uma ação temporária de alguma empresa. "Alguém disse uma vez: mas ali [no banner do espaço] diz que 'é só chegar'", lembra Vivian.
Na verdade, é como um salão comum, com serviços pagos — o combo "pé e mão" custa R$ 50. Exceto pelas tranças "afrostyle", que exigem material pré-selecionado, não é preciso agendar horário para ser atendido.
Na negociação com a CCR, grupo que administra a estação e aluga os pontos, o contrato inicial é de seis meses, que podem ser renovados. O valor do aluguel do espaço de 6 m², com vista para os trilhos e para o rio Pinheiros, não foi informado pelos sócios, nem respondido pela concessionária.
No caminho
Quase todos os dias, o gerente de restaurante Alcemir Alves de Souza, 59, passa pelo salão, mas nunca conseguiu entrar. Na quarta-feira (1º), ele passou, voltou, perguntou sobre o funcionamento e decidiu testar os serviços. Foi o único homem do dia. Fez as unhas da mão e dos pés para "ficar mais bonito".
Aberto de segunda a sexta-feira, das 8h às 21h, o salão tem um maior movimento pela manhã, com o fluxo de passageiros a caminho do trabalho. Depois, há um período mais tranquilo, entre 10h e 16h30. No fim da tarde, o movimento aumenta de novo e assim vai até a noite. Cerca de 300 pessoas são atendidas pelas sete funcionárias do local por mês.
Com sorriso fácil e penteado afro na cabeça, Cleonice Moreira da Silva, 49, sai de Embu das Artes, cidade da região metropolitana de São Paulo, para trabalhar no salão, de segunda a sexta. Ela foi uma das primeiras convidadas para atuar no local.
Ouvindo e conversando com as clientes que já confiaram as unhas a Cleonice, um relato comum é a segurança que o empreendimento oferece por estar dentro de uma estação: devido ao trabalho, ao tempo gasto no transporte e às tarefas domésticas na volta para casa, muitas clientes só conseguiam ir a um salão tarde da noite, e por isso citam a insegurança das ruas.
Chegadas e partidas
Manicure no Estação, Carolina Souza, 32, também diz se sentir mais segura ali. "Estamos fechados aqui, né? Tem câmera e tudo mais", cita.
As mulheres que trabalham no salão moram em diversos cantos de São Paulo, e em cidades em que o trem permite fazer o caminho, como Itapevi, na Grande São Paulo.
Das sete funcionárias, que são contratadas como Pessoa Jurídica e ganham por comissão, quatro são mães, uma preocupação que a sócia diz ter tido na hora de recrutar pessoas. Ela também priorizou a contratação de pessoas negras e quer recrutar pessoas trans.
Moradora de Embu-Guaçu, Ilce Chaves Cruz, 60, é a "faz-tudo" da casa: faz pé, mão, depilação, cabelos, além de outras habilidades. Conta que, em outros espaços em que já trabalhou, foi apelidada de "Garota Bombril" devido à versatilidade de suas funções.
Com fala baixa e pausada, ela diz que sabia que trabalharia lá. Até março de 2020, Ilce tinha um salão de beleza, mas precisou fechar as portas na pandemia de covid-19.
Em dezembro de 2022, decidiu voltar a fazer o que gosta. Passou pelo Estação Beleza no caminho de um atendimento domiciliar, conversou com a sócia e, no início deste ano, começou a atuar ali.
Paciente, diz que o plano para o futuro é treinar outras profissionais. "Gosto de ensinar, explico quantas vezes for necessário", pontua. "Minha filha sempre diz: se não aprendeu comigo, não aprende com mais ninguém."
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