'Sou uma mulher alfa': por que a ativação de arquétipo viralizou no TikTok

Graziela Brito, 26, ativou o arquétipo da Cleópatra em 2018. À época com 21 anos e cursando faculdade de biomedicina, ela estava numa fase péssima. Mal conseguia sair de casa, tinha baixa autoestima, sintomas depressivos e pouca energia para fazer as atividades do dia a dia. Encontrou, por acaso, um site na internet que falava sobre vários tipos de arquétipos e começou a estudar a vida da última rainha do Egito. "Todo dia eu me fantasiava de Cleópatra até minha mente absorver que eu era a Cleópatra. A partir daí eu mudei completamente", diz.
Para tentar convencer o próprio cérebro a mudar de personalidade, Graziela espalhou ao seu redor imagens de ilustrações da Cleópatra. Investiu pesado em acessórios grandes e dourados, apostou em maquiagens com cores vibrantes e começou a ouvir áudios de autoafirmação, com mensagens que reforçam o poder da rainha — tudo embalado por um tipo de música que, no senso comum, lembra o Egito antigo. "Fazendo todo dia, você puxa isso para o seu inconsciente."
Ela separou um cômodo na casa, na Bahia, para dedicá-lo ao arquétipo que incorporou. Num pequeno altar mantém uma ilustração da Cleópatra, uma vela dourada, um escaravelho (que pode ser comprado facilmente na internet), um colar grosso que imita ouro e pirâmides egípcias em miniatura. A jovem diz que quase cultua Cleópatra, apesar de não ter religião — ela se identifica como "bruxa natural".
Graziela praticamente inaugurou a trend dos arquétipos no TikTok em agosto de 2021, quando postou um vídeo na plataforma falando sobre os benefícios de ser uma rainha. Ela acreditava que, dessa forma, poderia mudar a vida de outras pessoas também. O conteúdo teve quase 3 milhões de visualizações. O que veio a seguir foi um efeito manada.
Vídeos como o dela começaram a pipocar na rede social, assim como os áudios de ativação. "Eu sou uma líder, governo com facilidade", diz uma voz adocicada em um desses vídeos, publicado pela conta @arquetipomagnetico. "Tenho equilíbrio mental e emocional. Sou uma mulher alfa, tenho visão estratégica." O objetivo é repetir até acreditar.
'Amiga, é tu-do'
A ideia não é exatamente inovadora: é basicamente o que adolescentes fazem quando passam por crises de identidade: inspiram-se em características alheias, de personagens de filmes ou séries, por exemplo, e reproduzem comportamentos na vida cotidiana. A diferença é que a ativação de arquétipos tem uma camada irresistível para jovens tiktokers: o misticismo.
Mais que imitar um personagem, a ativação demanda, segundo os entendidos no assunto, uma conexão com a suposta "energia" arquetípica. Cada arquétipo tem o "lado luz" e o "lado sombra". Os comentários alertam que a ativação é uma experiência forte e que é preciso cuidado para lidar com o assunto. Tudo é uma isca para atiçar a curiosidade e dar um verniz sério e misterioso para a questão.
Esses conteúdos estavam restritos a um nicho específico no submundo do TikTok até meados do ano passado, quando o assunto furou a bolha esotérica e virou moda entre famosos e subcelebridades. Em agosto, a modelo Yasmin Brunet revelou em entrevista a um podcast que havia ativado o arquétipo Cleópatra, o mais desejado. Descobriu que os dois entrevistadores também ativaram o arquétipo. "Amiga, é tu-do", disse Brunet, que colocou uma foto de Cleopátra como papel de parede do celular, a forma mais fácil de ajudar na ativação (várias montagens desse tipo estão disponíveis no Pinterest).
A modelo disse que passou a se comunicar de forma diferente, tornou-se "fria e sem sentimentos", deixou de ver obstáculos no caminho, atraiu dinheiro e olhares. Quando um dos apresentadores contou que o experimento não funcionou para ele, a modelo respondeu: "Então você não fez [direito], amiga".
Galinha, maçã e Marilyn Monroe
Na última semana, o assunto voltou a viralizar, desta vez no Twitter. Graças a um vídeo com "testemunhas" da ativação, os arquétipos furaram a bolha do pensamento mágico novamente.
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