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Marcos Nobre: 'Manifestantes tiveram formação política selvagem' em 2013

Do TAB

14/06/2023 04h00

Na visão do filósofo Marcos Nobre, presidente do Cebrap e professor de filosofia da Unicamp, junho de 2013 "faz parte de um movimento global de revoltas democráticas, que têm a ver com o fato de que nossa sociabilidade mudou muito, ficou muito digital e essa maneira de ver a vida não encontrava correspondência na forma como a política funcionava". Esta é a terceira íntegra das entrevistas em vídeo feitas pelo TAB sobre os dez anos dos protestos.

Para Nobre, esse era o motor principal dos protestos no Brasil, diferentemente dos outros países onde aconteceram "revoltas democráticas" mais diretamente relacionadas à crise econômica mundial de 2008. "É um movimento de descompasso entre o que é a vida e a maneira como a gente está se relacionando com a política."

O filósofo avalia que os partidos "perderam a relação com a base da sociedade; você não tinha mais naquele momento partidos que faziam o que se chama de 'trabalho de base'. Havia uma desconexão entre os partidos e a sociedade", resume. Nobre rechaça, porém, a ideia de que junho se voltava principalmente contra o PT (Partido dos Trabalhadores). Eram revoltas contra quaisquer governadores, quaisquer prefeitos de quaisquer partidos. "O PT é que foi progressivamente interpretando junho como uma revolta contra ele."

Marcos Nobre afirma, no entanto, que a possibilidade de transformar positivamente a democracia brasileira não se concretizou em junho. [As manifestações] não conseguiram influenciar [o país] de maneira institucional ou estrutural. Foram movimentos importantes, com vitórias importantes, mas que não conseguiu mudanças do ponto de vista institucional."