2013: Brasil deu adeus à apatia e não volta à caixinha, diz Pablo Ortellado
Filósofo, professor e autor de "Vinte centavos: a luta contra o aumento" (Veneta, 2013), Pablo Ortellado define junho de 2013 como um conjunto de protestos que reorganizou o campo político brasileiro. "A quantidade de pessoas que se envolve com política se ampliou tremendamente e o Brasil ficou muito diferente do que ele era", diz.
Pesquisador da internet, o professor de gestão pública da USP (Universidade de São Paulo) afirma que, em certo sentido, a mobilização desencadeada dez anos atrás jamais terminou. "É como se ela [a revolta] tivesse sido um catalisador de uma insatisfação e uma inquietação social que parece que não acalma, não sossega mais, ninguém consegue colocar de volta na caixa."
Para Ortellado, a própria ideia de mobilização se transformou dali por diante. "Socialmente havia um pressuposto tácito de que mobilização política trazia progresso social, de que se você saísse e tirasse a bunda da cadeira a sociedade melhorava", afirma. "Isso mudou muito. No mundo político que se configurou já a partir do segundo semestre de 2014, a apatia política desapareceu, a sociedade se tornou hipermobilizada. Só que essa mobilização é de um pedaço da sociedade civil contra o outro. Ganhou um outro sentido: ela é fratricida."
"Eu via o ativismo como uma força transformadora que promovia o progresso social. E que a ampliação dos direitos só se dava por um processo de mobilização que arrancasse do Estado e do mercado direitos sociais. Esse pressuposto se desmontou depois de junho, mais exatamente depois da polarização que se seguiu a junho."
A emergência de um ativismo não mais direcionado à mudança social reconfigurou a política no país. "Ele [o ativismo hoje] às vezes até se disfarça de luta pela mudança social, mas é fundamentalmente um combate ao grupo antagonista."
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