Baleados no banho e indo a creche: os sobreviventes da Operação Escudo
Além dos 28 mortos durante os 40 dias de Operação Escudo na Baixada Santista, outras três pessoas foram baleadas por policiais em Santos. Os estados de saúde são considerados graves e elas correm risco de morrer.
Uma policial militar também foi baleada próxima a uma padaria no centro de Santos no início de agosto. Ela foi submetida a cirurgia e não corre risco de morte.
No morro José Menino, favela na divisa entre Santos e São Vicente, um mototaxista foi baleado com tiros de fuzil enquanto tomava banho no dia 30 de agosto, segundo testemunhas. O nome dele não foi informado.
O local dos disparos é um QG utilizado pelos mototaxistas como local de descanso. Um dia antes, o rapaz estava nesse QG com outro colega de trabalho, quando narrou em um áudio ter sido abordado por PMs do Baep (Batalhão de Ações Especiais de Polícia).
Na gravação, ele relatou aos colegas que os policiais fizeram perguntas, mas não houve opressão.
Testemunhas afirmaram à reportagem que PMs voltaram ao local no dia seguinte, bateram na porta e perguntaram se o mototaxista estava sozinho. Ao receber resposta positiva, arrombaram a porta do QG e dispararam contra o mototaxista, ainda conforme relatos.
O UOL esteve no local. Havia pelo menos quatro marcas de tiros no entorno do banheiro. A privada estava quebrada e o vitrô do local, estilhaçado.
O mototaxista foi encontrado do lado de fora do banheiro. Ninguém sabe se ele se atirou através do vitrô ou se policiais o levaram até a parte de trás da casa. Nessa parte, uma semana após os tiros, ainda havia marcas de sangue batidas. O estado de saúde dele é grave.
Um colega de trabalho mototaxista, o primeiro a chegar no local após os tiros, contou que a ambulância demorou para resgatá-lo. Disse que, quando seu colega foi colocado no carro do resgate, decidiu acompanhar a ambulância e se deparou com ela estacionada em outra parte do morro.
A testemunha decidiu fotografar, mas PMs a abordaram. A ambulância deixou o local enquanto a testemunha ainda estava com os policiais. Assim que foi liberada pelos PMs, dirigiu-se ao hospital. Ela afirma ter chegado lá antes da ambulância que levava seu colega de trabalho.
Segundo a versão da PM, o homem citado foi ferido após reagir a uma abordagem policial.
Policiais militares do 5° Batalhão de Ações Especiais realizavam patrulhamento na região, quando ouviram indivíduos correndo para uma viela. O suspeito apontava uma pistola em direção à equipe policial, que deu ordem de parada, mas o homem não obedeceu e os policiais intervieram. Com ele foi encontrado uma pistola Glock. A arma foi apreendida, juntamente com as dos PMs envolvidos na ação.
Na favela Última Ponte, em Santos, um rapaz de 24 anos foi baleado pelas costas em 28 de agosto. Ele estava a caminho de uma escola da região para buscar sobrinhos, segundo parentes.
Diversos vídeos circularam nas redes sociais sobre a ocorrência. Testemunhas e movimentos sociais de Santos afirmaram que o rapaz não tinha envolvimento com o crime e foi baleado mesmo sendo inocente. Ele ficou sob custódia do estado, mas teve a prisão preventiva revogada pela Justiça em 14 de setembro.
Segundo o Ministério Público, "a existência da materialidade e indícios de autoria do referido delito contra a vida foi afastada, sob o argumento da inexistência de qualquer ato executório do agente destinado a matar os policiais. No caso, não houve sequer um único disparo de arma de fogo efetuado por ele contra os policiais militares".
A Justiça retirou o jovem da condição de réu e o requalificou como vítima da ocorrência. Na versão da PM, o rapaz foi preso em flagrante por tentativa de homicídio contra policiais militares.
"Os policiais faziam patrulhamento pela Operação Escudo quando o suspeito foi flagrado apontando uma arma de fogo para uma equipe. Um PM interveio e o infrator foi ferido. Com ele foi apreendido uma pistola 765 e um rádio comunicador. O homem foi levado à Santa Casa, onde ficou internado, sob escolta da PM."
No início de 1º de agosto, a cabo da PM Najara Gomes foi baleada com tiros de fuzil quando se aproximava de uma padaria no centro de Santos. Ela recebeu alta hospitalar após passar 22 dias internada.
Segundo a Polícia Civil, a suspeita é de que criminosos da Baixada cometeram um atentado em Santos para tirar o Guarujá do foco. No mesmo dia, um rapaz foi preso e outro foi morto sob suspeita de participação no atentado contra a policial.
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