Investigação sobre morte de soldado antes de operação da PM gera dúvidas
A família do soldado Patrick Bastos Reis, 30, que morreu no dia 27 de julho após ser baleado no ombro direito em uma viatura da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) no Guarujá, não recebeu respostas convincentes do estado paulista sobre o ocorrido.
Ele foi atingido às 22h30 em um espaço não protegido pelo colete à prova de balas e não resistiu ao ferimento. Deixou mulher e um filho de 3 anos. Um suspeito foi preso, mas o crime está em investigação e ainda tem pontos em aberto.
Ao lado dele no carro da polícia, atrás do banco do passageiro, estava o cabo Fabiano Oliveira Marin Alfaya, de 39 anos, atingido na mão esquerda. Ele passa bem. A reportagem entrou em contato com Fabiano, mas ele não respondeu ao pedido de entrevista.
A morte de Patrick na Baixada Santista motivou a chamada Operação Escudo da Polícia Militar, que deixou 28 mortos nas últimas semanas. Testemunhas, familiares e vizinhos das vítimas dizem que policiais militares executaram, torturaram e alteraram cenas de crime nas ações. A PM nega.
Os disparos que atingiram o soldado e o cabo da Rota teriam sido feitos, segundo a versão apresentada pelos policiais que testemunharam, a uma distância de cem metros, no cruzamento entre a avenida da Saudade e a rua Conceição Vendramin Bernardino, próximo ao túnel do morro da Vila Júlia, no Guarujá.
A reportagem apurou que PMs costumam entrar apenas em comboio na região. E os policiais que estavam no carro, por não serem da região, desconheciam haver um local dominado pelo crime organizado na esquina.
Promotores da Baixada Santista entrevistados pela reportagem afirmam que o caso está esclarecido. Tudo indica, segundo eles, que um único disparo, feito desde o morro da Vila Julia, ultrapassou o vidro da viatura, que estava aberto, e atingiu os dois policiais. O carro da polícia não sofreu avaria.
Suspeito não foi preso em flagrante
A polícia afirma que o atirador se chama Erickson David da Silva, de 28 anos, conhecido inicialmente como Deivinho e, depois, chamado por parte da imprensa como "sniper do tráfico".
O exame residuográfico, que poderia identificar a presença de chumbo nas mãos dele e, consequentemente, comprovar a autoria do disparo, deu negativo. Ele está preso e afirma ser inocente.
Promotores da Baixada justificaram dizendo que esse exame é facilmente manipulável, já que ele poderia ter retirado as evidências das mãos. Deivinho não foi preso em flagrante.
Um cartucho encontrado no local do crime tinha rastreamento. Isso significa que o disparo feito contra os PMs da Rota continha munição adquirida pelo estado para forças de segurança. O disparo é compatível com uma pistola semiautomática da marca Taurus calibre 9 mm.
A venda desse tipo de arma foi liberada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro em 2019, quando o governo flexibilizou o acesso a armas. Ela voltou a ser de uso restrito no governo Lula.
Com a restrição, esse tipo de armamento, controlado pelo Exército, só pode ser utilizado pelas Forças Armadas, algumas instituições de segurança, além de pessoas jurídicas e físicas habilitadas.
O UOL teve acesso a uma fotografia de uma pistola calibre 9 milímetros, que teria sido apreendida próximo ao local do crime e que, segundo o governo paulista, foi a usada para atingir o soldado e o cabo da Rota naquela noite. Apesar de a arma estar muito enferrujada, o IC (Instituto de Criminalística) atestou que ela funciona.
A Polícia Civil solicitou exame de confronto balístico para saber se a arma, de fato, foi a mesma utilizada no crime que matou Patrick. O laudo não havia sido concluído até o momento de publicação desta reportagem.
"Há muitas dúvidas sobre a morte do policial Patrick. E o governo do estado se recusa a responder. É urgente que a gente responda às denúncias de tortura, execução sumárias em torno das mortes da Baixada. Os governos devem ser responsabilizados pelo desastre da Operação Escudo", afirmou Dimitri Sales, presidente do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana).
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