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Segurança mantém brasileiros em Portugal, apesar da violência em escolas

Apesar das dificuldades de adaptação, muitos brasileiros consideram valer a pena manter os filhos estudando em Portugal.

A publicitária Mariana Carneiro, de João Pessoa, mora em Aveiro há 6 anos e tem um filho de 12. Nas duas primeiras escolas em que estudou, ela conta que o menino era xingado por ser brasileiro e voltava para casa com as roupas rasgadas.

Mariana diz que aconteceu de ir buscar o filho na escola e os funcionários não conseguirem localizá-lo —então ele era encontrado, tempos depois, chorando escondido.

Agora, mais ambientado ao país, o garoto já faz planos para o ensino secundário —equivalente ao médio no Brasil—, quando poderá cursar disciplinas de seu agrado. Em Portugal, os estudantes escolhem uma entre quatro diferentes áreas —humanas, exatas, biológicas e artes— para concluir a escola.

"No geral, o projeto tem sido satisfatório", afirma Mariana, que se mudou para o país para que o marido cursasse o mestrado— o casal não tem planos de regressar ao Brasil.

'A vida não é fácil'

É a mesma situação da jornalista Karina Cardoso, de Fortaleza, em Portugal desde março de 2020. Quando chegou à cidade de Aveiro e passou a ser hostilizado pelos colegas por causa do sotaque brasileiro, o filho dela, então com 7 anos, costumava chorar na volta da escola, pedindo para retornar ao Ceará.

"Riam da forma como ele falava. Ele era sociável e se tornou tímido", ela conta.

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"Era dolorido para mim, mas tive que ser dura com ele, dizer que a vida não é fácil." Hoje, aos 11, ele vai para a escola sozinho, de ônibus. "O que não seria possível no Brasil, por causa da segurança. Aqui, ele pode andar com celular na rua", diz Karina. "Então, no final, o saldo é positivo."

O filho de Karina Cardoso (foto) foi hostilizado na escola por causa do sotaque, mas ela pretende fincar raízes em Portugal
O filho de Karina Cardoso (foto) foi hostilizado na escola por causa do sotaque, mas ela pretende fincar raízes em Portugal Imagem: Acervo pessoal

A mineira Carolina (nome trocado, a pedido da entrevistada) vive em Lisboa com marido e dois filhos de 4 e 8 anos desde dezembro de 2021. O mais novo já revelou que recebia palmadas da professora —ou "tautau", gíria local para castigos físicos.

Segundo o garoto contou em casa, após a aplicação de "tautau" a professora dizia que não aceitaria que ele "fizesse queixinhas ao papai e à mamãe". E colocava o dedo na boca, em sinal de silêncio.

"Todo início de ano letivo penso em voltar para o Brasil", ela conta, "mas ainda há muitas vantagens em morar em Lisboa". Carolina e os filhos gostam dos espaços públicos, por onde podem passear com segurança. O marido dela também tem um emprego na cidade.

Por enquanto, o plano da família é permanecer por lá.

'Hoje meus filhos tomam sopa'

A influenciadora Patrícia Lemos oferece serviços para brasileiros que desejam migrar para Portugal. Ela é dona do perfil "Vou mudar para Portugal", com mais de 720 mil seguidores no Instagram, e considera que o país oferece uma boa experiência escolar para crianças e adolescentes.

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"A perspectiva de vida deles muda completamente. Seu filho vai entrar numa universidade e fazer intercâmbio na França, na Bélgica. Abre-se um horizonte fantástico", afirma.

Ela diz que as diferenças de costumes podem surpreender negativamente os brasileiros. Cita como exemplo a oferta de sopa nas escolas, durante o almoço. Há relatos de crianças obrigadas a tomar sopa, mesmo quando pais e mães orientam os funcionários das escolas a deixá-las recusar o prato.

"É uma questão cultural. As mães brasileiras dizem que não querem forçar os filhos a comer. Mas, para o português, tem que tomar a sopa", ela afirma. "Meus gêmeos de 11 anos não tomavam sopa. Hoje, tomam. Virou um hábito."

"É assim. Reto, mais rígido, com regras. Portugueses são muito práticos. Aqui não tem aquela docilidade a que estamos acostumados. Muitas vezes, soa como grosseria", diz a influenciadora.

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