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No Path, influenciadoras discutem ativismo digital nos movimentos sociais

Manifestantes se reúnem em frente à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) para um protesto a favor dos direitos das mulheres em 2016 - Ellan Lustosa/ Código 19/ Estadão Conteúdo
Manifestantes se reúnem em frente à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) para um protesto a favor dos direitos das mulheres em 2016 Imagem: Ellan Lustosa/ Código 19/ Estadão Conteúdo

Letícia Naísa

Do TAB, em São Paulo

01/06/2019 04h00

Não é novidade que a internet e as redes sociais mudaram a forma das pessoas se comunicarem. Em 2019, ser influenciador virou profissão e é até sonho de criança. A novidade é que os "mimos" das blogueiras têm sido trocados por discursos politizados. Ao invés de falarem apenas de produtos, youtubers têm levantado bandeiras de diversas causas e assumido postos de ativistas.

O debate sobre diversidade e igualdade que sempre esteve presente no ativismo dos movimentos sociais agora surge também nas telas. Com um público cada vez maior e mais fiel, os influenciadores soltam o verbo para defender o combate ao racismo, ao machismo e à homofobia.

A importância da influência digital para os movimentos sociais é tema no Festival Path, principal evento de inovação e criatividade do Brasil, neste sábado (1). Apresentado pelo TAB, o Path acontece até este domingo (2) em diversos pontos da avenida Paulista.

Na mesa de debate, as influenciadoras Paula Landucci, Ana Paula Xongani e Hariana Meinke. Juntas, as três influenciam um público de mais de 445 mil seguidores, isso só no Instagram. Pela rede social, tentam passar a mensagem de que já se foi o tempo da intolerância.

Para Xongani, abordar temas polêmicos nas redes sociais foi natural. Filha de pais ativistas, a influenciadora e empreendedora apenas levou para a internet assuntos que já faziam parte do seu cotidiano. "Sou eu mesma ali, falar sobre esses assuntos na internet é uma sequência do que eu já faço na vida há 30 anos", afirma.

Curitibanas participam do "Dia das Mulheres Trabalhadoras" no Dia Internacional da Mulher em 2019 - Theo Marques/Framephoto/Estadão Conteúdo  - Theo Marques/Framephoto/Estadão Conteúdo
Curitibanas participam do "Dia das Mulheres Trabalhadoras" no Dia Internacional da Mulher em 2019
Imagem: Theo Marques/Framephoto/Estadão Conteúdo

Palavra de influencer

O combate ao racismo e ao machismo são as principais pautas defendidas por Xongani. Para abordar os temas, ela faz uso do que chama de ativismo afetivo. " É um ativismo a partir do diálogo. Eu me entendo como parte da mudança, como uma dessas pessoas que também precisa se rever o tempo inteiro", explica. "Isso traz afetividade para as minhas redes e, por isso, eu tenho acolhimento e baixo nível de rejeição."

É por meio da estratégia do diálogo e da comunicação que Hariana Meinke produz seu conteúdo nas suas contas na internet. Junto com duas amigas, Meinke lançou no Instagram a página "E aí, tá boa?" para dar visibilidade a trabalhos de mulheres. "A gente tenta dar visibilidade e voz para mulheres que tenham algo para falar. O Instagram pode ser um ambiente nocivo, então a fazemos um conteúdo com essa temática de mulheres, falando sobre algo que não seja clichê", explica.

Para ela, as eleições de 2018 foram um ponto de virada para os influenciadores: muitos tiveram que se posicionar. "Essa campanha eleitoral foi um divisor de água, as pessoas passaram a usar as ferramentas de forma mais consciente", opina. "Muitas vezes as pessoas não estão revoltadas com o que está acontecendo porque elas não sabem o que está acontecendo."

Poder ser ouvida por milhares de seguidores é uma forma de abrir os olhos das pessoas, segundo Meinke, que acredita no poder da comunicação e da educação para mudar o mundo. "Os influenciadores quando falam alguma coisa estão, de certa forma, educando as pessoas para que esses movimentos possam se fortalecer", diz.

Manda jobs

Levantar bandeiras e defender causas, no entanto, nem sempre foi uma atitude apreciada por marcas e empresas que contratam influenciadores para ações de marketing. Mas esta é uma realidade que vem mudando aos poucos. "Eu só trabalho com grandes marcas graças ao meu ativismo. Por fazer um trabalho consciente foi que eu cheguei a elas", diz.

Para Meinke, existem os dois lados da moeda: ao se posicionar, os influenciadores podem perder público e oportunidades de trabalho, mas também podem atrair um novo público, interessado naquele tipo de mensagem. "Você está sempre sujeita a julgamentos na internet, faz parte do jogo", afirma.