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Ex de Kaká e irmã de Chiquinho Scarpa faturam com curso de 'boas maneiras'

Curso de boas maneiras de Fátima Scarpa e Carol Celico - Reprodução
Curso de boas maneiras de Fátima Scarpa e Carol Celico Imagem: Reprodução

Paulo Sampaio

Do TAB

10/12/2020 04h02

A mulher está no restaurante, com o marido e um grupo de amigos, e sente sede. O que fazer?

"Nunca peça água diretamente ao garçom. Essa função é do marido. E outra: a conta é do homem. Vou continuar insistindo nisso. Se tem homem na mesa, pelo amor de Deus, gente, a obrigação de pagar é dele!"

Esses são apenas dois dos inúmeros — e valiosos — ensinamentos de Fátima "Fafá" Scarpa no workshop de "Boas Maneiras" que Caroline "Cá" Celico promove em sua plataforma, a CaCelico Class.

Dois mil alunos

Ex-mulher do meio-campista Kaká, Cá conta que o curso já atraiu 2 mil alunos de todo o Brasil, com idades que vão de 20 a 60 anos. "A média é dos 30 aos 40. Tivemos apenas 1% de pedido de reembolso", comemora.

A dupla concedeu entrevistas por WhatsApp, e as respostas foram reproduzidas tais como estão escritas. 1% de 2 mil seriam 20, mas como Cá escreveu "pedido", no singular, acredita-se que ela quis dizer 1 pedido de reembolso.

A reportagem tentou saber quem foi o sem-educação, mas Cá informou que não poderia revelar os nomes dos alunos, "por contrato", nem mesmo se eles autorizassem.

Preço honesto

O workshop é dividido em três módulos, "café da manhã", "almoço" e " jantar". O valor cobrado por cada um caiu pela metade: de "12 x R$ 30" para "12 x R$ 15". O combo dos três módulos foi de "12 x R$ 74" para "12 x R$ 37". Segundo Cá, o motivo não foi a baixa procura por aulas de boas maneiras:

"Nunca existiu preço cheio", garante ela, a despeito de o site anunciar que houve. Aparentemente, foi uma estratégia para a consumidora de boas maneiras acreditar que estava fazendo um grande negócio. "É uma opção do escritório."

Aula conceito

Antes dos três módulos, há uma "aula conceito" gratuita, a título de degustação. Nela, as duas palestrantes se apresentam e falam suas credenciais.

Fátima é a irmã menos famosa do playboy Chiquinho Scarpa e da socialite Renata idem, que vem a ser mãe do marido de Cá, Eduardo Scarpa (Du?), e viúva do empresário Alcides Diniz, ex-Pão de Açúcar.

"Conheci a Carol quando ela começou a namorar meu afilhado. Desde o começo eu me encantei com a delicadeza e a gentileza dela comigo, com a nossa família e com todo mundo a sua volta", diz Fátima.

Carol Celico com Eduardo Scarpa, em 2016 - André Ligeiro/Divulgação - André Ligeiro/Divulgação
Carol Celico com Eduardo Scarpa, em 2016
Imagem: André Ligeiro/Divulgação

Maçã rosada

"Scarpa" quer dizer "sapato" em italiano, mas em tradução livre, na alta sociedade paulistana, converteu-se em sobrenome nobre. Chiquinho é "conde". Ele ficou conhecido por atitudes extravagantes, como a intenção de enterrar seu Bentley no gramado de casa. Chegou a cavar a cova, mas depois despachou a imprensa, dizendo que era só uma estratégia para atrair atenção em uma campanha de doação de órgãos.

Pele muito branca, maçã do rosto rosada, cabelos pretíssimos e lábios carmim, Chiquinho tornou-se famoso também por disputar os holofotes com as namoradas.

Em entrevista para este repórter, em 2011, a penúltima delas, a empresária Marlene Tuffi, garantiu que o colorido do namorado era natural. "Você pode passar um guardanapo ali que não sai nada. E olhe que eu já acordei junto com ele, os dois bem amassados. Eu olho e digo: 'Queria ter esse tom'."

Chiquinho Scarpa e Marlene Tuffi no aniversário do jornalista e apresentador Paulo Sanseverino, em SP - Foto Rio News - Foto Rio News
Chiquinho Scarpa e Marlene Tuffi no aniversário do jornalista e apresentador Paulo Sanseverino, em SP
Imagem: Foto Rio News

Muitas bolsas

As credenciais de Fafá vem de longe — a riqueza pregressa da família, as refeições servidas à francesa desde a infância, as viagens pelo mundo e a convivência com nobres europeus.

"Aqui [no Brasil] a gente vê o armário [das mulheres] cheios de bolsas, uma loucura. A europeia tem duas, três para a noite, e duas, três, quatro que sejam, para o dia", diz ela, com um timbre de voz anasalado que lembra o de Chiquinho.

Apesar de a maioria das brasileiras mal ter recursos para ostentar uma bolsa, Cá afirma que o workshop é dirigido a pessoas de todas as classe sociais ("Hoje em dia, menos é mais, né, Fafá?").

Bem a calhar

Para Carol, "a partir do momento em que você se vê olhando para o outro como se ele fosse importante, porque ele é importante, você vai ser elegante". Cá já declarou que os dois homens de sua vida são o irmão, Enrico, e o pai, Celso Celico, o que faz supor que ela tem mesmo muito a aprender e a ensinar sobre boas maneiras: Enrico foi investigado em inquérito que apurava crime de racismo. Na ocasião, ele publicou nas redes sociais sua opinião sobre a plateia do festival Lollapalooza:

"TBT da época em que o Lolla ainda era tesão e não tinha 3 baianos por metro quadrado."

Diante da repercussão negativa, Celico não se intimidou.

"KKK em São Paulo se chama de baiano qualquer nego que se veste mal. Aprendi assim, e assim meus filhos serão ensinados, doa a quem doer".

Enrico e Cá são filhos de Rosângela Lyra, mais conhecida como ex-diretora da grife Dior no Brasil. De uns anos para cá, Lyra revelou um côté ativista política, atirou-se de cabeça em uma ruidosa militância contra a corrupção e criou um movimento no WhatsApp chamado "Política Viva". Parece que convenceu alguns e causou desconfiança e eventualmente chacota entre outros.

Sobre a alça da xícara

Na verdade, a especialista em boas maneiras, segundo Cá, é Fafá. "Apenas faço a intermediação entre a Fafá e os alunos do curso", diz a jovem.

No módulo "café da manhã", que dura cerca de 20 minutos, Fafá diz que ela, pessoalmente, não gosta de servir "nada em copos com pé". Costuma reservá-los para o almoço e o jantar. O curso é rico em informações como essa, de inegável utilidade.
Logo surge outra, ainda mais relevante: a alça da xícara deve estar sempre virada para o lado direito, a fim de evitar que o comensal precise girá-la, antes de levá-la à boca.

Cá pergunta: "E o canhoto, Fafá, como faz?"

Fafá sorri, com expressão de coqueteria: "Ah, infelizmente a gente não muda a mesa por causa do canhoto. Ele que vire a xícara e se acerte com a alça". As duas riem: hihihi.

Mexendo o café

A respeito de mexer o açúcar no café, a professora ensina um segredo que diz ter aprendido com a rainha da Inglaterra. Não se deve girar a colher no sentido horário, e sim para frente e para trás, na direção das seis horas: "Evita de pingar tudo fora da xícara", explica.

Na mesa, deve-se colocar apenas o básico para uma refeição matinal. O exagero é cafona, concordam as duas. Basta uma fruta, ou suco, leite, café, pão francês, croissant, cereais, manteiga, geleia, requeijão, queijo branco, ovo pochê ou cozido.

Cá, que é contra o desperdício, diz que, "em vez de montar uma mesa com todas as opções, dá uma variada, até para não enjoar": "De domingo, faz uma panqueca, um waffle..."

Guardanapo de papel

No módulo "almoço", surge uma dúvida importante: tudo bem usar guardanapo de papel?

Fafá: "No caso do almoço informal, é aceito. Eu sei que muita gente vai me criticar, porque antes não podia de jeito nenhum. Mas hoje, no momento que a gente vive [pandemia], eu uso no dia a dia o de papel, porque muita gente pega no de pano antes de chegar à mesa."

Independentemente de o guardanapo ser de pano ou papel, pelo amor de Deus!, diz ela, deve estar sempre do lado esquerdo do prato: "Já ouvi gente falando que na Inglaterra é do lado direito, mas gente, de jeito nenhum! Nem na Inglaterra, nem na França, nem na Rússia!!"

A cor do batom

Para não deixar o guardanapo marcado, Fafá diz que não iria a um "jantar sentado" usando batom vermelho. "Nesse dia, eu não vou poder ter essa vaidade."

Cá: " Olha que delicadeza!! A pessoa pensa no guardanapo antes de ir a um jantar!"

De vez em quando, a anfitriã do workshop abandona a postura de atenção incondicional e provoca a professora com uma pergunta supostamente elementar. "Nunca se aponta na mesa, não é Fafá? Eu sempre digo isso ao Luca e a Isabella... Nós, italianos, falamos muito com as mãos... Quer dizer, nós não, a gente vê as pessoas falando, hahaha."

"Jamais!", pontifica Fafá, indignada. Para dar a dimensão da gafe, ela escava uma preciosidade que remonta a séculos atrás. "500 anos antes de Cristo, os egípcios já ensinavam que nunca se aponta na mesa."

Com voz de garotinha, Cá levanta a bola: "Muito menos com o talher, né, Fafá?"

Fafá corta: "Já-mais!"

Cabelo confortável

Em todos os módulos, o cenário é o mesmo. A dupla se senta ao redor de uma mesa, na casa de Fafá, tendo como fundo uma tapeçaria com motivos florestais. Fafá está sempre de preto, e Cá veste uma bata cheia de babados, abotoada até o pescoço, que dá a ela um indefectível ar de aluna aplicada. Seus cabelos, lisíssimos, cortados na altura do ombro, farfalham quando ela vira pra lá e pra cá.

A propósito, a professora informa que não se passa a mão no cabelo quando se está à mesa. E Cá: "Questão de higiene, né, Fafá? O ideal é sentar à mesa com o cabelo confortável".

Fulana com a bandeja

Os ensinamentos de Fafá chegam ao ápice no módulo "jantar", em que ela solta toda a sua finesse. "Quando eu faço uma coisa menor, para 12 pessoas, sirvo na mesa; se for para 22 pessoas, eu agrego o terraço; no caso de convidar 60 pessoas, aí eu monto seis mesas de dez pessoas..."

Ela diz que é contra empregados passando entre os convidados, com petiscos. "Você está conversando, vem a fulana com a bandeja, não acho elegante."

Cá: "E se tem velas e castiçal, qual a hora ideal para acendê-las?"

Fafá: "Quando os convidados já chegaram, e sempre depois de o sol se por."

No menu, Fafá sugere uma quiche lorraine ou de alho poró, uma bela salada, rosbife e arroz negro. "É óbvio que eu não vou fazer estrogonofe nem macarrão com almôndegas! Não dá!"

Observação: "A gente procura fazer pratos que agradem a todos. Mas se servirem abobrinha e chuchu, sinto muito, tem que comer."

Bom senso sempre

A parte mais saborosa do workshop são as mensagens deixadas pelas participantes:

"Gostei muito! Bom senso sempre!", escreve Gislaine.

"As boas maneiras resgatam valores e a união entre as pessoas!", acha Fernanda.

Incisiva, Abinadab exclama: "Que tudo!! Nasci de novo hahaha. Vou ter de assistir de novo, de tão bom. O sofisticado é simples, né?"

Zilda Guimarães de Araújo, socialite em Porto Velho que fez o curso de boas maneiras de Carol Celico - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Zilda Guimarães de Araújo, socialite em Porto Velho que fez o curso de boas maneiras de Carol Celico
Imagem: Arquivo pessoal

Bom saber mais

Apesar de Cá se negar a colaborar, a reportagem localizou uma aluna pelo Instagram. Encantada com o que aprendeu, a advogada Zilda Guimarães de Araújo, 60, da alta sociedade de Porto Velho, em Rondônia, diz que " é muito bom saber mais". "Sigo a Caroline há algum tempo no Instagram, e sempre achei muito interessantes as dicas dela. Eu gosto de colocar uma mesa bonita, receber bem para jantares e servir meus convidados com capricho."

Depois de provar que assistiu ao workshop até o fim, Zilda recebeu um "certificado" em que a CaCelico Class atesta que ela "cumpriu todas as grades do curso".

Fica a pergunta: é correto pendurar na parede?