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Avatar desconstruídão? Como as questões identitárias se refletem nos games

(Quase) todo mundo aderiu aos games na quarentena. Na foto, a congressista americana Alexandria Ocasio-Cortez jogando Among Us - Reprodução/Twitch
(Quase) todo mundo aderiu aos games na quarentena. Na foto, a congressista americana Alexandria Ocasio-Cortez jogando Among Us Imagem: Reprodução/Twitch

Do TAB

28/02/2021 04h01

Se você já jogou "The Sims" alguma vez na vida, confesse: criou um personagem igualzinho a você (talvez um pouco mais bonito) e quem sabe até juntou com uma família dos sonhos, baseada em crushes reais, não é mesmo?

Não se preocupe, você não está sozinho(a). "Ao criar um avatar para um jogo, 62% das pessoas escolhem um personagem que seja parecido fisicamente consigo", conta Renata Coltro, especialista em games e membro da Consumoteca, no novo episódio de CAOScast. "Eu por exemplo: minha bonequinha do 'The Sims' é a minha cara", confessa ela (ouça abaixo partir de 23:03).

No momento em que as fronteiras entre "vida real" e "vida online" já não existem, e a socialização se dá principalmente em ambientes virtuais, nada mais natural do que transferirmos nossos costumes e identidades para dentro dos dispositivos também. "O que a gente vê é que, por mais lúdico que seja um jogo, por mais surreal que seja o universo de um game, as pessoas não abandonam vieses identitários, vieses éticos. Elas trazem um pouco da sua vida offline para se relacionar com essa realidade também", observa a líder de pesquisa da Consumoteca, Marina Roale, no episódio distribuído esta semana aqui em TAB (a partir de 28:10).

Se antes o mundo dos games parecia ser tomado pelo já conhecido "homem, hétero, cis, privilegiado", hoje esse cenário mudou muito, e há espaço para diferentes identidades, ponderam os caóticos. "Todo mundo hoje pode ser considerado um gamer, independente de quantas horas está jogando, de como está jogando. (...) Se a sua avó joga 'Fazenda Feliz' no Facebook, ela também é gamer. Está na hora de a gente quebrar mesmo esses estereótipos e enxergar esse mercado sob uma nova ótica", diz Coltro (a partir de 9:10).

E esse espaço surge por diferentes fatores. Durante a pandemia, jogos como "Among Us" — que são leves e permitem socializar com os amigos — convidaram muita gente a experimentar o universo dos games. Além disso, "Free Fire" e outros disponíveis para celular, que não gastam muitos dados, também dão oportunidade para mais gente se conectar. Quanto mais jogadores, mais diversas as identidades dos gamers e, consequentemente, de seus avatares.

"Muitos jogadores que são LGBT ou outros tipos de minoria encontram nesse espaço um lugar de socialização e aceitação. A partir dessa tela, eles conseguem se mostrar para o mundo também", observa Coltro. "A tela é algo que te expõe a situações novas que envolvem interação e forma essas comunidades. E a comunidade não está mais dentro do game, ela sai desse espaço também" (a partir de 28:58).

E você, já encontrou sua tribo nos games? Ouça o episódio completo de CAOScast acima para descobrir por que esse universo está ganhando cada vez mais espaço.