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Aniversário Guanabara: 'mesmo estando mais barato, está caro', diz cliente

Mariana Tome, cliente do supermercado Guanabara - Julio Cesar Guimaraes/UOL
Mariana Tome, cliente do supermercado Guanabara
Imagem: Julio Cesar Guimaraes/UOL

Daniele Dutra

Colaboração para o TAB, no Rio

08/11/2021 15h06

O tão disputado "Aniversário Guanabara" é famoso pelos preços baixos, superlotação, briga por produtos em promoção e chegou a render muitos memes na internet com os vídeos gravados em diferentes unidades da rede de supermercados fluminense. Como acontece todo final de outubro — e com duração de um mês —, era comum ver pessoas com dois ou três carrinhos lotados, já pensando na ceia de Natal e Ano Novo. Em 2021, o cenário foi diferente.

A manhã de quinta-feira (4) parecia mais um dia normal no Guanabara da Rua Maxwell, em Vila Isabel, zona norte do Rio. Às 11h00 já havia um bom fluxo de entrada e saída de clientes, mas a fila de carrinhos disponíveis mostrava que o mercado não estava tão cheio. Logo na entrada, funcionários verificavam a temperatura e espirravam álcool 70° nas mãos e nos carrinhos de quem entrasse na loja. Não havia, como de costume, filas gigantescas nos caixas que duravam horas, carrinhos abarrotados e muito menos briga por produtos na promoção. Dessa vez, também não faltavam vagas no estacionamento.

A inflação de 10,25% no acumulado de 12 meses refletia em prateleiras cheias e carrinhos vazios. A fila do caixa andava rápido e as máquinas computavam principalmente itens essenciais -- nada de produtos repetidos ou em grandes quantidades. Ver um pedaço de carne nas compras dos clientes também era raro.

'Nada de estocar'

Entre os corredores em que transitavam poucos carrinhos, estava o casal de vigilantes Juliana Santana, 37, grávida de 32 semanas e Thiago Rodrigues, 38. Vivendo no mesmo bairro do supermercado, o casal é cliente e já frequentou outros aniversários Guanabara. "Antigamente era bem mais cheio. Tá desse jeito por causa do preço alto e do desemprego. Mesmo com os alimentos caros em todos os lugares, aqui ainda está valendo a pena, é melhor do que os outros mercados", disse Juliana ao TAB. "Nós mudamos alguns hábitos e hoje só compramos o necessário mesmo, nada de estocar", completou Thiago.

Devido à pandemia, o supermercado decidiu esticar a promoção de aniversário de 30 para 40 dias, e passou a abrir as lojas uma hora mais cedo. Um rodízio de promoções também foi criado para evitar aglomerações -- em 2020, não foi possível realizar o evento por causa do avanço da pandemia. Agora, mesmo com a vacinação avançada na cidade, o empecilho é o preço.

Sem carrinho, a fonoaudióloga Carla Souza, 43, foi comprar apenas alguns itens que estavam acabando em sua casa. Moradora do Andaraí, bairro vizinho ao mercado, ela diz que só faz compras no Guanabara, mas fugia do aniversário justamente por causa da superlotação. "Antes do mercado abrir tinha fila de carro pra entrar, agora tá bem mais tranquilo", disse à reportagem. Mãe de uma menina de três anos, ela fica de olho nos itens de bebê: "As promoções não estão tão na promoção e os produtos não ficam tão baixos como antes, não é a mesma coisa. O leite está super em conta, a fralda ainda vale a pena comprar, mas o sabonete líquido nem tanto. Acho que depende muito do produto, mas no geral, fazer essas compras em época de aniversário vale a pena", contou.

De olho nas promoções, Nogueira, 55, veio da Urca, zona sul do Rio, para a zona norte, só para conferir o aniversário: "As coisas estão difíceis, não está fácil pra ninguém. Estou levando um molho que eu nunca nem ouvi falar, nem sei se é bom, mas como está R$ 0,77, vou levar. Não acho que o aniversário Guanabara esteja muito bom não, podia estar melhor", disse o aposentado antes de srguir com suas compras.

Calculadora na mão

Com um pote de manteiga na mão, o vigilante Rafael Gama, 31, deu apenas uma passada rápida para comprar o ingrediente que faltava para a mãe fazer um empadão. Cliente do Guanabara e de outro supermercado mais próximo de sua casa no Andaraí, o vigilante não acredita que a promoção de aniversário esteja valendo muito a pena. "Aniversário Guanabara virou dia normal, dia comum. Hoje em dia eu não encho mais o carro de compras, venho semanalmente, compro apenas o essencial e prefiro comprar carne em outro lugar quando meu vale alimentação carrega. Aqui só vende a peça inteira, nesse outro lugar consigo comprar apenas a quantidade que eu preciso", contou.

As enormes filas do queijo e da carne já não existem. Assim que o cliente se aproxima, rapidamente é atendido por um funcionário, sem mais delongas. Acompanhada da mãe, da irmã, do sobrinho pequeno e de um bebê de colo, a trancista Mayara Alves, 23, veio de Cosme Velho, Zona Sul do Rio, com a família, para conferir o evento: "Achei que fosse ter muito mais promoção, mas está caro igual onde eu moro. Comprar carne aqui fica impossível, a intenção era comprar um pouco para variar o cardápio, mas eles só vendem a peça inteira. Quem é que tem R$100, R$150, R$200 pra comprar carne? Viemos iludidas com a promoção, mas não tem nada de mais".

Somando os valores na calculadora do celular, o motorista Jorge Souza, 37, morador de Vila Isabel, gostou do aniversário Guanabara deste ano, mas com ressalvas: "Estou achando as promoções muito boas, tem uma variedade de preço e de produto bem interessante. Não está como alguns anos atrás, dessa vez tem coisas mais caras, outras mais em conta, mas no geral tá valendo a pena", opinou. Casado e pai de dois filhos, o motorista pechincha e faz compras em dois mercados: "Não tem como comprar tudo em um lugar só. Eu compro aqui, compro em outro mercado, pechincho e pesquiso preço para conseguir fazer uma compra boa. As coisas estão muito caras e o salário não acompanhou essa alta de preços. Eu tenho feito menos compras e as pessoas também, principalmente por causa dessa alta na inflação". Depois de fazer os cálculos, Jorge seguiu com as compras.

Mudança de hábitos

Com a lista de compras anotada no celular, a contadora Mariana Tomé, 28, grávida de 8 meses, ia sozinha ao supermercado, mas agora vai acompanhada da avó por causa do final da gestação. Semanalmente dá uma passada no Guanabara para pegar as melhores promoções. "Até que estou gostando do aniversário, mas mesmo estando mais barato, continua caro. Eu passei a comprar em menor quantidade, percebi também que as pessoas estão vindo menos e comprando menos ainda", disse a jovem, que em seguida encontrou a avó pelos corredores.

Destoando da maioria dos carrinhos que estavam vazios ou pela metade, o consultor de projetos Rafael Caetano, 46, estava com o carrinho cheio e uma variedade de carnes na fila do caixa. Cliente do Guanabara, ele era mais um que evitava o aniversário por causa da superlotação e do tumulto, mas nesse ano decidiu comparecer. "Os preços continuam bem salgados devido ao momento que a gente vive. Hoje faço o que nunca fiz antes: pesquiso em mais de um mercado antes de comprar."

As compras eram para abastecer a casa onde ele mora com os pais na Tijuca, bairro vizinho ao supermercado. Após mais de um ano, dessa vez ele trouxe a mãe, a aposentada Creusa Jales, 75, que ficou surpresa com o que viu. "Esse é o primeiro mercado em que piso desde o início da pandemia. Tá tudo muito diferente, bem mais vazio, antigamente tinha até briga para pegar um produto, agora não mais". Com filas curtas e rápidas, Rafael já era o próximo no caixa.