'Lugar de comer bem': motel no Rio fica famoso pelos pratos bem servidos
Em 13 de janeiro, numa live com milhares de espectadores simultâneos, o YouTuber Casimiro contou que tem amigos que usam a tática de convidar uma pretendente para jantar e sugerem como destino gastronômico o Hotel Corinto, motel em Vila Isabel, na zona norte do Rio conhecido pela qualidade de seus serviços gastronômicos. Não disse nenhuma novidade.
O Twitter, claro, veio abaixo.
Entre as avaliações do motel em sites especializados, há diferentes níveis de satisfação com as acomodações, o atendimento e o preço, mas o sucesso da comida é quase consenso.
Descobrir os autores da façanha não foi tarefa fácil. A reportagem do TAB tentou, ao longo de dias, convencer a equipe do motel a revelar o nome dos talentosos cozinheiros que fazem do Corinto o sucesso gastronômico que é.
Na última sexta-feira (28), enfim tivemos acesso às dependências do motel. Fomos recebidos na suíte Pandora, a mais cara do Corinto, com diárias a R$ 1.000 em dia de semana, e R$ 1.300 aos sábados e domingos.
O espaço é claramente pensado para ser diferente do que se espera de um quarto de motel. As cores são claras, o estilo é clean. Nada de cama redonda ou espelho no teto.
O almoço apresentado é o carro-chefe da casa: picanha importada servida com arroz, farofa, feijão, batata frita e molho à campanha. A porção veio generosa. "A gente tem até lagosta no cardápio, prato que a gente faz a preço de custo, só para que o cliente tenha a experiência, mesmo", diz Robson Souza, 32, gerente do Corinto. O preço: R$ 159 (para 2 pessoas).
Risoto com feijão à parte
Tatiane Amorim, 35, é uma das chefs que comandam a cozinha industrial, onde 11 pessoas trabalham em turnos para atender aos 89 quartos. Ela nos recebeu na suíte do Corinto.
Tatiane chegou ali há um ano e meio e vem dando uma cara mais "gourmet" aos pratos. Divide o comando com outro chef, e reconhece o desafio de manter alto o nível da casa.
"O hotel sempre teve padrão de super bem servido, e agora estamos tentando trabalhar a decoração do prato, buscando deixar essa comida que já é conhecida como muito boa com uma apresentação mais bonita, pra dar o 'final feliz' que os clientes buscam", brinca ela.
Tatiane entrou na profissão por influência da mãe, que é boleira. Não pensava em trabalhar em um motel — queria mesmo era ser confeiteira.
Foi seu ex-marido, sommelier, quem deu força para que ela cursasse gastronomia. Daí, começou a trabalhar no ramo de hotelaria e nunca mais saiu, até vir parar no Corinto.
A cozinheira também administra o bar, onde a caipirinha é o coquetel mais pedido. Tal qual um restaurante comum, o horário de almoço é disputado no motel.
"Tem muita gente que vem só para comer. Aqui perto tem muitos escritórios, então há clientes cativos que vêm sozinhos para almoçar, mesmo. O movimento começa ao meio-dia e vai até umas 15h, direto", conta ela, que até reconhece alguns dos clientes assíduos pelo pedido.
"Tem um que sempre pede risoto de camarão com feijão à parte", diz.
Garçons na 'cam'
Acessar a cozinha foi mérito da reportagem. A equipe do motel não queria a presença de estranhos por lá, e a coisa toda tinha um certo ar de mistério. O lugar fica no subsolo do estabelecimento e a descida é reservada a poucos. Lá dentro, no entanto, tudo tem cara de restaurante comum, com cozinheiros trabalhando, pratos sendo montados e movimento normal.
A cozinha tem comunicação direta com corredores que dão acesso aos quartos. Dentro de cada quarto há uma parede falsa voltada para o corredor — é por ali que os pratos entram. Os garçons são visualizados do lado de fora por uma câmera; as imagens são exibidas na suíte.
Robson Souza é sommelier de formação. As sugestões de harmonização com destilados, vinhos e drinques são dele. Filho de chef de cozinha, também dá pitacos na cozinha do motel e aponta o tempo todo como o estabelecimento se destaca pelos detalhes.
"Nossas panelas são francesas", "as taças são alemãs de cristal e titânio", "no nosso café da manhã servimos mirtilo, framboesa e amora", "não somos nem motel, nem hotel, somos o Corinto", "você tem tecnologia, sofisticação, e pratos que você come em restaurantes" e por aí vai.
Tatiane conta que o Corinto é mais exigente com os fornecedores do que outros hotéis nos quais já trabalhou.
"O nosso diferencial está na matéria-prima. Os ingredientes são bem frescos. Até duas vezes na semana trabalhamos com carnes importadas. Nossos pães, massas, molhos, tudo é feito aqui", diz.
Negócio de família
O empenho da cozinha compensa. O estudante Julio B., 27, herdou o hábito de frequentar o Corinto de sua família. Sua mãe, tia, tios, todos sempre foram ao motel e elogiaram o espaço.
"Em casa tinha sempre cinzeiro do Corinto, souvenir de lá e era perto da minha casa, no Andaraí. Quando chegou minha vez de ir ao motel, fui lá também. É mais barato e melhor que os da zona sul", diz ele.
Da cozinha, recomenda a massa com camarão e o café da manhã, do tipo continental. "Muito bem servido e a comida é muito gostosa", indica.
Se de dia o movimento de quem pede pratos para almoçar é grande, à noite o público fica mais nos petiscos. Em compensação, o consumo de álcool explode.
"No verão, o pessoal vem da praia, bebe mais e come menos. No inverno, o pessoal come mais, a estação influencia", conta Robson, que conta que o cardápio está sendo reformulado.
Tatiane diz que nunca sofreu preconceito por parte da família ou amigos por trabalhar no motel e que não sente muita diferença entre o público dali e dos hotéis por onde já passou.
Fica a dúvida sobre se, quando sumiu em 2021 e foi encontrado sozinho no Corinto, Nego do Borel experimentou algum prato ou se foi prestar depoimento na delegacia com fome.
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