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Coach de sexo oral faz sucesso ensinando técnica 'sem lingua frouxa'

A coach Agatha Lee Harper - Arquivo pessoal
A coach Agatha Lee Harper Imagem: Arquivo pessoal

Nina Rocha

Colaboração para o TAB, de Belo Horizonte

06/02/2022 04h00

"A partir de hoje, você nunca mais vai chupar com língua frouxa e boca murcha". É com este incentivo que Agatha Lee Harper apresenta um dos cursos que oferece, "Delícias do Sexo Oral", em uma plataforma de produtos digitais.

Com o cabelo tingido de roxo -- ou loiro, nos vídeos mais antigos -- e batom vermelho, Agatha recomenda livros, dá dicas de como melhorar o sexo oral (em homens) e explica sobre pompoarismo em seu canal de YouTube, o Instituto Harper de Sexualidade Humana, que já conta com 18 mil inscritos.

A plataforma é uma vitrine, e os vídeos curtos servem como isca para atrair o público para cursos pagos que variam entre R$ 74,90 e R$ 2.999,99. A sexóloga considera que seu principal foco são mulheres de 35 a 48 anos, casadas ou em relacionamentos estáveis há muito tempo, que enfrentam problemas com a própria sexualidade ou que querem 'apimentar' a vida a dois.

Agatha Lee Harper é, na verdade, o codinome de Grazielle Vieira, de 41 anos, moradora de Goiânia. "No meu processo de autotransformação, me veio que eu tinha que ter um nome artístico. Com a ajuda de um numerólogo e de um astrólogo, a gente montou esse", revela, por videochamada, no mesmo escritório onde grava seus materiais Em frente a uma estante com vários livros sobre sexualidade, ela conta enquanto fuma um cigarro eletrônico que adotou o pseudônimo há quatro anos e, hoje, até a sua neta de cinco anos a chama por Vovó Agatha. "Só o meu pai e a minha mãe que não falam assim".

A coach Agatha Lee Harper - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A coach Agatha Lee Harper
Imagem: Arquivo pessoal

Manobras orais

"O orgasmo é para todas", "Sexo Trascendental, prazer consciente e orgasmos cósmicos", "Segredos das Mulheres Inesquecíveis" ou "Seduzir e enlouquecer seu homem na cama" são alguns dos cursos disponíveis. Neles, Agatha dispensa termos científicos e fala sobre órgãos sexuais, posições e práticas com naturalidade e humor. Não é raro que se dirija a quem está assistindo como 'amiguinha'. Ela acredita que a linguagem descomplicada ajuda na aproximação com as interlocutoras.

No curso básico de sexo oral, ela divide o conteúdo em uma breve introdução, exercícios para soltar a boca, técnicas e indicações das melhores posições para a prática antes de seguir para um passo a passo. Durante as lições, Agatha destaca a importância de estar presente no momento: "Não adianta tá pensando na faxina que tem que fazer, na louça, na janta. A boca tá aqui e o pensamento tá lá na China, na Índia, só sei que não está no sexo oral. Quando a gente utiliza as técnicas do mindfulness, a gente chupa com vontade", orienta.

O nome das 'manobras' são invenções da sexóloga para facilitar o entendimento de suas espectadoras: "lamber o cogumelo" e "chupar sorvete" são praticamente autoexplicativos, mas o método de apalpar os testículos do parceiro sem apertar muito para não para não machucar ganha o nome de "ovo de páscoa" -- lembrando a estrutura frágil do chocolate --, enquanto a melhor forma de colocar um preservativo com a boca é usando a "boquinha da vovó", usando os lábios para evitar o contato entre os dentes e o pênis. "A manobra da asa da borboleta é para lembrar que tem que fazer rápido, como se fosse uma borboletinha mesmo. São nomes que as pessoas lembram sem ficar uma coisa chata". O módulo avançado ganhou o nome de "Kung Fu da Boca''.

Agatha acredita que a didática criativa é remanescente de sua formação original em Linguística, pela UFG (Universidade Federal de Goiás). Foi depois que se interessou por formas mais práticas de explorar a língua e outros órgãos do corpo humano que buscou complementar os estudos com pós-graduações em sexualidade e neurociência. Sua pedagogia incentiva a prática e o treino. "Não adianta só assistir, tem que praticar. Vai lá, pega o seu amiguinho de plástico, qualquer coisa, mas treina, por favor!", comenta em um dos vídeos. Ela mesma demonstra os movimentos e técnicas nos cursos. "Eu acho que seria até meio hipócrita, se eu ficar só falando 'você faz isso faz isso faz aquilo' e não pegar o negócio pra mostrar".

A coach Agatha Lee Harper - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A coach Agatha Lee Harper
Imagem: Arquivo pessoal

Aprendendo na prática

Nem sempre foi fácil se posicionar dessa forma e Agatha usa o exemplo de sua própria experiência para sensibilizar o público. Conta que não tinha desejo sexual ou autoestima e também sentia dor durante as relações quando era mais jovem. Depois de uma gravidez aos 14 anos, ganhou muito peso e desenvolveu incontinência urinária. Uma ginecologista apresentou exercícios de pompoarismo para fortalecer a musculatura. Foi a primeira faísca para o despertar sexual.

"Na época não tinha internet, era muito difícil de estudar, mas descobri livros com dicas e tudo mais. Até lembro que fui à biblioteca com três disquetes e tive acesso às pesquisas", recorda. Comentando sobre os novos aprendizados, as amigas demonstraram curiosidade sobre as técnicas de contração dos músculos do períneo e da vagina. "Quando comecei, foi bem espontâneo. Nunca tive essa pretensão de ensinar pompoarismo".

Logo vieram as técnicas de sedução e de melhoria de confiança, também por uma demanda pessoal. "Tinha gente que só queria sair comigo para sentir os movimentos do pompoar. Isso fazia mal para a autoestima, você se sente usada, acaba sendo até um objeto sexual". Foi assim que Agatha encontrou métodos para ficar mais esperta e ser mais proativa na conquista. "A gente chama hoje de arte da sedução". É mais um dos cursos que oferece.

A coach Agatha Lee Harper - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A coach Agatha Lee Harper
Imagem: Arquivo pessoal

Não só boas vibrações

Há mais de 20 anos no mercado de palestras e cursos sobre sexualidade, foi só a partir de 2014 que Agatha começou a investir em sua presença digital. "Estava fazendo um curso do Érico Rocha [especialista em empreendedorismo e marketing digital] e ele falou que a gente tinha que se jogar no mundo online". Ela então começou de forma amadora, mandando manualmente os links para quem adquirisse suas aulas virtuais. Atualmente, tem uma equipe com oito pessoas que ajudam no atendimento, suporte, gravação, edição e divulgação dos produtos.

Para os próximos meses, a meta é regravar os cursos mais antigos com atualizações de conteúdo e melhorias na qualidade de som e imagem, além de também ampliar o portfólio de produtos voltados para homens -- mesmo diante de uma certa dificuldade em acessar a audiência masculina.

"Às vezes os homens dão muito trabalho, confundem as coisas. Acham que é putaria, não levam muito a sério". Agatha relata que muitos clientes homens questionavam se ela não ficaria sem roupa nos vídeos, constrangendo a ela e à sua equipe. "A gente tá procurando colocar uma roupagem mais séria para mostrar que é sobre saúde e sexualidade".

Mesmo com os novos cursos, o foco principal do trabalho de Agatha segue sendo o público feminino. "Parece que com a mulher a gente tem mais conexão. Quando elas procuram, já sabem a importância do trabalho, elas já vêm atrás de resolver os problemas que têm". A sexóloga e coach estima já ter atingido mais de 150 mil pessoas entre os cursos virtuais e as turmas de até 80 mulheres que atendia antes da pandemia.

Agatha defende que o orgasmo é um "tesouro que todas merecem ter", — mesmo que ainda não tenha lançado nenhum curso que ensine ao público masculino como performar as delícias do sexo oral nas mulheres. "Muitos homens até pediram, mas estamos analisando se vamos fazer. Já temos uma agenda de conteúdo bem grande que tenho que gravar".