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Após escândalos, culto na igreja de Gilmar Santos em Goiânia reúne 15 fiéis

Igreja Cristo para Todos, em culto na quinta-feira (24) - Amanda Costa/UOL
Igreja Cristo para Todos, em culto na quinta-feira (24)
Imagem: Amanda Costa/UOL

Mariana Felipe

Colaboração para o TAB, de Goiânia (GO)

25/03/2022 11h19

Na noite da última quinta-feira (24), na avenida T-9, uma das principais de Goiânia (GO), no bairro Jardim América, 15 fiéis se reuniram para o "Culto de Cura e Libertação" da igreja Assembleia de Deus Ministério Cristo para Todos, dirigida pelo pastor Gilmar Santos, acusado de estar envolvido em um esquema de repasse ilícito de recursos no MEC (Ministério da Educação).

O número de presentes, mesmo em uma quinta-feira, não corresponde à influência e ao alcance de Gilmar Santos, que há décadas reúne milhares de fiéis em seu templo na cidade, a sede da igreja. O religioso possui mais de 154 mil seguidores nas redes sociais.

Em seu Instagram, Santos se apresenta como pastor presidente do Ministério Cristo para Todos e da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil (CONIMADB), além de diretor do ITCT (Instituto Teológico Cristo para Todos) Teologia.

Ainda que seja uma das maiores organizações religiosas do Brasil, a Assembleia de Deus se fragmenta em diferentes convenções. As duas maiores são a CGADB (Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil), criada em 1930 pelo Ministério Belém, uma das principais vertentes; e a CONAMAD, Convenção Nacional das Assembleias de Deus Madureira, outra vertente. Ambas são pioneiras do movimento assembleiano no país.

A convenção da qual Gilmar Santos é presidente foi criada em 2002, e está cadastrada no mesmo endereço da igreja dirigida pelo pastor, em Goiânia. Em nota oficial, a CGADB afirmou que os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, que também foi citado nas denúncias, "não representam e não têm autorização para falar em nome" da organização.

Bancos vazios na igreja Cristo para Todos, em Goiânia (GO) - Amanda Costa/UOL - Amanda Costa/UOL
Bancos vazios na igreja Cristo para Todos, em Goiânia (GO)
Imagem: Amanda Costa/UOL

O culto de milagres

Gilmar Santos ganhou relevância no meio evangélico pentecostal durante os anos 1980, como um dos principais pregadores do "Gideões Missionários da Última Hora", congresso realizado em Balneário Camboriú (SC), considerado a maior "vitrine" de pregadores da Assembleia de Deus.

A competição para subir ao púlpito do "Gideões", geralmente assistido por centenas de milhares de pessoas, é grande. É de conhecimento geral que o pastor que alcança tal feito tem a agenda cheia pelos próximos anos. E Gilmar é um dos principais nomes do evento. Ele é conhecido pelas curas e milagres dispensados em suas pregações.

Em sua igreja em Goiânia, o culto dos milagres é realizado às quintas-feiras, com transmissão online pelo canal do pastor no YouTube, que tem mais de 40 mil seguidores. Mas, no templo, apenas 15 fiéis participavam da última celebração.

O pastor não estava presente e o culto durou 1h50. Um dos membros da igreja, que não quis se identificar, disse à reportagem que o templo estava vazio porque os encontros às quintas-feiras foram parados durante a pandemia e retornaram há pouco tempo. "As pessoas estão voltando agora. Venha no domingo, você vai ver que tudo está normal", disse ele. Antes da pandemia, a frequência às quintas-feiras de oração chegava a 300 pessoas.

O culto segue o rito comum das Assembleias de Deus: inicia-se com os hinos da Harpa Cristã e depois os presentes que assim desejam têm a oportunidade de cantar ou "dar uma palavra" bíblica. As ofertas e dízimos são coletados e, por fim, o pregador da noite traz a mensagem principal.

Igreja Cristo para Todos, em Goiânia (GO) - Amanda Costa/UOL - Amanda Costa/UOL
Fachada da igreja Cristo para Todos, em Goiânia (GO)
Imagem: Amanda Costa/UOL

Durante as oportunidades, os versículos citados faziam referência à perseguição da igreja cristã. A pastora que conduzia o culto narrou a passagem bíblica na qual Jesus afirmou que os que o seguem "serão odiados por todas as nações", uma passagem do livro de Mateus, 24:9.

Ela ressaltou que, a não ser a mão de Deus, "nada irá parar a igreja". O pregador, apresentado como presbítero Anderson, baseou-se no capítulo 12 do livro de Aos Romanos para falar sobre a importância de negarmos os desejos humanos e "deixar de fazer o que a carne pede" para alcançar a excelência espiritual.

Ao fim do culto, nenhum dos fiéis aceitou falar com a reportagem. Ao notarem a presença de jornalistas na igreja, reuniram-se em frente ao púlpito para orar. De mãos dadas, clamavam para que Deus expulsasse todo o "mal infiltrado". A pastora, que não quis se identificar, limitou-se a dizer que o posicionamento da igreja é o mesmo do pastor Gilmar Santos.

Às 21h20, com o término do culto, os presentes esperaram a reportagem sair do templo para fechar as portas.

Pastor Gilmar Santos acumula mais de 150 mil seguidores em suas redes sociais - Reprodução/Redes sociais - Reprodução/Redes sociais
Pastor Gilmar Santos acumula mais de 150 mil seguidores em suas redes sociais
Imagem: Reprodução/Redes sociais

A imprensa que persegue

Em comunicado oficial, o pastor Gilmar Santos afirmou serem falsas as notícias sobre sua participação como intermediador na liberação de verbas do MEC para prefeituras. Em áudio vazado e obtido pela Folha de S.Paulo, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, afirmava privilegiar os prefeitos amigos de Gilmar Santos, a pedido do presidente Jair Bolsonaro.

O pastor e seus amigos apoiadores têm tratado o caso como uma perseguição. No Facebook, ele compartilhou um vídeo do canal "Mundo Polarizado", que aponta que o áudio é fake e foi plantado pela esquerda para derrubar o presidente. Milton Ribeiro voltou atrás sobre a anuência de Bolsonaro, mas reconheceu a veracidade do áudio.

Nos comentários da publicação, os internautas apoiam o pastor e dizem que a imprensa é "podre" e "faz o trabalho do diabo".