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Demolição de prédio atrai curiosos e manifestantes à rua 25 de Março, em SP

Multidão em frente ao prédio incendiado e prestes a ser demolido nos arredores da rua 25 de Março, no centro de São Paulo - Lucas Veloso/UOL
Multidão em frente ao prédio incendiado e prestes a ser demolido nos arredores da rua 25 de Março, no centro de São Paulo
Imagem: Lucas Veloso/UOL

Lucas Veloso

Colaboração para o TAB, de São Paulo

17/07/2022 11h06

Depois de vencer a multidão num ponto da rua 25 de Março, um homem se aproxima, olha o movimento ao redor e observa curioso o que sobrou de um prédio de dez andares na rua Comendador Abdo Schahin, que pegou fogo durante dias no centro de São Paulo. Após uns segundos, ele chama a criança com quem caminhava, saca um celular azul do bolso e tira selfies com a menina, ela entretida com o que restou de um sorvete de casquinha.

Do outro lado da rua, na direção oposta, um homem diminui os passos assim que avista uma aglomeração. Também com um smartphone a postos, sem pestanejar levanta a câmera e grava ansioso os arredores do prédio, cuja demolição se iniciaria nesta manhã de sábado (16).

Enquanto o TAB esteve por lá, não foram poucos os transeuntes que pararam na agitada via para registrar o prédio incendiado. Famílias inteiras se organizavam para tirar uma foto com a construção ao fundo.

"Virou ponto turístico, né? É o dia todo assim", disse uma vendedora, enquanto uma senhora fazia uma selfie sorrindo.

"Fazem isso porque o prédio vai sumir e vira história, não é?", acrescentou outra ambulante.

'Vai desabar'

O fogo atingiu o edifício no domingo passado (10) e só foi apagado depois de 60 horas de trabalho dos Corpos de Bombeiros. Nos dias seguintes, alastrou-se certa comoção na 25 de Março pela demolição do prédio, prevista para começar às 8h deste sábado. A notícia atraiu curiosos em busca de uma visão privilegiada da estrutura caindo. "Na TV disseram que hoje isso daí vai cair, desabar", citou um dos visitantes.

Segundo a Prefeitura de São Paulo, uma equipe de técnicos municipais acompanharia o início dos trabalhos e a perícia da Polícia Científica. "A análise dos dados coletados nas vistorias apontou que a estrutura está estabilizada após o término do combate às chamas. Embora neste momento não exista mais risco de ruptura, sem sinais prévios, o risco de desabamentos pontuais permanece", dizia a nota.

Movimento ao redor do prédio que será demolido na 25 de Março - Lucas Veloso/UOL - Lucas Veloso/UOL
Em meio ao fluxo de pessoas na rua, celular apontando para o alto para registrar o que sobrou do prédio
Imagem: Lucas Veloso/UOL

Ao longo do dia, milhares de pessoas passaram de um lado ao outro diante do prédio, além de bicicletas e carros — o vaivém e a concentração fizeram o fluxo desacelerar no trecho. Uns já esperavam cenas espetaculares na operação que vai levar ao chão a estrutura de dez andares. "Tem aqueles vídeos da internet com bomba explodindo e caindo tudo, sabe? Pensei que ia ser isso, pelo que vi aí", comentou uma curiosa. "Achei que era explodir e já era".

Desta vez, ficaram a ver navios. Além da movimentação de repórteres e câmeras de TV, policiais e agentes da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), só um detalhe mudou no horizonte da rua: tapumes cinzas cercando o prédio, com o logo da empresa responsável pelo processo de demolição. "Achei que ia cair tudo logo e tal, mas só colocaram essas coisas na frente, e foi agora de tarde", apontou uma ambulante.

Movimento ao redor do prédio que será demolido na 25 de Março - Lucas Veloso/UOL - Lucas Veloso/UOL
Movimento ao redor do prédio que será demolido
Imagem: Lucas Veloso/UOL

A demolição pode demorar até três meses, segundo análises de especialistas da Siurb (Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras). O prédio deve receber telas do teto até o térreo para proteger quem passar no entorno de destroços e pedras, além de uma perícia da Polícia Civil e uma limpeza dos andares, que inclui retirada de mercadorias e de pedaços de concreto que ainda ficaram espalhados.

Movimento caiu

Quem chegou na 25 de Março de metrô neste sábado não escapou das frases de sempre: "blusa, parceiro?", "novinha, na faixa, hein: camisa original aqui, beleza?", "tabacaria, mano". Vendedores disputavam a atenção dos pedestres, cena corriqueira ali, mas a abordagem diminuiu, assim como o fluxo de clientes.

O prejuízo já é notado por comerciantes. Carol dos Santos, 21, trabalha há dois meses como ambulante em uma barraca de roupas perto do prédio atingido pelo fogo. Diz que, por dia, chega a vender R$ 2 mil em mercadorias, em média, entre camisas da Seleção Brasileira de futebol, cuecas e meias.

"Hoje foi abaixo [da média] mesmo", adiantou, sem dizer o valor exato, já que costuma fechar a conta só no fim do expediente. "Caiu uns 40% aqui, pelo que vi", estimou William Siqueira, 34, na sua barraca de cigarros e bebidas alcoólicas.

Movimento ao redor do prédio que será demolido na 25 de Março - Lucas Veloso/UOL - Lucas Veloso/UOL
'A gente quer a mercadoria que tá presa lá', diz Paulo Sérgio Mariano, cujo estoque ficava no prédio incendiado
Imagem: Lucas Veloso/UOL

'Mercadoria presa'

No decorrer do dia, houve manifestações isoladas e coletivas de comerciantes e trabalhadores da região reivindicando os produtos que teriam ficado intactos nos andares do prédio não atingidos pelo incêndio.

"A gente quer a mercadoria que tá presa lá", contou Paulo Sergio Mariano, na frente da faixa de interdição. "Ninguém do governo diz como vai ser, ou toma providência", acrescentou ele, que trabalha em uma empresa de eletrônicos cujo estoque ficava no prédio incendiado. "Estamos abandonados."

Alex Lee, 39, trabalha no comércio próximo da 25. Não foi vítima do incêndio, mas se tornou um dos apoiadores das manifestações promovidas por comerciantes chineses que reivindicam os itens intactos no prédio. "Vim para ajudar quem trabalha aqui."

Movimento ao redor do prédio que será demolido na 25 de Março - Lucas Veloso/UOL - Lucas Veloso/UOL
Início da demolição do prédio incendiado atraiu curiosos e manifestantes ao longo do dia
Imagem: Lucas Veloso/UOL

Acabou em forró

Por volta das 15h, o movimento na 25 de Março diminuiu. Comerciantes começaram a fechar as barracas e guardar as mercadorias, enquanto pedestres vão embora carregando compras e se desviando da multidão que persiste em frente ao prédio.

Nos extremos da rua, outros movimentos começaram a crescer: com o fim do expediente, trabalhadores foram dispensados das lojas e cercaram carrinhos e barracas de bebidas alcoólicas. Na Ladeira Porto Geral, um grupo ligou uma caixa de som com a música "Superação Digital", nas vozes de Xand Avião e Zé Vaqueiro.

Depois das 17h, a poucos metros do prédio, uma mulher parou na faixa de pedestres e, apesar dos carros, começou a dar passinhos como se estivesse em uma pista de dança. Casais que conversavam ali próximos se aproximaram e também começaram a dançar quando o refrão diz: "É stories sorrindo, stories bebendo / Stories dançando / E dorme chorando / E dorme chorando / E ainda acaba me ligando."