Arena caça-votos: Kim Kataguiri sobe em touro mecânico em Barretos

Após a pausa de dois anos, causada pela pandemia, a Festa do Peão de Barretos (SP) voltou a ser realizada. Desde a última quinta (18), a cidade voltou a ser invadida por uma multidão devidamente trajada, ávida por aproveitar a "farra, pinga e foguete" tradicionais no evento, o maior e mais tradicional rodeio do país. A expectativa dos organizadores é de que o Parque do Peão receba cerca de 900 mil visitantes até o encerramento, no próximo domingo (28).

Embora oficialmente os espectadores estejam focados em assistir às montarias, beber até cair e arrastar o pé no chão ao som das modas dos cantores sertanejos, ao longo desses dez dias, a campanha eleitoral já se faz sentir. E a aglomeração de centenas de milhares de pessoas em um mesmo local leva canditados à festa, a fim de interagirem com a galera de caubói e de peão. O mais aguardado é o presidente Jair Bolsonaro (PL). Sua visita ao Barretão está prevista para a próxima sexta (26).

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No sábado (20), seu filho Eduardo Bolsonaro esteve no evento e postou, em seus stories do Instagram, fotos da arquibancada e da arena lotadas (elas comportam, juntas, 50 mil espectadores), com a legenda: "De cada 10 pessoas aqui, 22 são Bolsonaro" — em um trocadilho com o número de seu pai.

'Bolsonaro sempre foi um democrata'

Se, em 2019, quando desfilou a cavalo pela arena projetada pelo comunista Oscar Niemeyer, Bolsonaro era unanimidade entre os participantes da festa, em 2022 seu nome passou a enfrentar resistência nesse meio que sempre o apoiou.

Mesmo ausente do Parque do Peão, o presidente acabou marcando presença na festa por meio do ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, que tenta se eleger deputado federal pelo PL. Ele foi chamado a fazer uma saudação ao público e aproveitou para exaltar o agro e o Brasil verde e amarelo. Assim que citou o nome de Bolsonaro, diversas pessoas nas arquibancadas se levantaram e aplaudiram. E outras vaiaram e xingaram alto.

Ao deixar a arena, Salles conversou com o TAB. Afirmou que a interação com o público foi excelente e disse duvidar das pesquisas que colocam o presidente atrás de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"Esses números não correspondem ao que vemos nas ruas, onde Bolsonaro é muito bem recebido, enquanto Lula precisa cancelar agendas para fugir de ser hostilizado", argumentou. Em relação às vaias, Salles opinou: "Democracia funciona assim. Cada um tem sua opinião. E o presidente Bolsonaro sempre foi um democrata, diferentemente das falsas narrativas que tentam colar nele."

Touro mecânico

Na segunda noite da festa, marcada pelos shows de Wesley Safadão, Jorge & Matheus e Pedro Sampaio na arena, era esperada a vinda do governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), que disputa a reeleição. A agenda acabou sendo desmarcada devido a um compromisso de campanha do tucano em São José do Rio Preto (SP).

O público, entretanto, não foi privado da companhia dos caça-votos. A Festa de Barretos não faz qualquer distinção quanto às orientações políticas e ideológicas de seus visitantes. Todo e qualquer político tem liberdade para ir ao local interagir com os presentes. Na prática, porém, é bem difícil encontrar candidatos de esquerda circulando pelo evento.

Os políticos do espectro que vai do centro à direita são mais recorrentes. Alguns até produzem materiais específicos para serem distribuídos na entrada do parque — caso do jornal de campanha do deputado federal Capitão Augusto e da candidata a estadual Dani Alonso (ambos do PL), que podia ser visto espalhado pelas arquibancadas, na noite de quinta-feira (18).

Na sexta (19), quando o público no parque era bem maior, Guto Zacarias e Cristiano Beraldo, do União Brasil, aproveitaram para entregar santinhos, cumprimentar pessoas, gravar vídeos e curtir a festa. Trajando chapéus de caubói, a dupla de candidatos a deputado que milita no Movimento Brasil Livre (MBL) circulou ao lado do deputado federal Kim Kataguiri.

No palco Amanhecer, a dupla Gian & Giovanni prestava tributo aos falecidos João Mineiro & e Marciano, diante de milhares de espectadores. A alguns metros dali, o trio do MBL resolveu encarar a "fúria" do touro mecânico. Questionado sobre quanto tempo suportou sobre o aparelho sem cair, Kataguiri sorri. No final, o cinegrafista crava que havia sido menos de dez segundos — o que já garantiria classificação no rodeio.

Segundo Kataguiri, os contatos feitos durante a festa foram positivos. "Por ser rodeio, imaginei que encontraria um perfil de público mais bolsonarista, que pudesse até querer nos hostilizar. Mas está tudo bem tranquilo. Sinto que as pessoas estão rejeitando os radicalismos de Bolsonaro e do PT", afirmou.

'Se ele subir no palanque, eu desço'

Todo trabalhado na indumentária de peão, o deputado federal Luis Miranda, que transferiu seu título do Distrito Federal para São Paulo, curtia a festa acompanhado de amigos e apoiadores. Ele se tornou famoso no YouTube com seu canal, que conta com mais de 630 mil inscritos e oferece dicas de como ganhar a vida nos Estados Unidos — e mais recentemente, por denunciar irregularidades na compra da vacina Covaxin na CPI da Covid.

Apesar de estar filiado ao Republicanos, partido que apoia Bolsonaro, Miranda não quer nem saber de proximidade com o presidente. "Se ele subir no palanque, eu desço", afirma o parlamentar, que é crítico da política econômica adotada pelo ministro Paulo Guedes. "Não tem como ficar ao lado de um governo que dolarizou os preços no país, deixando o povo morrer de fome", diz.

Entre o público da festa, a questão econômica parece ser decisiva para o aumento da rejeição de Bolsonaro. Thiago da Silva Santos, 27, é morador de Barretos e trabalha no evento pela primeira vez. Ao ser questionado sobre o presidente, afirmou: "Horrível. Os preços de todas as coisas subiram, principalmente o dos combustíveis".

A vendedora Valéria Valeska de Souza Silva, 30, veio de São Sebastião, no litoral paulista, até Barretos. Ficou emocionada com a apresentação feita por Andraus Araújo Lima (o Cuiabano, conhecido por ser apoiador fiel de Bolsonaro) na noite anterior, quando o locutor homenageou as vítimas da pandemia da covid-19. "A energia que o narrador passa é fantástica", diz. Ao ser informada que Bolsonaro visitará a festa no dia 26, reagiu com a exclamação: "Misericórdia!"

A amiga Daiara Gonzaga Faria, 35, também é contra o candidato do PL "Sou contra Bolsonaro e preferiria que ele não viesse. Mas, mesmo assim, vou continuar gostando do evento, que é maravilhoso", afirma.

Fiéis ao sincerão

Mas nem todos os fãs do rodeio abandonaram Bolsonaro. O universo dos peões continua a ser um núcleo duro importante de sua base eleitoral. Ao saber que o presidente visitará Barretos nos próximos dias, o empresário Marcos Batista, 35, festejou. "Estou até pensando em voltar na semana que vem", disse.

Seu colega Rodrigo Lopes, 35, empresário e morador de Osasco (SP), duvida das pesquisas que mostram Bolsonaro atrás de Lula na corrida presidencial. "Os atos de 7 de setembro vão mostrar a força dele", afirmou.

Kaio Nascimento da Silva, 27, acredita que a avaliação do governo federal é afetada pela época em que o capitão assumiu a presidência — período, segundo ele, "marcado por pandemia e guerra". "É a geopolítica inteira interferindo no desempenho dele", disse o enfermeiro, que vive em Barra Mansa (RJ) e declara voto em Bolsonaro por conta do estilo "sincerão" do candidato. "Ele diz o que pensa. O problema é que a verdade às vezes incomoda algumas pessoas."