Culto-campanha: Bolsonaro recebe oração e a benção de evangélicos no Rio
O esquema de segurança foi reforçado do lado de fora da ADVEC (Assembleia de Deus Vitória em Cristo), na noite de quinta-feira (15), para a chegada do Presidente da República. Policiais militares com fuzis, guardas de trânsito e uma equipe de funcionários da igreja faziam a revista das pessoas com detector de metais. Na porta da igreja, que fica no bairro da Penha, na zona norte do Rio, pessoas entregavam panfletos de candidatos e camelôs vendiam blusas e bandeiras estampadas com a foto de Bolsonaro (PL).
Por volta das 19h, entrar no templo era um desafio. O lugar estava abarrotado de homens, mulheres, idosos, jovens e crianças que foram prestigiar o culto de aniversário dos 64 anos do pastor Silas Malafaia, presidente da igreja e amigo íntimo de Bolsonaro. Além dos fiéis, o Governador do Rio, Cláudio Castro (PL) e o senador Romário (PL), candidatos à reeleição, também marcaram presença.
Tatiane Ferreira, 28, faz parte da ADVEC há cinco anos e sempre frequenta o "Culto da Vitória", como é chamada a programação às quintas-feiras. Para garantir um lugar para ela, a mãe e a filha, a confeiteira precisou chegar às 13h20. Em um dia normal, ela chegaria às 18h.
"Sou doida pra chegar perto do Bolsonaro, mas não tem como. Cheguei cedo para guardar lugar mas não adiantou nada, olha como está cheio", disse Tatiana, em conversa com o TAB, apontando em direção às pessoas que estavam em pé na sua frente, tampando a visão.
Na cadeira ao lado, louvando e dando glória a Deus enquanto o ministério de louvor cantava no altar, Damiana Mesquita, 59, chegou às 15h30 para acompanhar sua filha Tatiana e a neta Emanuelle, de 4 anos. "Meu pastor vale ouro, vim prestigiar. Tudo que ele lança, tem acontecido na minha vida. E claro, eu sou 22, oro pelo Bolsonaro e estou com ele. Valeu a pena chegar cedo aqui", disse a funcionária pública federal.
Enquanto entoavam louvores, seguranças andavam pelos corredores para garantir que tudo estava em ordem. Um carrinho de mercado com dezenas de máquinas de cartão estava estacionado em um dos cantos. Minutos depois, dezenas de funcionários seguravam duas máquinas cada um, além de diversos envelopes azuis para serem distribuídos na hora do ofertório.
'O bem vence o mal'
Bolsonaro foi convidado para discursar durante o culto e foi recebido com muita empolgação pelos fiéis. Houve aplausos, pessoas tirando foto, fazendo vídeo e gritos como "mito" e "o Senhor é contigo" foram ouvidos no templo.
Com tom sutil, usando uma jaqueta preta e sem Michelle Bolsonaro, o presidente fez um discurso breve, de cinco minutos. "Ao final do meu governo — vai ter um dia —, mesmo que o povo perca um pouco, nesse último dia de mandato, as pessoas vão ter a sua liberdade garantida. A bandeira do Brasil é um símbolo de todos nós. Nós resgatamos a nossa bandeira", disse o presidente. "Jamais será vermelha", gritou uma mulher enquanto ele discursava.
Entre as 10 mil pessoas, era possível ver uma ou outra de verde e amarelo, usando bandeiras do Brasil e blusas com o rosto do presidente estampado. No encerramento do discurso, Bolsonaro agradeceu a Deus pela sua segunda vida, em alusão ao atentado que sofreu em 2018, e pontuou temas que pautam os eleitores evangélicos:
"Aborto, drogas, propriedade privada e identidade de gênero são coisas muito valiosas e que custam muito caro para nós. Tenho certeza que esse país chamado Brasil continua sendo a terra prometida. O Brasil é a terra do Senhor", disse o presidente.
'Ele ainda não é evangélico'
Concentrada em todos os momentos do culto, a analista de contas Danubia Rafaela da Silva, 32, se batizou na ADVEC em 2018, mas saiu por causa da distância.
"Vim para ouvir a palavra de Deus e por causa dos três: pastor Silas, o pastor Cláudio Duarte, que é o pregador da noite, e claro, o presidente. Isso jamais foi visto. Um presidente vir na zona norte e causar todo esse alvoroço. É algo histórico. Muitos vieram mais pelo presidente, mas para nós que somos cristãos, adorar a Deus tem que estar em primeiro lugar", contou Danubia à reportagem.
De verde e amarelo no meio da multidão, Paulo de Jesus Júnior, 64, assistiu o culto com um adesivo colado no peito com a foto de Bolsonaro ao lado de Eduardo Pazuello, ex-ministro da saúde e atual candidato a deputado federal. O marceneiro frequenta a igreja há seis meses, não perde nenhum culto de quinta-feira e ficou feliz com a vinda do presidente.
"Glória a Deus pela vinda do Bolsonaro aqui, foi uma benção. Saio daqui preenchido com a glória de Deus. Achei importante orar pelo presidente. O homem de Deus sempre tem que estar calçado pelo reforço da oração. O que vem de Deus é sempre bom", disse o marceneiro à reportagem.
Além das pessoas de verde e amarelo, os jovens espalhados no templo também chamavam atenção, principalmente pelo engajamento. Muitos vibravam com as palavras e estavam empolgados com a presença de Bolsonaro. Gennifer Gabriele Aguiar, 25, era uma delas.
"O culto de hoje foi uma benção. De fato testificou para alguns membros que ainda tinham dúvidas em quem votar. Achei ótimo ele estar aqui e eu creio que em nome de Jesus ele vai se converter. A Michelle é, mas ele ainda não é evangélico, até porque se ele fosse, mudaria a forma de falar. Ele fala coisas que não são condizentes ao Evangelho. Antigamente eu não votaria nele, mas depois que entrei aqui na igreja, em maio, mudei minha visão", disse a técnica em administração à reportagem.
'Somos mais de 30%'
No momento final do culto, após receber homenagens de aniversário, Silas Malafaia foi ao altar e convidou para o púlpito o trio de candidatos: Bolsonaro, Castro e Romário. Durante um discurso fervoroso, ele falou em cristianismo, socialismo, citou o presidente que honra a Deus e a liberdade de imprensa, com a foto da bandeira do Brasil de fundo.
"Nós somos uma potência. Somos mais de 30%. Vão ter que nos engolir, sim. Vamos influenciar, sim", bradou Silas. "Aqui é cristianismo. Porcaria nenhuma de socialismo. Estamos aqui por causa de princípios e valores. Queremos um voto livre, uma imprensa livre, queremos liberdade. O povo de Deus quer liberdade", disse o pastor, enquanto fiéis gritavam "liberdade" durante o discurso.
"Quem honra a Deus, Deus honra. Pode levantar quem quiser levantar. Quem honra a Deus é maioria sempre. Não importa quem está do lado. Peço que as pessoas levantem a mão para orar pelas autoridades", disse Silas e, em seguida, pediu para que os fiéis repetissem as palavras.
Membro da igreja há 11 anos, Fernanda da Silva, 37, grávida de 7 meses, conta que se sentiu honrada com a presença de Bolsonaro no culto e não enxergou a iniciativa como campanha política.
"É honra de Deus para o meu pastor e para o povo brasileiro. Apoio a visão do presidente, mas as pessoas precisam entender que quando o povo de Deus ora é para abençoar a nação brasileira. O que está acontecendo aqui hoje, é pra abençoar a todos, principalmente quem segue essa visão. A visão do certo, do correto", afirmou a gestante.
Após a benção apostólica e a celebração dos fiéis, uma chuva de papel picado caía pela igreja, enquanto a multidão se dispersava.
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