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Candidatos fazem 'horário eleitoral gratuito' na avenida Paulista

Barraquinhas distribuem santinhos e adesivos de candidatos na avenida Paulista, em São Paulo - Carine Wallauer/UOL
Barraquinhas distribuem santinhos e adesivos de candidatos na avenida Paulista, em São Paulo Imagem: Carine Wallauer/UOL

Danila Moura

Colaboração para o TAB, de São Paulo

28/09/2022 04h01

Os estudantes Rodrigo Maia, 26, e Mariana Pereira, 23, pegaram o domingo (25) para caminhar na avenida Paulista, em São Paulo, em busca de um match. O casal queria escolher um candidato a deputado estadual para chamar de seu — e aproveitou o dia de campanhas agitadas por alto-falantes para conferir pretendentes que mereceriam seu voto.

Voltaram felizes para casa, pois conseguiram conversar ao vivo com candidatos e decidiram em quem votar (preferiram não revelar a identidade do escolhido). Assim como eles, quem passou pela avenida teve as mãos disputadas quase que à unha por entregadores de santinhos, adesivos e até tatuagens temporárias com fotos de candidatos a diversos cargos. Entre barraquinhas instaladas por políticos e uma série de palanques ribombando discursos, era nítida a tensão da contagem regressiva para as eleições que ocorrem no dia 2.

Domingo, dia de avenida aberta a pedestres e ciclistas, teve campanha animada num clima de feira livre, confusão entre MBL e PSOL, corrida de rua (#ElasMovemElas), carnaval pró-Lula — a muvuca era tanta que, quando passaram as marchinhas políticas dos Acadêmicos do Baixo Augusta, foram ofuscados os candidatos que tentavam vender no gogó o peixe de suas propostas, com caixas de som improvisadas.

Ao longo da avenida, estandartes e cartazes foram levantados destacando as mais diversas causas, como direitos LGBTQIA+, mulheres negras, legalização da maconha, liberalismo e privatizações. Era um tipo de "horário eleitoral gratuito" na rua.

Guto Zacarias (União Brasil), do MBL (Movimento Brasil Livre), fez até um tipo de desafio para o público, o que lembrava quadros de programas de auditório, com direito a equipe de filmagem: caso o candidato fosse convencido a votar em Guilherme Boulos (PSOL), por exemplo, o participante levaria um prêmio de R$ 1.000. Enquanto a reportagem esteve por lá, ninguém levou.

Augusto de Arruda Botelho (PSB), na avenida Paulista - Carine Wallauer/UOL - Carine Wallauer/UOL
Augusto de Arruda Botelho (PSB), candidato a deputado federal, na avenida Paulista
Imagem: Carine Wallauer/UOL

Dia de farra, fantasia e santinho

Passaram pela avenida artistas fantasiados de super-heróis e de urna eletrônica arco-íris, com pernas de pau. Candidatos de diferentes legendas também ocuparam a via — entre eles, o advogado Augusto de Arruda Botelho e a DJ Susy Seven, novatos do PSB que concorrem a deputado federal e estadual, respectivamente.

"A Paulista é um símbolo de São Paulo, está no meu coração", contou Susy, que escolheu a avenida para encerrar o último domingo de campanha com "muita música, muita farra". "Apesar de morar em Pirituba, frequento a avenida Paulista desde sempre. É o melhor lugar."

Susy Seven (PSB), na avenida Paulista - Carine Wallauer/UOL - Carine Wallauer/UOL
Susy Seven (PSB), candidata a deputada estadual, na avenida Paulista
Imagem: Carine Wallauer/UOL
Jacque Chanel (PT), na avenida Paulista - Carine Wallauer/UOL - Carine Wallauer/UOL
Jacque Chanel (PT), candidata a deputada federal, na avenida Paulista
Imagem: Carine Wallauer/UOL

Escolher a Paulista para buscar votos foi também uma opção para candidatos novatos que têm pouca verba e precisam alcançar grande público, destaca Jacque Chanel (PT), pastora da primeira igreja evangélica trans e artista drag queen. "Até tinha me preparado para fazer uma performance musical ao som de 'Brasil Brasileiro', mas não tive tempo", relata.

Rozana Barroso (PCdoB) e Sonia Guajajara (PSOL) também faziam campanha em busca de um primeiro mandato — a primeira para deputada estadual; a segunda, para federal. Assim como elas, o vereador Fernando Holiday (Novo) e o deputado federal Paulo Teixeira (PT) apostaram no corpo a corpo (Teixeira tenta a reeleição e Holiday disputa pela primeira vez o cargo de deputado federal).

Rozana Barroso (PCdoB), na avenida Paulista - Carine Wallauer/UOL - Carine Wallauer/UOL
Rozana Barroso (PCdoB), candidata a deputada estadual, na avenida Paulista
Imagem: Carine Wallauer/UOL
Sonia Guajajara (PSOL), na avenida Paulista - Carine Wallauer/UOL - Carine Wallauer/UOL
Sonia Guajajara (PSOL), candidata a deputada federal, na avenida Paulista
Imagem: Carine Wallauer/UOL

Ao longo do dia, Fernando Haddad (PT) e Marina Silva (Rede) também passaram por lá. Ele disputa o governo; ela, ex-senadora pelo Acre, concorre a deputada federal por São Paulo. "É importante que a diversidade das muitas realidades brasileiras exista na Câmara", destacou Marina, que conversou com a reportagem num cantinho da rua após sair da muvuca carnavalesca ao redor de Haddad.

O TAB conversou com diversos candidatos sobre preferências pessoais, um pingue-pongue de respostas rápidas ao estilo de programas de TV. Quase todos defenderam as urnas eletrônicas, exceto por Holiday — questionado sobre a preferência entre as urnas e o voto impresso, o vereador respondeu "os dois".

Fernando Holiday (Novo), na avenida Paulista - Carine Wallauer/UOL - Carine Wallauer/UOL
Fernando Holiday (Novo), candidato a deputado federal, na avenida Paulista
Imagem: Carine Wallauer/UOL
Paulo Teixeira (PT), na avenida Paulista - Carine Wallauer/UOL - Carine Wallauer/UOL
Paulo Teixeira (PT), candidato a deputado federal, na avenida Paulista
Imagem: Carine Wallauer/UOL

A pergunta "prefere pagar no dinheiro vivo ou cartão" rendeu risos e ironia dos candidatos entrevistados. "Não uso dinheiro vivo, hoje é uma raridade. Não sei como as pessoas conseguem comprar tantos imóveis com dinheiro vivo", disse Marina, referindo-se à reportagem do UOL que revelou que, desde a década de 1990, o clã Bolsonaro arrematou 107 imóveis, dos quais pelo menos 51 foram adquiridos total ou parcialmente com dinheiro vivo.

À tarde, quase no fim do período de avenida aberta, pintou um clima de torcida de futebol. Junto ao Movimento Gays de Direita, a deputada federal Carla Zambelli (PSL), que tenta a reeleição, foi hostilizada por militantes de esquerda. Um deles chegou a cuspir na direção da deputada, que respondeu fazendo corações com as mãos. Um integrante não identificado da campanha da parlamentar abaixou as calças e mostrou as nádegas para o TAB.

Marina Silva (Rede), na avenida Paulista - Carine Wallauer/UOL - Carine Wallauer/UOL
Marina Silva (Rede), candidata a deputada federal, na avenida Paulista
Imagem: Carine Wallauer/UOL