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Apuração gospel: Malafaia adia santa ceia e faz contagem de votos em culto

Silas Malafaia, no culto de domingo à noite (2) da Assembleia Vitória em Cristo - Daniele Dutra/UOL
Silas Malafaia, no culto de domingo à noite (2) da Assembleia Vitória em Cristo Imagem: Daniele Dutra/UOL

Daniele Dutra e Rodrigo Bertolotto

Do TAB, em São Paulo e no Rio

03/10/2022 00h08

O culto da celebração na Assembleia de Deus Vitória em Cristo na Penha, zona norte do Rio, foi mantido, mesmo em dia de eleição. Com apoio declarado à reeleição de Jair Bolsonaro (PL), o amigo íntimo e pastor-presidente da igreja, Silas Malafaia, fez a apuração dos votos com os fiéis, mas disse que o resultado das urnas não altera em nada o funcionamento do templo.

"Se Lula ou Bolsonaro ganhar, nada muda para a igreja. Igreja não vota, igreja não precisa de governante, igreja é Deus, é o Espírito Santo. Igreja não depende de governante, tem a ver comigo e com você. Eleição é cidadania. As portas do inferno não prevalecerão, nada impede o avanço da igreja", disse Malafaia durante o culto, na noite de domingo (2).

Há pouco mais de 15 dias, o presidente Jair Bolsonaro esteve no culto de comemoração de aniversário de Malafaia, ao lado de Cláudio Castro (PL) e Romário (PL), reeleito como governador do Rio e senador, respectivamente. Os três foram até ao altar para receber oração de Silas Malafaia e dos fiéis, que lotaram o templo para dar a benção aos candidatos. Neste domingo, mesmo com o culto mantido, Malafaia preferiu adiar a santa ceia para a próxima semana, prática que acontece religiosamente todo o primeiro domingo do mês.

Entre os louvores, as ministrações, o ofertório e a pregação, o tema eleições se fez presente durante todo o culto. Diáconos e diaconisas que trabalham na igreja usavam camisetas iguais, verde-amarelas, com a frase "somos um pelo Brasil". Entre os fiéis, alguns optaram por usar a camiseta da seleção; outros decidiram manter seu próprio estilo, mas usando as cores da bandeira. Uma mulher não se atentou às cores e foi ao culto de casaco vermelho.

"Nem lembrei desse detalhe. Como não tinha casaco de outra cor, acabei pegando esse, mesmo. Só me liguei quando cheguei aqui. Sou eleitora do Bolsonaro, não votei no PT, não", disse ela ao TAB — ela também usava batom e casaco vermelho, mas preferiu não se identificar.

No púlpito, Malafaia elogiou a presença massiva dos idosos e falou da demora na votação. "Levei 45 minutos para votar e antes nunca pegava nem fila. A menina que estava responsável pela zona eleitoral me disse que nunca viu uma quantidade tão grande de idosos indo votar. Acho isso lindo, as pessoas estão valorizando sua cidadania", disse o pastor.

Malafaia esclareceu, durante o culto da noite, uma oração que havia feito na parte da manhã. Ele dizia que, se houvesse fraude nas eleições, iria pedir a Deus para travar tudo. "Votar é comigo e com você, agora, manipular votos é com bandidos, hackers. Nossa arma é a oração. Não estou dizendo que tem fraude. Se não tiver, glória a Deus", tentou se esquivar Malafaia.

Raquel Guimarães, na igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo - Daniele Dutra/UOL - Daniele Dutra/UOL
Raquel Guimarães, na igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo
Imagem: Daniele Dutra/UOL

Apuração gospel

Eleitora de Bolsonaro, a engenheira de produção Raquel Guimarães, 27, decidiu usar um blazer verde, da cor da bandeira do Brasil, para ir ao culto. Membro da igreja, a jovem conta que ali estão todos confiantes na vitória de Bolsonaro, mas pensar na ideia da perda causa tensão.

"A esquerda vai contra os princípios dos evangélicos. Se o Lula ganhar, vejo isso como uma ameaça", disse a engenheira à reportagem.

Antes de encerrar o culto, por volta das 20h, Malafaia pegou um papel com a atualização das apurações das urnas, que tinha contabilizado 54% dos votos.

"Só de saber que a pesquisa eleitoral é uma mentira, eu já fico satisfeito. Bolsonaro está com 46% e Lula com 44%. Mesmo que Lula passe, não vai ser aquela diferença de 14, 14 pontos. Vão entrar desmoralizados no segundo turno. A pesquisa deu 50% a 36%, é só você lembrar. Tem que ter memória. Se o Bolsonaro chegar à frente do Lula, um abraço. Isso é cidadania, irmão", disse Malafaia, ao som de aplausos, glória a Deus e celebração dos evangélicos.

No final do discurso, antes de impetrar a bênção apostólica, ele disse: "Isso é só a 'rede Silas' dando informação para vocês", brincou o pastor.

Frequentadora da Vitória em Cristo há 38 anos, a diaconisa Regina Sena, 58, disse que ela e a igreja, de forma geral, querem a vitória de Bolsonaro, mas isso não é prioridade.

"Não estamos preocupados com a reeleição. A igreja vai avançar de qualquer forma. Se a vitória for para o Lula, tudo bem. Aqui nós oramos pelas autoridades, independentemente de qual for, a igreja vai continuar orando pelos governantes, é bíblico. Nossa prioridade vai ser sempre pedir a Deus para salvar vidas. A igreja está aqui para isso", disse a dona de casa ao TAB.

Acompanhada da amiga, a diaconisa Espedita Maria, 54, compartilha a opinião de Regina e conta que a igreja fez tudo o que estava ao alcance no período eleitoral.

"Independentemente de quem ganhar, vai ser a vontade do povo. Quem for eleito será orado do mesmo jeito. Já oramos muito e fizemos jejum por essas eleições a pedido da igreja e de todas as lideranças."

Espedita Maria (à esq.) e Regina Sena (à dir.) - Daniele Dutra/UOL - Daniele Dutra/UOL
Espedita Maria (à esq.) e Regina Sena (à dir.)
Imagem: Daniele Dutra/UOL

Em SP, foco era Legislativo

As sedes da Universal e da Assembleia de Deus Ministério Madureira estão frente a frente na avenida Celso Garcia, na zona leste de São Paulo. Por lá, no dia da eleição, o foco estava mais em eleger deputados ligados às igrejas do que orientar os fiéis sobre a votação para presidente.

Nos panfletos distribuídos nas calçadas próximas, os dos políticos do partido Republicanos, com fortes laços com a Igreja Universal do Reino de Deus, não tinham nenhuma referência a candidatos ao Executivo, mesmo sendo Tarcísio de Freitas, postulante ao governo paulista, do mesmo partido.

Nos "santinhos" dos candidatos da Assembleia de Deus apareciam as fotos, nomes e números de Jair Bolsonaro e Tarcísio. "Nada melhor do que estar na casa de Deus depois que um dia em que exercemos nossa cidadania", anunciou um dos pastores no culto de domingo à noite.

O esforço surtiu efeito. Os candidatos mais propagandeados nas cercanias do Templo de Salomão foram eleitos. Além de presidente nacional do Republicanos, o pastor e deputado federal Marcos Pereira se reelegeu para o Congresso Nacional. Edna Macedo, irmã do fundador da denominação, Edir Macedo, foi reconduzida à Assembleia Legislativa paulista.

Já a Assembleia de Deus local conseguiu eleger vários candidatos "de Madureira", ministério fundado no bairro carioca ao qual a sede do Brás é ligada. O pastor Cezinha de Madureira ganhou novo mandato na Câmara dos Deputados. Oseias de Madureira e Alex de Madureira foram escolhidos deputados estaduais.