Clube de tiro faz 'carreata da vitória' de Bolsonaro no interior de SP

Era para ser uma noite de festa para os eleitores de Jair Bolsonaro (PL) em Catanduva, no interior de São Paulo. Apesar de os principais institutos de pesquisas indicarem vantagem para o maior adversário, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os aliados do atual presidente estavam para lá de animados e programaram uma "carreata da vitória" para a noite deste domingo (2). No fim, porém, o clima de luto e perplexidade tomou conta de todos.

Uma semana antes do dia da votação, circulou no WhatsApp uma convocatória para o evento bolsonarista a partir de um grupo liderado pelo empresário Ricardo Rebelato, 45, proprietário de um clube de tiro na região e que também foi candidato do PP à Prefeitura de Catanduva, em 2020, com apoio de Bolsonaro, terminando em quarto lugar. Eles apostavam que Bolsonaro venceria já no primeiro turno.

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"Acreditamos na vitória de Bolsonaro e de Tarcísio [de Freitas, candidato ao governo de São Paulo pelo Republicanos]. E é por isso que por aqui tudo já está sendo organizado para a realização da Carreata da Vitória! Vamos fazer um movimento, com expectativa de 2 mil veículos, comemorando o resultado do primeiro turno nas Eleições de 2022", afirmava a mensagem.

Se o resultado da eleição dependesse apenas de Catanduva, Bolsonaro teria sido reeleito com folga. Dos 65.531 votos válidos registrados na cidade, 41.207 (62,88%) foram para Bolsonaro. Lula, que terminou o primeiro turno na liderança no Brasil, com mais de 48% dos votos, marcou apenas 28,87% na cidade paulista.

No dia da eleição, desde a hora em que as escolas foram abertas para receber os eleitores, as seções eleitorais de Catanduva foram tomadas por uma verdadeira maré amarela, com milhares de homens e mulheres trajando camisas da seleção brasileira, como modo a expressar seu apoio a Bolsonaro.

Não era de se estranhar, portanto, que os bolsonaristas da cidade demonstrassem confiança no resultado positivo do capitão. E o sentimento foi se transformando em empolgação, minutos depois de iniciada a apuração. Inicialmente, na primeira parcial, Lula chegou a marcar 51% dos votos válidos. Mas a vantagem sobre Bolsonaro logo caiu, até que o petista acabou sendo ultrapassado, permanecendo na segunda colocação por algumas horas.

Apesar da vantagem de seu candidato, os organizadores da carreata optaram por uma postura cautelosa. Embora o ato estivesse marcado para as 19h, eles decidiram aguardar a definição do resultado para iniciar a comemoração.

A virada

Por volta das 20h, quando Lula virou na apuração feita pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a confiança dos participantes da carreata deu lugar à perplexidade, e a alegria, a um clima de luto.

Àquela altura, o temor era de que a vitória no primeiro turno viesse, mas não com o protagonista desejado, e sim com o maior "inimigo" dos bolsonaristas retornando ao Palácio do Planalto. Desolados, poucos dos participantes (àquela altura, em torno de 40 pessoas) demonstraram disposição em conversar com o TAB.

"Não concordo com esse resultado. Na minha opinião — e estou falando por mim, apenas — essa situação cheira a fraude eleitoral. O modo como o outro candidato ultrapassou o presidente na votação foi muito estranho e repentino", disse Rebelato.

Na visão dele, os números trazidos pelas urnas não refletiriam aquilo que ele pôde observar nas ruas, ao longo da campanha. "Em Catanduva, por exemplo, o resultado foi mais sensato com o que pudemos observar, andando e conversando com as pessoas."

Diante da possibilidade de um segundo turno, que só acabaria sendo definida pouco antes das 22h, Rebelato e seu grupo procuravam manter um discurso otimista. O empresário acredita que as ausências de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) da disputa poderão favorecer Bolsonaro.

'Prêmio de consolação'

O ex-governador do Ceará tornou-se a grande esperança dos bolsonaristas para que o presidente seja capaz de reverter a diferença de quase 6 milhões de votos imposta por Lula no primeiro turno. "No segundo turno, a coisa muda de figura. Ciro já falou que existe o pior, Lula, e o menos pior, Bolsonaro. Então, são grandes as chances de o voto dele migrar para o presidente", avalia Rebelato.

Opinião parecida tem o empresário catanduvense Rodrigo Eduardo Kratutti, 45. Até o início da noite de domingo, ele estava animado com a possibilidade de Bolsonaro ser eleito já no primeiro turno.

"A gente tinha esperança, por toda a mobilização que vista nas ruas, nos últimos dias. Além disso, as pesquisas sempre erram", acredita. A dianteira de Bolsonaro na apuração chegou a animá-lo, embora ele já esperasse uma melhora na votação de Lula, na medida em que urnas do Nordeste passassem a ser apuradas.

"A expectativa agora é reverter essa situação no segundo turno", diz Kratutti. Suas esperanças, hoje, residem mais no eleitor de Ciro. Na opinião de dele, a postura do candidato do PDT já teria deixado brecha para a adesão de seus eleitores a Bolsonaro no segundo turno. "Lula já o traiu muitas vezes. A impressão é de que Ciro se cansou", afirma.

Para os bolsonaristas catanduvenses, o prêmio de consolação da noite foi o desempenho de Tarcísio, que disputará o governo estadual com Fernando Haddad (PT) no segundo turno — em Catanduva, cidade governada pelo PSDB, o candidato do Republicanos obteve 56,75% dos votos. Eleito senador, o astronauta Marcos Pontes conquistou 65,32% da preferência do eleitorado da cidade.