'Ele devia contribuir mais': para onde vão os eleitores de Ciro no 2º turno
Com mais de três milhões de votos, Ciro Gomes (PDT) terminou o primeiro turno das eleições presidenciais em quarto lugar. Ao lado de Simone Tebet (MDB), Ciro tentou se consolidar como um nome forte da "terceira via", mas amargou menos votos do que obteve em 2018 (mais de 13 milhões). Agora, em uma das disputas mais polarizadas da história democrática do Brasil, o eleitorado do político cearense também está dividido.
Em 4 de outubro, dois dias após o primeiro turno, o presidente do PDT, Carlos Lupi, anunciou apoio unânime do PDT a Lula para o segundo turno. Pouco tempo depois, Ciro postou um vídeo nas redes sociais endossando o apoio, mas sem citar o nome do petista.
Depois do vídeo, o pedetista cessou quase que totalmente suas atividades nas redes sociais. Nos canais do Telegram onde milhares de participantes se concentraram para receber material de campanha, a última publicação foi o vídeo de apoio.
Em contrapartida, Simone Tebet está em campanha ativa, tentando angariar votos para Lula, mas exigiu concordância com pontos de campanha. Entre eles está a aprovação de um projeto de lei pela igualdade salarial entre homens e mulheres. De acordo com pesquisa do Datafolha, 41% dos eleitores de Tebet devem votar em Lula.
'Devia contribuir mais'
Para os eleitores ouvidos pelo TAB, Ciro declarou um apoio tímido, mas era o esperado após meses de campanha cheios de ataques ao ex-presidente Lula nos debates e nas redes.
"Crítico, mas sem afagos", avaliou Wesley Rios, 41, professor de ensino médio na Bahia. Rios é um dos 40% dos eleitores de Ciro que pretende votar em Lula para o segundo turno, ainda que o petista não seja o candidato ideal para o docente.
Por conta do momento atual, o professor acredita que Ciro poderia ser mais participativo contra a candidatura de Bolsonaro. "Ele devia ser mais incisivo nesse apoio, diante da ameaça que Bolsonaro oferece à democracia", afirma. "Devia sim contribuir mais, mesmo sendo crítico ferrenho do Lula."
A biomédica Franciele Pasquini Dall'Aqua, 30, também sentiu que o apoio poderia ter sido mais significativo para o segundo turno. "Foi muito menos que ele podia fazer para apoiá-lo", conta. "Ele não disse precisamente que iria apoiar o Lula, mas não apoiando o Bolsonaro já está ótimo."
Dall'Aqua votou em Ciro em 2018 e repetiu o voto em 2022 por acreditar que o político era o nome mais preparado para governar o país "por seus ideais, a forma que se comportava em entrevistas".
O professor baiano também depositou seu voto no pedetista por causa do programa de governo e das propostas. "É o mais preparado, mais honesto e ama de fato o Brasil. Ciro se preparou a vida toda — preparo de verdade, estudando, pesquisando, debatendo — para ser presidente do Brasil", frisa.
'Opto pelo Bolsonaro'
O plano de governo divulgado pela campanha de Ciro também foi essencial para que Sérgio Emílio de Souza, 52, tenha optado pelo político em eleições anteriores. "Fala-se muito bem dele no Ceará, no investimento na educação do estado, embora eu não conheça profundamente", diz o servidor público. "Queria muito alguém que trouxesse uma situação econômica mais igualitária. A maioria tá embaixo com pouco, assim como eu. (...) São os bancos que deveriam pagar mais impostos. Eu ouvia muito o Ciro falando coisas a respeito disso."
A decisão de se manter neutro, em 2018, fez com que o servidor repetisse o voto a Ciro no primeiro turno. "Pareceu o candidato mais centrado e com propostas efetivas. Os outros mais se degladiaram e trocaram acusações", afirma.
O apoio declarado ao ex-presidente Lula decepcionou o servidor, que não ficou decepcionado sozinho. Segundo o Datafolha, cerca de 30% dos eleitores de Ciro pretendem votar em Bolsonaro no segundo turno. "Francamente, não tenho a menor afinidade com Lula. Votei nele em 2002, mas depois de tantos casos de corrupção decidi que nele eu não voto mais. Também não tenho afinidade com Bolsonaro devido às declarações, mas o Lula fica muito mais longe para construir o país que eu quero para os meus filhos."
Carta fora
Até para os eleitores que concordaram com o apoio declarado a Lula, as chances de Ciro ser um nome viável para 2026 ficaram mais remotas.
"Se ele tivesse observado de fora, seria o melhor nome para 2026. Mas, com os 3% desta eleição, é carta fora do baralho. Já deu pra ele, infelizmente", afirma Wesley Rios. "Pena que nunca foi bem compreendido e não conseguiu alcançar o coração do povo. Ciro é um nacionalista de verdade, a exemplo de Getúlio e Brizola."
De acordo com o docente baiano, Gomes se manteve firme nos princípios e valores que defendeu na campanha e não acredita que o político fez uma guinada conservadora para atrair o eleitorado bolsonarista. "Seu programa de governo não foi alterado uma vírgula sequer, flexibilizando para atrair os eleitores da direita. Este é o maior 'problema' do Ciro, a virtude. Não negocia princípios, valores. O que ele fez foi atacar o PT de forma exagerada, apostando no antipetismo."
Já o servidor público diz que pensará duas vezes em votar de novo em Ciro Gomes depois do apoio declarado a Lula. Todavia, reconhece a imprevisibilidade da política brasileira, que poderá mudar os ventos nos próximos quatro anos.
"Nada mais surpreende no política, haja vista a aliança do Alckmin e do Lula", afirma. "Não estou dizendo que não votaria em hipótese alguma. Não me arrependo dos votos que dei para o Ciro, mas não consigo apoiar alguém que se alie ao Lula."
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.