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'Divergentes': Lula une Marília Arraes e João Campos em ato no Recife

Ato de campanha de Marília Arraes (Solidariedade), candidata ao governo de Pernambuco, e Lula (PT), no Recife - Ricardo Labastier/UOL
Ato de campanha de Marília Arraes (Solidariedade), candidata ao governo de Pernambuco, e Lula (PT), no Recife
Imagem: Ricardo Labastier/UOL

Do TAB, no Recife

15/10/2022 04h01

"Juntem os divergentes para vencer os antagônicos". Com a mesma frase que usou para justificar sua união com Geraldo Alckmin (PSB) na chapa em que concorre à Presidência da República, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) definiu a reaproximação de Marília Arraes (Solidariedade) e João Campos (PSB), na sexta-feira (14), no Recife.

Primos e adversários políticos, eles expuseram abertamente uma rixa familiar que começou há oito anos, antes da morte do ex-governador Eduardo Campos (PSB), e se intensificou em 2020, quando disputaram a Prefeitura da capital pernambucana. Os dois se enfrentaram no segundo turno e João venceu a eleição com 56,27% dos votos válidos (447.913), ante 43,73% (348.126) de Marília.

"Pode ter acontecido uma briga, mas a relação deles é sanguínea. Eles têm o [mesmo] DNA", afirmava Lula, questionado por uma jornalista sobre a reconciliação. Marília e João se reencontraram por causa de um ato de campanha do ex-presidente e dela, candidata ao governo de Pernambuco.

Marília concorre pelo Solidariedade, partido ao qual se filiou em março deste ano. Antes, passou pelo PT e pelo PSB.

"Eu tô aqui porque preciso que ela ganhe e ela tá aqui porque precisa que eu ganhe. Se a gente conseguir reconstruir nesse estado a governança que eu e Eduardo Campos fizemos, Pernambuco vai ser muito melhor", afirmou Lula.

14.out.2022 | Marília Arraes (Solidariedade), Lula (PT), Humberto Costa (PT) e João Campos (PSB) no Recife - Ricardo Labastier/UOL - Ricardo Labastier/UOL
Marília, Lula, o senador Humberto Costa (PT) e o prefeito João Campos (PSB)
Imagem: Ricardo Labastier/UOL

'Teimosia'

Marília Arraes passou para o segundo turno em primeiro lugar, com 1.175.651 votos (23,97%). Agora ela disputa o cargo com Raquel Lyra (PSBD), que recebeu 1.009.556 (20,58%).

Embora tenha liderado todas as pesquisas de primeiro turno, a deputada federal agora está atrás nas pesquisas. Na última terça-feira (11), o Ipec mostrou que Raquel virou e tem 50% das intenções de votos válidos, enquanto Marília está com 42%.

O cenário é incerto, dizem pessoas próximas à neta do ex-governador Miguel Arraes. "A presença de Lula pode melhorar a situação dela", espera uma parlamentar do PT. Para outra fonte, porém, a candidatura de Marília foi "teimosia" e pode pôr em risco a hegemonia do campo de centro-esquerda à frente do estado.

Após a campanha para a Prefeitura, em 2020, Marília decidiu se lançar ao governo. A ideia do PT, no entanto, tê-la no Senado e manter o apoio ao PSB local. "Marília não quis ser senadora. Ela tinha um projeto de ir para o governo, e não quis abrir mão. Por isso saiu do PT", explica a entrevistada.

No primeiro turno de 2022, o PT apoiou Danilo Cabral (PSB) para governador. Agora, a sigla declarou voto em Marília.

14.out.2022 | Ato de campanha de Marília Arraes (Solidariedade) e Lula (PT) no Recife - Ricardo Labastier/UOL - Ricardo Labastier/UOL
Lula: 'Tô aqui porque preciso que ela ganhe e ela tá aqui porque precisa que eu ganhe'
Imagem: Ricardo Labastier/UOL

'Uma vírgula'

Marília Arraes e João Campos não se falaram diretamente nem posaram juntos para foto durante a entrevista coletiva - antes mesmo do fim da conversa, ela se levantou e saiu, para ir ao banheiro. Na mesa, os dois ficaram separados por Lula e pelo senador Humberto Costa (PT).

Antes da caminhada, porém, a candidata chegou a comentar o apoio do primo. Disse que "mesmo tão jovem, [ele] teve o discernimento a favor da democracia, a favor de um governo progressista". Segundo ela, as divergências entre eles "são muito menores do que o risco que corre nosso país", referindo-se ao posicionamento de ambos contra Jair Bolsonaro (PL).

A tentativa de conciliar os votos do ex-presidente com os da deputada federal parece ter mobilizado a militância petista no estado. Ao contrário do primeiro turno, quando a Justiça Eleitoral proibiu que Marília usasse referência a Lula na sua campanha - já que o apoio oficial do candidato do PT era ao PSB -, agora é possível ver bandeiras com os rostos dos dois espalhados pelo Recife. Marília se mantém vestida de vermelho, como fez desde o início da corrida eleitoral.

"Eu não conheço a adversária da Marília, não posso falar mal dela uma vírgula", afirmou Lula, se referindo a Raquel. "Mas sei que todas as pessoas ligadas ao Bolsonaro foram apoiar ela e não a Marília." Nas ruas do estado, entretanto, é frequente ouvir a associação "Luquel", entre eleitores que decidiram votar no candidato do PT à Presidência, junto à candidata do PSDB ao governo de Pernambuco. "Lula que desculpe, mas aqui é Luquel."

O clima do ato era de um Carnaval fora de época, incluindo a presença de bonecos de Olinda e de um dragão gigante do bloco Eu Acho É Pouco, um dos mais tradicionais de Pernambuco, entre a multidão.

Bem na reta final do trajeto, Lula fez novamente Marília Arraes se juntar a João Campos. Juntos, os três posaram de mão dadas para uma foto no carro que levou a dupla durante a caminhada.