Mausoléu e estátuas de bronze: cemitério de Pelé vai virar ponto turístico

Na encosta de uma montanha verde — uma reserva preservada da Mata Atlântica —, onde há pouquíssimo barulho além do taramelar das araras em um enorme viveiro, é ali que o Rei do Futebol vai descansar. O corpo de Pelé será sepultado na tarde de terça-feira (3) no Memorial Necrópole Ecumênica, um cemitério vertical em Santos, no litoral paulista, cercado pela natureza e envolto por uma estrutura especialmente criada para o ex-jogador.

Lá estão também o pai dele, João Nascimento, o jogador Dondinho, morto em 1996, e o irmão Jair, morto em 2020. O Memorial é um prédio de 14 andares que, visto de longe, parece um edifício normal. Ao se aproximar, é possível perceber as centenas de lóculos, espécies de gavetas, onde ficam os corpos. Em 1991, o cemitério foi incluído no Guinness Book, o Livro dos Recordes, como o mais alto do mundo.

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Pelé era amigo do dono do cemitério, Pepe Altstut, que morreu em 2021, e comprou há 19 anos um espaço no 9º andar do edifício. Apesar disso, será sepultado no térreo, em um mausoléu — uma sala exclusiva, com cerca de 300 m² e decoração especial.

A administração do cemitério guarda em segredo os detalhes de como será o mausoléu — apenas fala de um caixão dourado, reservado para ele há alguns anos. TAB apurou, no entanto, que o Memorial terá ainda cinco estátuas de bronze, de tamanho real, que reproduzem Pelé em cenas no campo. As peças de 130 quilos cada uma têm imagens dele pisando numa bola, de braços cruzados e comemorando o gol com seu clássico soco no ar. Elas chegaram ao cemitério há cerca de três meses e estão guardadas num depósito para serem posicionadas em breve.

O cemitério

Pelé será sepultado a 600 metros do estádio da Vila Belmiro, onde acontece o velório aberto na segunda-feira (2). Dos andares mais altos do cemitério é possível ver o campo onde Pelé foi a estrela maior. Mas, embora já haja torcedores e fãs no entorno da sede do Santos à espera do corpo do ex-jogador, o clima na porta do cemitério ainda é calmo.

"Daqui alguns dias, isso aqui vai ficar impossível. Vai ser muita gente, já imaginou?", dizia seu Antonio Zacarias Gonçalves, 64, que mora na vizinhança há 50 anos. Na tarde de sexta-feira (30), ele voltava do supermercado e comentava, admirado, a disposição das pessoas que, sob uma chuva fina e incessante, iniciavam a vigília.

"Tudo isso aqui respira futebol. Mas a morte de Pelé mexe mais ainda, são memórias, é o respeito que o pessoal tem por ele. Quem é de Santos, mesmo que não torça pelo Santos, admira Pelé", explicou. "Tem muita gente curiosa, muita gente quer acompanhar de perto o velório." Ele mesmo o fará. Na terça-feira, Gonçalves pretende ficar na porta de casa à espera do cortejo que trará o caixão do Rei do Futebol.

Sentada na calçada de casa, a duas quadras do cemitério, Wilka Pacheco, 60, contava que já desde quinta-feira a rotina da rua onde ela mora começou a mudar. A calmaria da região residencial deu lugar a uma movimentação atípica. "Muita gente passando por aqui. Muito carro de imprensa chegando", dizia, bem ao lado de um veículo com logomarca de uma rede de televisão. "Isso aqui vai ficar tomado de gente", emendava.

O sepultado de Pelé será restrito aos familiares e amigos. Apesar disso, o cemitério está sendo preparado para receber os fãs que ficarão do lado de fora. Enquanto visitava o Memorial, a reportagem viu funcionários de limpeza organizando o espaço em frente ao local, onde as pessoas poderão prestar suas homenagens ao ídolo.

Digno de um Rei

A expectativa é de que o mausoléu de Pelé vire um ponto turístico de Santos. "Nós concebemos um projeto para ter uma homenagem digna e refletir quem ele foi. É um projeto totalmente diferente, em nível mundial, com acessibilidade e logística pensadas para receber visitas do mundo inteiro", explica Evans Edelstein, CEO do Grupo Memorial Bom Pastor, responsável pelo cemitério. O projeto foi desenvolvido com aval do próprio Pelé.

Edelstein diz que o mausoléu de Pelé será "totalmente temático", com a história dele, e terá uma estrutura que, segundo o executivo, pode ser equiparada ao jazigo do cantor Elvis Presley em Graceland, sua mansão no Tennessee (EUA).

Ainda não há previsão para quando o túmulo de Pelé será aberto à visitação. Segundo Edelstein, essa decisão pertence à família do ex-jogador.