'Ofensa': creperia erótica tem pênis luminoso vetado em Balneário Camboriú

Quem passa rápido pela calçada estreita pode até não reparar na loja de crepes eróticos, vendidos em dois formatos: de pênis e de vulva. Com o sugestivo nome de "La Rolaria", o comércio recém-inaugurado fica entre as avenidas Brasil e Atlântica, a menos de uma quadra da badalada Praia Central de Balneário Camboriú (SC).

A loja, envidraçada e pequena, com um espaço de menos de 30 metros quadrados para os clientes, tem uma placa "18+" na entrada. E um luminoso em formato de pênis, feito com fita de LED, na parede. Acima dele, foi colocado um cartaz com a frase: "Qual seu tamanho?".

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O luminoso custou cerca de R$ 200 e foi feito por conta própria pela proprietária, a empreendedora Simone Gravine, 49. Primeiro, ela fez um molde e riscou a parede com giz. Depois, aplicou cola e foi dando forma ao pênis iluminado, ostentado na inauguração da loja, em 19 de janeiro. Cinco dias depois, duas fiscais da prefeitura chegaram até o local com uma intimação.

Moralidade pública

Segundo o documento, ou a empreendedora recolhia o pênis ou a loja seria interditada. Inicialmente, Simone manteve a fita de LED na parede, em outro formato, que lembra a letra "P" invertida ou um ponto de interrogação.

As fiscais alegaram que a prefeitura recebeu reclamações com diversas fotos do letreiro, feitas por transeuntes indignados. Na intimação, a qual o TAB teve acesso, a administração municipal exige a retirada do luminoso por ser "ofensivo à moralidade pública".

A ordem para a remoção baseou-se em três trechos de uma lei municipal de 1974.

'Resguardar o sossego'

A legislação diz que é "expressamente proibida" a colocação de anúncios "quando sejam escandalosos, em linguagem ou alegorias, ou contenham dizeres ofensivos à moral e aos bons costumes, bem como, quando façam referências desfavoráveis a indivíduos, instituições ou credos políticos e religiosos".

Outro trecho da lei diz que é proibido "usar, para fins de anúncios, por qualquer meio, expressões ou ditos injuriosos a autoridades ou ofensivos à moralidade pública, bem como a pessoas, entidades, partidos políticos ou cultos religiosos de qualquer natureza". A regra tem o objetivo de "prescrever os padrões morais, manter o bem-estar e resguardar o sossego e a segurança da coletividade em geral" e pode resultar em multa.

No momento da autuação, havia uma cliente na loja, a qual as fiscais esperaram sair para efetuar a intimação.

'Rola censurada'

"Fiquei um pouco incomodada porque é uma ideia, uma marca, é o que chama a atenção das pessoas. Eu falo que a loja não tem uma conotação sexual", argumenta a dona da fantástica loja de crepes. "Até sugeriram: 'Você pode colocar uma película escura no vidro' e eu respondi: 'Não, porque minha loja não é sex shop. As pessoas só comem e se divertem."

Após a saída dos agentes, ela grudou um cartaz no luminoso com os dizeres "Rola censurada" e uma carinha de triste do lado. No dia seguinte, enquanto Simone conversava com a reportagem do TAB, três fiscais passaram novamente em frente à loja e uma delas comentou: "Olha o que escreveram." As funcionárias da prefeitura, no entanto, não entraram no estabelecimento.

Dois dias depois, Simone recebeu nova intimação. Dessa vez, para retirar o cartaz por conter "dizeres ofensivos à moralidade pública", com base nos mesmos trechos de legislação da primeira notificação. "Eu ainda questionei. 'Se eu tirar a palavra 'rola', pode?' Ela disse que não, tinha que tirar tudo."

Resignada, Simone retirou o cartaz e transformou o luminoso em ponto de exclamação.

Na boca do povo

Desde a inauguração, a dona da La Rolaria percebeu o burburinho gerado em sua fachada. Em um domingo, três dias após a abertura, a calçada em frente à loja ficou lotada. "O pessoal parava ali na esquina e vinha aqui só para fazer foto. Pedia para entrar, fotografava e não consumia nada."

Além do letreiro e do cartaz, Simone achou por bem retirar um crepe que ficava à mostra no canto do balcão — e imitava o formato sugestivo do produto.

A unidade em Balneário Camboriú é a segunda da rede de crepes eróticos. A primeira, inaugurada em setembro do ano passado no centro de Florianópolis, distante das praias, não incomodou. "Uma vizinha que mora no apartamento em frente até fala que, quando abre a janela, vê a rola. E ela brinca, faz comentário no Instagram: 'Abro a janela e tenho essa vista."

Em Floripa, poucas pessoas manifestaram desconforto com a loja. "Aconteceu uma vez de umas meninas ligarem para a polícia para denunciar, e eles nem deram bola", conta Simone.

Investimento de R$ 25 mil

Em Balneário Camboriú, o investimento para abertura da loja foi de R$ 25 mil. Do total, R$ 12 mil foram para a compra de equipamentos, como liquidificador e máquinas para fazer crepes importadas. Outros R$ 8.000 foram destinados à aquisição da bancada e da geladeira. O aluguel do ponto é de R$ 5.000.

Atualmente, La Rolaria comercializa uma média de 80 crepes por dia, mas a intenção é aumentar as vendas com a extensão do período de atendimento. O espaço funciona das 16h às 21h, horário reduzido, diz a proprietária, pela dificuldade em contratar funcionários na cidade.

"Todo dia estou fazendo entrevistas, mas é bem difícil conseguir gente", lamenta Simone, que se inspirou em cafés e lojas de crepes parisienses em formato de pênis e vulva.

A Prefeitura de Balneário Camboriú confirma que o desmanche do luminoso e a retirada do cartaz seguem a legislação municipal. "A Fiscalização de Posturas informa que a Prefeitura fez as intimações de acordo com a Lei 300/1974 do código de posturas do município", diz a assessoria.