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Caos das chuvas deixa turistas incomunicáveis e isolados no litoral de SP

Taymara Sakamoto e o namorado Pedro Barsotti foram passar o Carnaval na Barra do Sahy, mas estão isolados - Arquivo pessoal
Taymara Sakamoto e o namorado Pedro Barsotti foram passar o Carnaval na Barra do Sahy, mas estão isolados Imagem: Arquivo pessoal

Do TAB, em São Paulo

20/02/2023 16h16

A autônoma Taymara Sakamoto, 29, foi passar o feriado de Carnaval em uma pousada de Barra do Sahy, no litoral norte de São Paulo, com o namorado, Pedro Barsotti, 30. A ideia de curtir a praia, no entanto, evaporou completamente depois das fortes chuvas que atingiram a região, a partir de sábado.

"Chegamos na sexta à noite e viemos para uma pousada mais perto da praia. O sábado foi tranquilo, mas começou a chover por volta das 18h. Aí não parou mais. Foram 12 horas seguidas", conta ela, que teve o quarto inundado pela água.

O casal está hospedado numa região privilegiada da cidade, onde a diária, neste período, custa cerca de R$ 1 mil.

"No domingo de manhã, quando a gente levantou e saiu do quarto, é que vimos o cenário de caos", lembra Sakamoto. "Eram casas alagadas e a praia completamente destruída, muitos deslizamentos, o mar todo vermelho de terra. Algumas casas de alto padrão, no entorno, caíram. Não sei dizer se tinha gente ou não. Em frente à praia, onde tem a Ilha das Couves, muitas pessoas precisaram ser resgatadas de jet ski."

Ela é uma das poucas pessoas que ainda consegue acesso à internet na região — a maioria está sem sinal de telefone e impossibilitado de comunicação. "O dono da pousada disse que o poste que abastece a energia aqui não foi atingido por nada. Ao contrário de um, que fica do outro lado da rua, que não funciona. Por enquanto ainda temos luz e wi-fi. Mas já começamos a racionar água, que vai acabar."

Com hospedagem prevista até a quarta-feira de Cinzas, ela não sabe se conseguirá voltar para a capital paulista antes ou se vai precisar ficar mais tempo na Barra do Sahy. "A orientação [das autoridades] é que a gente fique aqui. Tem muitos bloqueios. As rodovias estão fechadas."

Nesta segunda-feira (20), o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), pediu que quem estiver no litoral não tente voltar para São Paulo.

Imagem feita por Taymara Sakamoto da praia na Barra do Sahy, após as chuvas - Reprodução - Reprodução
Imagem feita por Taymara Sakamoto da praia na Barra do Sahy, após as chuvas
Imagem: Reprodução

Vizinhança assustada

A 10 km da Barra do Sahy, em Boiçucanga, a psiquiatra Edna Baccaro, 42, está isolada numa casa com mais seis pessoas — entre elas, o marido e dois filhos — desde a manhã de domingo. "Foi muita chuva. À noite, o muro da casa caiu e fechou a saída. Os vizinhos ajudaram a liberar, mas não temos para onde ir. Estamos presos, mas estamos bem", escreveu ela, por mensagem, o único meio de comunicação que ainda consegue acessar, mesmo com dificuldade.

Baccaro alugou a casa através de um site de hospedagem. O grupo pagou R$ 7 mil por seis dias. A casa, conta ela, tem jardim, piscina, quatro quartos e está próxima ao mar. A conversa da reportagem do TAB com ela e outros turistas que estão na região foi interrompida várias vezes por problemas no sinal de 4G e wi-fi.

Barra do Sahy e Boiçucanga são praias de São Sebastião, a cidade mais afetada pelas chuvas. De acordo com dados divulgados pelo governo do Estado, até a manhã desta segunda-feira (20), 36 pessoas haviam morrido na região.

Barra do Sahy, em São Sebastião, após as chuvas do final de semana - Reprodução - Reprodução
Barra do Sahy, em São Sebastião, após as chuvas do final de semana
Imagem: Reprodução

O subsecretário da Defesa Civil de São Paulo, major André Luiz Hannickel, disse que quase 2.500 pessoas tiveram de deixar suas casas. Ao todo, o órgão contabiliza 766 desabrigados e 1.730 desalojados. Há, ainda, pelo menos 40 desaparecidos.

Um deles é o garoto Eduardo Leonel, 11. A família dele busca notícias desde cedo. "Você pode me ajudar? Sabe de alguma coisa?", escrevia a atendente Julia Alyssa, 18, por mensagem de WhatsApp. Pelas redes sociais, ela e outros parentes têm publicado mensagens atrás de qualquer informação que possa dar pistas do paradeiro do menino.

De acordo com o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), das 11h do dia 18 até 11h do dia 19, São Sebatião registrou mais de 680mm de chuva. A previsão é que nesta terça-feira (21), volte a ocorrer temporais na região.