Caos das chuvas deixa turistas incomunicáveis e isolados no litoral de SP
A autônoma Taymara Sakamoto, 29, foi passar o feriado de Carnaval em uma pousada de Barra do Sahy, no litoral norte de São Paulo, com o namorado, Pedro Barsotti, 30. A ideia de curtir a praia, no entanto, evaporou completamente depois das fortes chuvas que atingiram a região, a partir de sábado.
"Chegamos na sexta à noite e viemos para uma pousada mais perto da praia. O sábado foi tranquilo, mas começou a chover por volta das 18h. Aí não parou mais. Foram 12 horas seguidas", conta ela, que teve o quarto inundado pela água.
O casal está hospedado numa região privilegiada da cidade, onde a diária, neste período, custa cerca de R$ 1 mil.
"No domingo de manhã, quando a gente levantou e saiu do quarto, é que vimos o cenário de caos", lembra Sakamoto. "Eram casas alagadas e a praia completamente destruída, muitos deslizamentos, o mar todo vermelho de terra. Algumas casas de alto padrão, no entorno, caíram. Não sei dizer se tinha gente ou não. Em frente à praia, onde tem a Ilha das Couves, muitas pessoas precisaram ser resgatadas de jet ski."
Ela é uma das poucas pessoas que ainda consegue acesso à internet na região — a maioria está sem sinal de telefone e impossibilitado de comunicação. "O dono da pousada disse que o poste que abastece a energia aqui não foi atingido por nada. Ao contrário de um, que fica do outro lado da rua, que não funciona. Por enquanto ainda temos luz e wi-fi. Mas já começamos a racionar água, que vai acabar."
Com hospedagem prevista até a quarta-feira de Cinzas, ela não sabe se conseguirá voltar para a capital paulista antes ou se vai precisar ficar mais tempo na Barra do Sahy. "A orientação [das autoridades] é que a gente fique aqui. Tem muitos bloqueios. As rodovias estão fechadas."
Nesta segunda-feira (20), o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), pediu que quem estiver no litoral não tente voltar para São Paulo.
Vizinhança assustada
A 10 km da Barra do Sahy, em Boiçucanga, a psiquiatra Edna Baccaro, 42, está isolada numa casa com mais seis pessoas — entre elas, o marido e dois filhos — desde a manhã de domingo. "Foi muita chuva. À noite, o muro da casa caiu e fechou a saída. Os vizinhos ajudaram a liberar, mas não temos para onde ir. Estamos presos, mas estamos bem", escreveu ela, por mensagem, o único meio de comunicação que ainda consegue acessar, mesmo com dificuldade.
Baccaro alugou a casa através de um site de hospedagem. O grupo pagou R$ 7 mil por seis dias. A casa, conta ela, tem jardim, piscina, quatro quartos e está próxima ao mar. A conversa da reportagem do TAB com ela e outros turistas que estão na região foi interrompida várias vezes por problemas no sinal de 4G e wi-fi.
Barra do Sahy e Boiçucanga são praias de São Sebastião, a cidade mais afetada pelas chuvas. De acordo com dados divulgados pelo governo do Estado, até a manhã desta segunda-feira (20), 36 pessoas haviam morrido na região.
O subsecretário da Defesa Civil de São Paulo, major André Luiz Hannickel, disse que quase 2.500 pessoas tiveram de deixar suas casas. Ao todo, o órgão contabiliza 766 desabrigados e 1.730 desalojados. Há, ainda, pelo menos 40 desaparecidos.
Um deles é o garoto Eduardo Leonel, 11. A família dele busca notícias desde cedo. "Você pode me ajudar? Sabe de alguma coisa?", escrevia a atendente Julia Alyssa, 18, por mensagem de WhatsApp. Pelas redes sociais, ela e outros parentes têm publicado mensagens atrás de qualquer informação que possa dar pistas do paradeiro do menino.
De acordo com o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), das 11h do dia 18 até 11h do dia 19, São Sebatião registrou mais de 680mm de chuva. A previsão é que nesta terça-feira (21), volte a ocorrer temporais na região.
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